12 de abr. de 2012

200) SUPERCALIFRAGILISTICOESPIALIDOSO

Os poucos, mas fieis leitores de meu blog já perceberam, com certeza, a prática que adoto de numerar sequencialmente cada texto que publico. O título de cada um é sempre precedido do numeral indicativo do lugar em que assume na série.

__ Por que faço isso?

Diria que é algo um tanto intuitivo. Poderia ser explicado pela característica organizada dos virginianos, como sou; pela minha formação profissional muito ligada a números ou até mesmo pela necessidade inata que certas pessoas, dentre as quais me incluo, têm de se imporem metas e aferirem o seu desempenho real.

Considerando que sou um tanto descrente quanto às interpretações metafísicas nas quais se insere a astrologia e que números e letras - queiramos ou não - permeiam a vida de todos nós de forma indistinta, principalmente a mim que gosto de escrever, fico com a terceira hipótese para justificar minha mania de numerar cronologicamente os textos, mesmo porque, faço-o de forma consciente para me cobrar comprometimento.

Sou um mero escrevinhador sem quaisquer pretensões além da mais humana de todas que é a de dar vazão, na forma de escrita, às inquietudes e avaliações que faço do tanto de vida que me rodeia como da minha própria. Muitos fazem o mesmo externando suas sensibilidades através das artes plásticas, da música, da dança e outras formas nobres de expressão. Para mim, a literatura é o veículo de meus sentimentos, por isso escrevo, mesmo que sem grande competência. Pouca coisa me dá maior satisfação do que uma folha, antes em branco, registrando depois de algum esforço intelectual uma idéia, uma opinião, uma análise, uma crítica, uma mágoa, um sentimento, uma alegria...

Quando comecei a escrever de forma mais organizada coloquei-me a meta de escrever 50 textos. Tão logo cumprido o desafio, estendi o compromisso para 100 e agora os 200 textos de hoje. Sei que tenho tempo para escrever muito mais, por isso, minha próxima meta será de 300. Sem metas, a vida fica meio frouxa. É provável - sem elas - que não consigamos terminar o curso já iniciado, que não façamos a viagem sonhada, que não sigamos a dieta necessária para perder alguns quilos e melhorar a nossa saúde e tantas outras coisas na vida.

Minha experiência é que, quanto mais fazemos algo de que gostamos, mais nos aprimoramos no mister. Se o amigo tem o dom da música e gosta disso, pratique o máximo de vezes que puder até que o seu domínio do instrumento ou da sua voz atinja o grau de excelência. Vale também para quem gosta de pintar, esculpir ou de produzir artesanalmente coisas que estimulam as habilidades humanas. E quantas não temos adormecidas ansiosas para terem a oportunidade de aflorarem? Isto dá prazer e gratifica-nos nesta nossa passagem terrena relâmpago.

Da minha prática de escrever tenho perseguido desenvolver uma fórmula que seja capaz de prender a atenção dos meus leitores de tal modo a conseguir fazê-los chegar até ao fim do texto. É forçoso reconhecer que vivemos em um mundo de muita informação e pouco tempo para que as pessoas se dediquem ao saudável hábito da leitura. Aprendi, contudo, que a curiosidade move a conduta humana e que um bom texto é aquele que já no seu título e nas suas primeiras linhas cria no leitor o interesse para prosseguir até o final no afã de que o enigma apresentado se revele por completo. É por isso que rimos de uma piada. Não tanto pela forma engenhosa em que foi montada, mas pela satisfação de cada um em tê-la compreendido. O riso, a gargalhada, neste caso, funciona como um autorreconhecimento da astúcia e inteligência do ouvinte.

A esta altura, espero, você meu amigo já deve estar incomodado com o que o título deste que é o meu ducentésimo texto tem a ver com isso. “Supercalifragilisticoespialidoso” pode responder a tudo como pode responder a nada. Busquei-a em duas fontes: Mary Poppins, no filme de Walt Disney de mesmo nome, em 1964, externa sua alegria extraordinária por ganhar uma corrida de cavalos. Indagada por jornalistas se não tinha palavras para descrever o seu sentimento naquele momento, sai-se com esta gostosa criação que pode significar coisas como espetacular, supra-sumo. Na versão cantada por Rita Pavone em 1965 - a segunda fonte - fica mais gostosa e faz mais sentido. Ouça clicando na seta do filme abaixo.

De qualquer forma, grato pelo prestigio a esses meus 200 textos e que entendam o meu sentimento manifestado nesta estranha, longa, curiosa, mas muito significativa palavra: “supercalifragilistcoespialidoso”.

Edson Pinto
Abril’2012





5 de abr. de 2012

199) LIGEIRAMENTE GRÁVIDA

Pessoalmente, ainda tenho duvidas se a economia brasileira está de fato em franca expansão. O consumo das famílias cresceu 10,5% em 2011 e estima-se nova elevação da ordem de 13,5% para 2012. Estamos no patamar do chamado pleno emprego, taxa que tecnicamente assegura que toda a força laboral da sociedade tem condições de encontrar trabalho, excluídos, obviamente, os desprovidos de qualificação adequada.

Nesta semana, tomamos conhecimento de que dezenas de milhares de estrangeiros estão sendo atraídos pelas oportunidades de encontrar ocupação profissional no Brasil. Brasileiros que migraram para outros países estão de volta, o que é muito bom sob vários aspectos. As reservas monetárias estão elevadas como nunca e a inflação depois de certo susto parece mais comportada.

Por outro lado, o pibinho roscofe de 2,7% de 2011 e o desmantelamento da Indústria nacional que já não consegue competir com os concorrentes estrangeiros devido ao elevado custo Brasil e à supervalorização do Real contradiz tudo o mais. E para desespero de todos nós, a carga tributária cresce no mesmo ritmo da roubalheira que os gatunos de todas as categorias fazem nos cofres públicos.

Fica, portanto, a questão que ainda não encontra resposta satisfatória. Estaríamos naquela situação ambígua e improvável de estar a nossa economia ligeiramente grávida, como na música dos roqueiros do Espírito da Coisa. “Mamãe eu acho que estou ligeiramente grávida/ Mamãe não fique pálida/ A coisa não é ruim/ Se lembre, um dia você já ficou assim...”

Na alegoria dos roqueiros a estrofe jocosa pode até encontrar uma aplicação bacana para os propósitos da canção, porém na economia assim como na maioria dos aspectos da vida isso não é possível. Ou se está de fato grávida, ou não. Esse meio termo não existe. A economia ou está sólida e crescente ou não está. Ou os bons indicadores são simplesmente reflexos de momentos peculiares que mais adiante não encontram sustentação ou a nossa percepção dos fatos está incompleta, defasada e, portanto, requer muito mais análises do que as tantas que têm sido feitas pelos economistas e políticos do País.

O lado bom da questão é que se, de fato, a economia estiver grávida ainda veremos, neste ano, o nascimento de um rebento saudável e muito desejado por todos nós que seria um PIB de verdade. O Brasil precisa disso por período de tempo longo o suficiente para que haja melhor distribuição de renda e para que a nova classe média se consolide não apenas com dinheiro no bolso, mas com nível educacional que lhe garanta enfrentar todas as situações adversas futuras.

Na semana passada tivemos a perda do grande humorista Chico Anysio. Que Deus o tenha! Os noticiários trouxeram retrospectiva da vida do grande artista, mas, por ironia do destino, ao nos mostrar o seu casamento com a ex-ministra Zélia Cardoso de Melo, reavivou-nos a memória da lambança em que o País se meteu quando da implantação do Plano Collor em 1990. Já faz 22 anos que aquela astúcia sem precedentes mexeu com a vida de todos nós e deu no que deu. Estávamos ligeiramente grávidos naquela época. Como não tinha nada gestado que valesse à pena parir o resultado foi o que todos que viveram na época devem se lembrar para nunca mais admitir a repetição do erro.

Edson Pinto
Abril’ 2012