Não sei não, mas começo a pensar que o período de Copa do Mundo, ao contrário do propalado por muitos economistas, traz mais prejuízos aos negócios do que lucros. Porém, como tudo na vida é relativo, me sentiria melhor dizendo que alguns poucos setores da economia, de fato, se beneficiam do evento, enquanto a maioria fica a ver navios, ou mais apropriadamente, a ver jabulanis tresloucadas. Isto, evidentemente, corresponde ao enfoque do mundo sob o prisma da teoria econômica em que aspectos de produção, distribuição e consumo de bens são considerados. Do ponto de vista sociológico, contudo, aí sim, só vejo lucros...
Os produtores, embaladores e distribuidores de pipoca devem se enquadrar no bloco dos beneficiados economicamente. Sentados em frente à TV haja pipoca para atender à ansiedade dos torcedores que já se conscientizaram do mal que faz roer e comer as próprias unhas. Os restaurantes, os shoppings, os parques de diversões, o comércio em geral, entre outros, ficam, contudo, na ponta do prejuízo, pois todo o mundo está ávida e unicamente consumindo pipocas em algum sofá mundo afora. Claro, vende-se um pouco mais de aparelhos televisores, camisetas com as cores do país e até mesmo um instrumento plástico, corniforme, de barulho ensurdecedor chamado, na África, de vuvuzela. Porém, a máquina econômica emperra nos dias de jogos da seleção de cada país, mesmo naqueles que estejam, momentaneamente, sediando o evento.
Do meu particular ponto de vista e contrariando o que a imprensa vinha prognosticando antes do grande evento começar, vejo esta Copa da África do Sul como a mais marcante de todas as que já assisti. No aspecto econômico, como já disse, não tem nada de extraordinário. Refiro-me a outros aspectos da vida: Não é só por causa das ensurdecedoras vuvuzelas, das sobrenaturais jabulanis, como nos disse o craque Luis Fabiano, dos humores destemperados de técnicos de várias seleções, inclusive o da nossa, das inacreditáveis falhas dos juízes como a do gol da Inglaterra contra a Alemanha, não confirmado, na partida deste domingo pelas oitavas-de-final.
O que me parece marcante sobre todas as Copas anteriores é a nítida e generalizada capacidade aglutinante dos esportes em geral e do futebol em específico. Num país em desenvolvimento, como é o caso da África do Sul e como certamente também será o nosso em 2014, isso fica muito visível. É nos esportes que um país pobre como Gana, 150º PIB per capita do mundo, IDH de apenas 0,526, 152º do mundo, pode se sentir superior à maior de todas as potências, os Estados Unidos da América, e mandá-la de volta para casa antes do final da festa.
Da existência desse poder aglutinador e redentor do esporte todos nós já sabíamos, desde há muito. Os gregos, na plenitude de sua cultura clássica, felizmente recuperada na Renascença e da qual nos servimos até hoje, já haviam feito do esporte o meio mais adequado para promover o congraçamento e o lado social da vida. As Olimpíadas começaram no século VIII a.C. com este o propósito. Os esportes podem contribuir para o patriotismo de um povo além de propiciar saúde para os jovens, disciplina e espírito de equipe. Funciona ainda como lenitivo aos estresses da vida e é capaz de dar consistência à liga da massa do bolo formador de uma nação. A África do Sul de Mandela, mesmo perdendo dentro das quatro linhas, ganhou e continuará ganhando com a mobilização nacional que o futebol lhes propiciou nesta Copa.
Nós brasileiros, mesmo inconscientemente, temos nos beneficiado disso ao longo da nossa brilhante trajetória em Copas do Mundo. Talvez seja até por isso que temos essa enorme resistência em suportar reveses econômicos e deslizes políticos tão sérios ao longo dos últimos 50 anos. Desde que ganhamos a Copa de 58, vivemos espasmos de alegria e patriotismo revigorados cada vez que nossos craques entram em campo. O neurastênico Dunga deve ter consciência disso para levar tão a sério e de forma tão desequilibrada emocionalmente a participação do Brasil na Copa.
Ainda não ganhamos esta, mas nossas esperanças continuam renovadas. Hoje quando escrevo este texto só me assiste a esperança de uma boa partida, amanhã, contra o Chile. Considero o momento ideal para provarmos se estamos ou não, de fato, preparados para aspirar a mais um título. Se jogarmos bem, agora com o time completo, poderemos sonhar com uma final brasileira no próximo dia 11 de julho.
Claro que a economia, pelo que presumo, ficará prejudicada, mas, por outro lado, ficaremos mais felizes. E isso é o que, no fim, interessa, não é?
Edson Pinto
27/06/2010
Os produtores, embaladores e distribuidores de pipoca devem se enquadrar no bloco dos beneficiados economicamente. Sentados em frente à TV haja pipoca para atender à ansiedade dos torcedores que já se conscientizaram do mal que faz roer e comer as próprias unhas. Os restaurantes, os shoppings, os parques de diversões, o comércio em geral, entre outros, ficam, contudo, na ponta do prejuízo, pois todo o mundo está ávida e unicamente consumindo pipocas em algum sofá mundo afora. Claro, vende-se um pouco mais de aparelhos televisores, camisetas com as cores do país e até mesmo um instrumento plástico, corniforme, de barulho ensurdecedor chamado, na África, de vuvuzela. Porém, a máquina econômica emperra nos dias de jogos da seleção de cada país, mesmo naqueles que estejam, momentaneamente, sediando o evento.
Do meu particular ponto de vista e contrariando o que a imprensa vinha prognosticando antes do grande evento começar, vejo esta Copa da África do Sul como a mais marcante de todas as que já assisti. No aspecto econômico, como já disse, não tem nada de extraordinário. Refiro-me a outros aspectos da vida: Não é só por causa das ensurdecedoras vuvuzelas, das sobrenaturais jabulanis, como nos disse o craque Luis Fabiano, dos humores destemperados de técnicos de várias seleções, inclusive o da nossa, das inacreditáveis falhas dos juízes como a do gol da Inglaterra contra a Alemanha, não confirmado, na partida deste domingo pelas oitavas-de-final.
O que me parece marcante sobre todas as Copas anteriores é a nítida e generalizada capacidade aglutinante dos esportes em geral e do futebol em específico. Num país em desenvolvimento, como é o caso da África do Sul e como certamente também será o nosso em 2014, isso fica muito visível. É nos esportes que um país pobre como Gana, 150º PIB per capita do mundo, IDH de apenas 0,526, 152º do mundo, pode se sentir superior à maior de todas as potências, os Estados Unidos da América, e mandá-la de volta para casa antes do final da festa.
Da existência desse poder aglutinador e redentor do esporte todos nós já sabíamos, desde há muito. Os gregos, na plenitude de sua cultura clássica, felizmente recuperada na Renascença e da qual nos servimos até hoje, já haviam feito do esporte o meio mais adequado para promover o congraçamento e o lado social da vida. As Olimpíadas começaram no século VIII a.C. com este o propósito. Os esportes podem contribuir para o patriotismo de um povo além de propiciar saúde para os jovens, disciplina e espírito de equipe. Funciona ainda como lenitivo aos estresses da vida e é capaz de dar consistência à liga da massa do bolo formador de uma nação. A África do Sul de Mandela, mesmo perdendo dentro das quatro linhas, ganhou e continuará ganhando com a mobilização nacional que o futebol lhes propiciou nesta Copa.
Nós brasileiros, mesmo inconscientemente, temos nos beneficiado disso ao longo da nossa brilhante trajetória em Copas do Mundo. Talvez seja até por isso que temos essa enorme resistência em suportar reveses econômicos e deslizes políticos tão sérios ao longo dos últimos 50 anos. Desde que ganhamos a Copa de 58, vivemos espasmos de alegria e patriotismo revigorados cada vez que nossos craques entram em campo. O neurastênico Dunga deve ter consciência disso para levar tão a sério e de forma tão desequilibrada emocionalmente a participação do Brasil na Copa.
Ainda não ganhamos esta, mas nossas esperanças continuam renovadas. Hoje quando escrevo este texto só me assiste a esperança de uma boa partida, amanhã, contra o Chile. Considero o momento ideal para provarmos se estamos ou não, de fato, preparados para aspirar a mais um título. Se jogarmos bem, agora com o time completo, poderemos sonhar com uma final brasileira no próximo dia 11 de julho.
Claro que a economia, pelo que presumo, ficará prejudicada, mas, por outro lado, ficaremos mais felizes. E isso é o que, no fim, interessa, não é?
Edson Pinto
27/06/2010