25 de jun. de 2015

297) EFEITO BORBOLETA, OU O PORQUÊ DE VIVERMOS UM CAOS ECONÔMICO?

Todas as noites, exceto aos domingos, dentro do Jornal Nacional da Globo, William Bonner e sua parceira Renata Vasconcellos chamam ao telão a charmosa Maju, Maria Júlia Coutinho, para falar sobre o tempo. Com extrema simpatia e desenvoltura a bela moça reproduz de forma fácil e inteligível aquilo que os meteorologistas, em jargão cientifico e ao longo do dia, transmitiram a ela como fruto de suas complexas e ininterruptas investigações das condições climáticas do País. Saber o que o tempo nos reserva para os dias seguintes é tema do maior interesse para quem produz na agricultura, na indústria ou na construção civil. Importante também para quem vai sair de férias ou mesmo para quem tem que decidir se no dia próximo  sai de blusa, se leva o guarda-chuva ou vai de motocicleta, de ônibus ou carro...

Todos nós sabemos do alto grau de precisão das previsões para o dia seguinte ou mesmo para uns poucos dias mais à frente. Mas, já perceberam que nunca temos uma previsão confiável para períodos mais longos, como algumas semanas ou mesmo alguns meses, por exemplo? Sim, é verdade! E olha que é realmente muito difícil, diria até mesmo improvável, que isto seja alcançado mesmo quando levamos em conta o avanço dos computadores, as coletas de dados cada vez mais sofisticadas, os "big data" dessa área cientifica, bem como tudo o mais que os cientistas em geral, matemáticos e meteorologistas em especifico, podem hoje contar.  Portanto, previsão boa para o curto prazo, tudo bem... Para o longo prazo, nem pensar...

Embora historicamente já houvesse sinais de que algumas áreas do conhecimento humano são tão complexas que tornava impossível seguir os modelos objetivos da Física, esta uma ciência exata, só foi por volta de 1950 que o meteorologista e também matemático americano Edward Lorenz concebeu a sua chamada “Teoria do Caos”. Suas análises indicaram que minúsculas mudanças na atmosfera tinham o poder de gerar fortes alterações nas condições do tempo no porvir. Daí deriva a formulação alegórica de que um simples bater de asas de uma borboleta no Brasil pode levar a um ciclone no sul dos Estados Unidos, por exemplo.

Trazida essa ideia para o campo da Economia, temos que os formuladores das políticas em geral presumem que as pessoas agem racionalmente e que tudo segue o modelo físico de causa e efeito. Assim, dada uma ação espera-se por tal ou qual efeito. Os modelos teóricos da Economia, fortemente baseados nas leis de movimento da Física Newtoniana, indicam que a cada ação correspondem resultados previsíveis. Fosse isso verdade absoluta, poderíamos dizer que a Economia teria alto grau de previsibilidade.  Como, contudo, cada pessoa pode agir de forma infimamente diferente das outras, essas pequenas variações podem levar a resultados bastante diferentes dos previstos. Isso nos permite concluir que a Economia, tal qual a Meteorologia, é um campo do conhecimento bem caótico, mesmo quando consideramos que as pessoas em geral apresentam comportamentos assemelhados.

Vejam o que estamos vivendo neste momento no país: A maioria dos eleitores acreditou nas palavras da candidata que garantia, com juras até, que a economia caminhava muito bem. Bastaram pouquíssimos meses do segundo mandato para essa maioria que reconduzira a presidente viesse a descobrir que tal não era verdade. A economia, como se vê agora, está um caos, e o pior, infelizmente, ainda nos dá sinais de recrudescimento. Será mais desemprego; inflação acirrada; aumento do endividamento das pessoas e das empresas, bem como suas consequências sociais nefastas como o aumento da insegurança pública e outras mazelas.

Somente devido à imposição das circunstâncias, um ministro com perfil conservador foi colocado para ver se consegue dar um jeito no caos. Vem dizendo, já há meses, que todo o arrocho é necessário para por as finanças em ordem. Mas, curiosamente, esse arrocho parece só ser aplicado sobre o cidadão contribuinte que terá de pagar mais impostos; sobre o chefe de família e a dona de casa que terão elevadas as suas contas de luz, de água, escola e plano de saúde entre outras; sobre as empresas que pagarão mais impostos, também. Quase nenhuma pressão sobre os custos enormes da máquina estatal. Os 39 ministérios continuam os mesmos e os ajustes e benesses do funcionalismo público parecem intocáveis.

Como os indivíduos, cada qual com suas próprias circunstâncias, olham com desconfiança o que vem acontecendo, suas ações nunca serão uniformes a tal ponto para oferecer certa previsibilidade aos resultados da desesperada política econômica que o governo vem adotando. O temor maior, e plenamente explicado pela Teoria do Caos, é que essas borboletas que andam batendo asas na Praça dos Três Poderes, Esplanada dos Ministérios e adjacências possam provocar, mais à frente, uma tempestade de grandes proporções em todo o país. Nesse momento, não haverá guarda-chuva, bote de salvamento ou mesmo uma arca de Noé que pelo menos nos garanta uma forma de começar tudo de novo.

Estaria eu sendo muito pessimista?

Edson Pinto

Junho’2015 

11 de jun. de 2015

296) QUAL É O SEU TEMPERAMENTO?

(Fonte: The Psychology Book, Globo, 2012, vários colaboradores)

Gosto sempre de organizar meus pensamentos pela cronologia. Assim, imagino, as ideias encontram consistência e fica mais fácil fazer-se entendido. Considerem, portanto, esta sequencia de fatos históricos:

495 – 435 a.C. : Empédocles, filósofo grego, argumentou que as características dos até então considerados quatro elementos básicos da natureza (terra, ar, fogo e água) estavam na origem de todas as substâncias conhecidas. E quais eram essas características? Terra (fria e seca); ar (quente e úmido); fogo (quente e seco); água (fria e úmida).

460 – 370 a.C. : Hipócrates, também grego e considerado o pai da medicina, foi na cola de Empédocles e desenhou o seu modelo médico servindo-se das características dos mesmos  quatro elementos básicos. Propôs que elas se manifestavam no corpo humano na forma de fluídos corporais a que chamou de humores.

129 – 201 a.D. : Galeno, médico e filósofo romano, aplicou a teoria de Hipócrates que era basicamente corporal também para a personalidade. Ele não tinha dúvidas da correspondência direta entre a quantidade de humores que havia em cada pessoa com o seu temperamento.

Daí a teoria de Galeno:

As pessoas, dependendo da prevalência de determinado humor, podem ser classificadas em quatro tipos de temperamentos, cada qual com as suas próprias características: Vejam também a figura que ilustra este texto!

Sanguíneas, por terem muito sangue, são em geral, alegres, otimistas, confiantes, mas podem ser também egoístas;

Fleumáticas, apresentam excesso de fleuma, frieza e normalmente são quietas, tranquilas, racionais e coerentes, mas também podem ser lentas, tímidas e desinteressadas.

Coléricas, acumulam muita bílis amarela oriunda do fígado e por isso são impetuosas, enérgicas, apaixonadas, mas em contrapartida podem ser irritadiças.

Melancólicas, apresentam excesso da bile negra vinda do baço e se destacam pelas suas tendências poéticas e artísticas, mas isto lhes custa suportar as companhias nada agradáveis da tristeza e do medo.

Para Galeno, é da harmonia desses quatro humores que se obtém uma vida feliz. O fato de que um deles se sobressaia não preocupa, apenas determina a sua característica, ou seja, o temperamento da pessoa. Quando, contudo, isso se apresenta de forma excessiva é que reside o busilis, o xis da questão. Aqui de volta ao eterno “virtus in medium est”. A virtude está no meio, no equilíbrio, ou, nem tanto ao céu nem tanto à terra...

Não sou credenciado nem é minha intenção tratar das terapias que se desenvolveram para a busca do equilíbrio desses humores. O que sei é que na busca da paz e para que tenhamos uma vida mais saudável, o equilíbrio desses humores é condição “sine qua non”, mesmo porque – pelo que já se sabe – a teoria de Galeno mostrou-se posteriormente desprovida de base científica e portanto caiu em desuso.

Mas, mesmo fora de moda, temos que reconhecer que a teoria de Galeno continua sendo muito interessante para explicar os temperamentos que as pessoas em geral apresentam. Quem não conhece, ou mesmo se identifica como sendo, um colérico, um fleumático, um sanguíneo ou um melancólico? Estes temperamentos estão por toda parte, nas pessoas conhecidas, nas desconhecidas ou em nós mesmos.

Isso é bom, ruim ou não tem importância para o convívio social a que nos submetemos?

É sempre uma batalha inglória a tentativa de dar a um colérico, por exemplo, um pouco de fleuma ou transformar um melancólico em um tipo alegre e confiante como se encontra nos sanguíneos. O caminho mais correto para esse reequilíbrio - penso - deveria ser o autoconhecimento, pois é só com ele que podemos mudar nossa essência. Portanto, nos autoanalisemos. Temos o dom da inteligência e a prerrogativa do livre-arbítrio. Equilibrar nossos humores é algo que diz respeito a cada um e a mais ninguém.

Edson Pinto

Junho’2015