27 de jun. de 2010

126) A BOLA NÃO PARA DE ROLAR




Não sei não, mas começo a pensar que o período de Copa do Mundo, ao contrário do propalado por muitos economistas, traz mais prejuízos aos negócios do que lucros. Porém, como tudo na vida é relativo, me sentiria melhor dizendo que alguns poucos setores da economia, de fato, se beneficiam do evento, enquanto a maioria fica a ver navios, ou mais apropriadamente, a ver jabulanis tresloucadas. Isto, evidentemente, corresponde ao enfoque do mundo sob o prisma da teoria econômica em que aspectos de produção, distribuição e consumo de bens são considerados. Do ponto de vista sociológico, contudo, aí sim, só vejo lucros...

Os produtores, embaladores e distribuidores de pipoca devem se enquadrar no bloco dos beneficiados economicamente. Sentados em frente à TV haja pipoca para atender à ansiedade dos torcedores que já se conscientizaram do mal que faz roer e comer as próprias unhas. Os restaurantes, os shoppings, os parques de diversões, o comércio em geral, entre outros, ficam, contudo, na ponta do prejuízo, pois todo o mundo está ávida e unicamente consumindo pipocas em algum sofá mundo afora. Claro, vende-se um pouco mais de aparelhos televisores, camisetas com as cores do país e até mesmo um instrumento plástico, corniforme, de barulho ensurdecedor chamado, na África, de vuvuzela. Porém, a máquina econômica emperra nos dias de jogos da seleção de cada país, mesmo naqueles que estejam, momentaneamente, sediando o evento.

Do meu particular ponto de vista e contrariando o que a imprensa vinha prognosticando antes do grande evento começar, vejo esta Copa da África do Sul como a mais marcante de todas as que já assisti. No aspecto econômico, como já disse, não tem nada de extraordinário. Refiro-me a outros aspectos da vida: Não é só por causa das ensurdecedoras vuvuzelas, das sobrenaturais jabulanis, como nos disse o craque Luis Fabiano, dos humores destemperados de técnicos de várias seleções, inclusive o da nossa, das inacreditáveis falhas dos juízes como a do gol da Inglaterra contra a Alemanha, não confirmado, na partida deste domingo pelas oitavas-de-final.

O que me parece marcante sobre todas as Copas anteriores é a nítida e generalizada capacidade aglutinante dos esportes em geral e do futebol em específico. Num país em desenvolvimento, como é o caso da África do Sul e como certamente também será o nosso em 2014, isso fica muito visível. É nos esportes que um país pobre como Gana, 150º PIB per capita do mundo, IDH de apenas 0,526, 152º do mundo, pode se sentir superior à maior de todas as potências, os Estados Unidos da América, e mandá-la de volta para casa antes do final da festa.

Da existência desse poder aglutinador e redentor do esporte todos nós já sabíamos, desde há muito. Os gregos, na plenitude de sua cultura clássica, felizmente recuperada na Renascença e da qual nos servimos até hoje, já haviam feito do esporte o meio mais adequado para promover o congraçamento e o lado social da vida. As Olimpíadas começaram no século VIII a.C. com este o propósito. Os esportes podem contribuir para o patriotismo de um povo além de propiciar saúde para os jovens, disciplina e espírito de equipe. Funciona ainda como lenitivo aos estresses da vida e é capaz de dar consistência à liga da massa do bolo formador de uma nação. A África do Sul de Mandela, mesmo perdendo dentro das quatro linhas, ganhou e continuará ganhando com a mobilização nacional que o futebol lhes propiciou nesta Copa.

Nós brasileiros, mesmo inconscientemente, temos nos beneficiado disso ao longo da nossa brilhante trajetória em Copas do Mundo. Talvez seja até por isso que temos essa enorme resistência em suportar reveses econômicos e deslizes políticos tão sérios ao longo dos últimos 50 anos. Desde que ganhamos a Copa de 58, vivemos espasmos de alegria e patriotismo revigorados cada vez que nossos craques entram em campo. O neurastênico Dunga deve ter consciência disso para levar tão a sério e de forma tão desequilibrada emocionalmente a participação do Brasil na Copa.

Ainda não ganhamos esta, mas nossas esperanças continuam renovadas. Hoje quando escrevo este texto só me assiste a esperança de uma boa partida, amanhã, contra o Chile. Considero o momento ideal para provarmos se estamos ou não, de fato, preparados para aspirar a mais um título. Se jogarmos bem, agora com o time completo, poderemos sonhar com uma final brasileira no próximo dia 11 de julho.

Claro que a economia, pelo que presumo, ficará prejudicada, mas, por outro lado, ficaremos mais felizes. E isso é o que, no fim, interessa, não é?

Edson Pinto
27/06/2010

20 de jun. de 2010

125) JABULANI DESMASCARADA


Estamos todos vivendo momentos muito interessantes da Copa do Mundo. E olha que nós os brasileiros já participamos de todas as 19 copas já ocorridas, incluindo esta, e mesmo assim nunca deixamos de nos emocionar com o evento. Somos os recordistas de participações, de vitórias, de conquistas de taças e de tudo o mais que se possa imaginar relativo ao futebol. Nesta 19ª versão do acontecimento esportivo mais popular do mundo, acabamos de dar, hoje, domingo, 20 de junho, mais uma prova da nossa superioridade ludopédica ao vencer a Costa do Marfim por 3 X 1 e com o “ombro de Dios” do nosso fabuloso Luis Fabiano.

O que ninguém sabia e eu vou lhes revelar, agora, é que, por trás dessa magnífica festa esportiva há conspirações e interesses tamanhos capazes de deixar estarrecidas as mais férteis mentes deste planeta. Tudo o que o filho de Krypton, o nosso super-homem Lula da Silva e seu partido, o PT, fizeram até então em matéria de traquinagens políticas não tem condições de superar o conluio secreto em curso nesta Copa da África do Sul:

Pois bem, contou-me um “bem-te-vi-do-bico-chato”, freqüentador assíduo do meu jardim, que as nações ainda mantenedoras do poder mundial, especialmente os Estados Unidos da América, incomodados com a exuberância do Brasil no cenário internacional e mais especificamente com o “protagonismo” indecifrável de Lula em temas vários, resolveu que o hexa nos tornaria insuportáveis. PIB crescendo a ritmo chinês, Copa do Mundo em 2014, Olimpíadas em 2016, Bolsa Família farta e generosa, acordo com o Irã, Lulão para o Corinthians, entre tantas outras proezas, tornariam o nosso presidente mais impávido e arrogante do que Nero, Adolf Hitler, Benito Mussolini, Id Amim Dada, Saddam Hussein, Ahmadinejad, Maradona, Datena e Dunga, juntos.

O Casal Kirchner é convocado à Casa Branca e Barack Obama confidencia-lhes o plano: __ A Argentina vai ganhar esta Copa. Com isso, murchamos a bola do Lula. Bico calado, Dona Cristina - falou Obama - o que vocês têm que fazer é apenas engolir a astúcia do seu técnico em desfilar pelado ao redor do obelisco da Avenida Nove de Julho em Buenos Aires. O resto, cuidamos nós, all right?

O plano executado pela CIA, após sigilosas reuniões com a Adidas, levou à introdução na jabulani, a bola oficial da Copa recém lançada, de um chip que em contato com satélites e orientado por GPS dava ao QG da famosa Agência de Espionagem, diretamente de Washington, condições de alterar a trajetória da bola quando julgasse conveniente. Todos nós percebemos que Luis Fabiano não tinha como errar aquele chute contra a Coréia do Norte e que, misteriosamente, subiu muito acima do travessão de Kim Myong-Won. Tal qual em um videogame, um agente da CIA, desde Washington e usando um joystick, mandou a bola para a estratosfera. Bolas lançadas sobre a área adversária faziam voltinhas marotas e iam, sem explicação plausível, para a linha de fundo. Por isso, aquele magro 2 X 1 sobre o time do ditador Kim Jong Il. Como o ditador norte-coreano é também odiado nos EUA e a partida ainda não comprometia o plano de se fazer a Argentina tricampeã, dizem, o agente da CIA não quis atrapalhar mais a nossa vida e nos deu aquele saborzinho, um tanto amargo, da vitória magra do primeiro jogo.

Mas nesta segunda partida, agora contra a Costa do Marfim, já seria diferente. Nada de condescendência. A jabulani iria ficar mais errática do que busca-pé em festa de São João. O joystick da CIA funcionaria plena e impiedosamente.

Acontece que Dunga, em mais uma de suas diatribes psicopáticas contra a imprensa brasileira e após mais um de seus treinos secretos, desconfia de jornalistas que não gostam dele - não se sabe por qual razão - teriam implantado um microfone secreto na bola do treino. Chegou a essa conclusão porque, não tendo desenvolvido nada de diferente no treino e não tendo a imprensa publicado nada, logo - concluiu furiosamente - deviam estar ouvindo tudo o que se passava ali no treino. Se nada falaram e nada, de fato, foi feito, logo, ouviram...

Dunga ao procurar na jabulani do treino o microfone de que suspeitava, acaba por descobrir o chip da CIA. Estarrecido, despe-se da arrogância que o levou a cumprimentar Lula com uma mão no bolso e liga para ele. Conta-lhe da suspeita e recebe instruções para ficar quieto e a promessa de que tudo se resolveria satisfatoriamente. Deu até para percebermos que na semana passada Dunga até ficou um pouco mais simpático, menos rabugento, olhar de superioridade e ego inflado dentro daquela gola rolê cinza e casaco do Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry.

O nosso super Lula entra em ação: Liga para o seu “já-quase-irmão” Ahmadinejad e pede ajuda. Este liga para Kim Jong Il, porque, é óbvio, o Irã não estava representado na Copa, mas a Coréia do Norte, sim. Quatro jogadores da Coréia do Norte desaparecem por alguns dias, lembram-se? Correu até o boato de que haviam desertado. Na verdade, estavam momentaneamente a serviço do plano Lula, como ficará claro mais adiante. No jogo de hoje, pouca gente percebeu, mas eu por ter sido informado pelo meu “bem-te-vi-do-bico-chato” observei e lhes conto: No exato momento quando as bandeiras do fair play da FIFA, do Brasil e da Costa do Marfim encobriram a jabulani, um dos agentes da Coréia do Norte, furtivamente, fez a troca da bola colocando uma sem o chip.

De Washington, a CIA, primeiro desconfia da traição do agente operador do joystick que àquela altura já estava se tornando fã do futebol de Luis Fabiano e de Lúcio. Substituíram-no, mas as bolas insistiam em irem à direção que os pés de ouro de nossos craques decidiam mandá-las. Trocaram o satélite, mas não adiantou, Brasil fez o segundo gol. Checaram o GPS, calibraram os cálculos infinitesimais e nada, Brasil fez o terceiro. Cristina Kirchner rodou a saia de baiana na casa rosada e nada... Obama lembrou-se de que tinha de tampar o poço do Golfo do México e saiu da sala onde acompanhava o jogo pela TV. Ahmadinejad liga para Lula e triangulando conversa com Kim Jong Il consegue de Lula, em retribuição, seu apoio à bomba atômica também da Coréia do Norte.

O Brasil ganha de 3 X 1 e o povo brasileiro, feliz como sempre sai às ruas orgulhoso do futebol de seus pupilos. Dunga, em inesperada catarse emocional, chora nos ombros de Galvão Bueno que não conseguia - apesar do clemente pedido de todo o mundo via Twitter - ficar de boca fechada. “Estamos sendo coerentes” é tudo o que Dunga conseguiu falar.

E agora? Lula briga com Obama por ter descoberto a conspiração ou continua fingindo que não sabe de nada e assim vai trocando as bolas e enganando o mundo até que consigamos, de fato, a conquista do Hexa no dia 11 de julho?

Aposto que Lula ficará com a segunda hipótese. Ele adora esse joginho de enganar, fingir que não sabe de nada e no final sair vencedor.

Edson Pinto
20/06/2010

13 de jun. de 2010

124) CORAGEM E LIBERDADE




“Primeiro, vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, calei-me. Depois, vieram buscar os judeus, mas, como eu não era judeu, não protestei. Em seguida, vieram buscar os sindicalistas, mas, como eu não era sindicalista, fingi não ver. Vieram também buscar os católicos e, como eu era protestante, permaneci omisso. Então, quando vieram buscar-me, já não restava ninguém para protestar.” (Martin Niemöller)Estamos vivendo a grande alegria quadrienal da Copa do Mundo de futebol. Lembro-me bem de pelo menos 13 das 18 já disputadas. Essa 19ª tem, contudo, especial razão para ficar gravada por muito tempo em nossas mentes. À parte a expectativa de todos nós brasileiros de que a nossa seleção canarinha reúna condições de nos dar alegria imensa com a conquista de um novo título, vale o extraordinário fato de que ela, a Copa, ocorre pela primeira vez no continente africano, bem na terra de Mandela.

Por que Nelson Rolihlahla Mandela, também conhecido na sua pátria pelo nome de Mandiba, é reverenciado não só pelo seu povo, mas por grande parte da humanidade? Mandela lutou e conseguiu vencer, ao preço do cerceamento de sua liberdade por quase 30 anos, o repugnante regime racista do apartheid. Os negros de sua pátria, a África do Sul, embora em esmagadora maioria populacional, viram-se, por décadas, discriminados dentre de sua própria terra pelos irmãos brancos que tudo dominavam.

Muitos exemplos de cerceamento de liberdades estão registrados na história da humanidade. Havia os povos escravizados no Egito, os povos que derrotados em guerras passavam à condição de escravos. As grandes descobertas dos séculos XV e XVI introduziram mundo afora a escravidão, principalmente dos negros africanos e mesmos dos nativos indígenas para servirem de mão de obra barata para as nações colonizadoras.

No Brasil, só ao crepúsculo do século XIX, conseguimos libertar nossos negros do julgo do senhor escravocrata. Quem tem mais de 50 anos ainda há de lembrar-se que os Estados Unidos, a grande pátria da liberdade e do progresso, discriminou seus negros até meados do século passado. Foi por isso que Martin Luther King deu a sua vida e tantos outros também o fizeram para que as injustiças fossem reparadas.

Da África, de quem, por sinal, herdamos boa parte de nossa cultura, dá para ver, tal qual vista em outras partes do mundo, inclusive aqui, que o preconceito racial, embora não mais tão arraigado, dá lugar a outro tipo de preconceito, o ideológico. O sentido da escravidão, ou seja, a sujeição do homem pelo homem para fins econômicos pode ser substituída pela submissão ideológica em que valores essenciais e o direito inalienável de expressão, infelizmente, ainda tendem a ser pautados por uma minoria mandona. Os tiranos e déspotas fazem com a imposição arrogante de suas ideias o papel que antes os senhores de engenhos faziam sobre os negros escravos que legalmente lhes pertenciam.

Não foi preciso carta de alforria como beneplácito dos mandões de olhos azuis da África do Sul para que aquele povo alegre e trabalhador ganhasse a liberdade. Mandela, mais do que o articulador maior do movimento antiapartheid simboliza para a sua pátria, a África do Sul, para toda a África negra como um todo e para os homens de bem de quaisquer partes do mundo o sentido pleno do que é ser livre. Ser livre é, pois, ser senhor de suas vontades e escravo, tão somente, de sua própria consciência, como nos disse Aristóteles.

Estaria o homem, paradoxalmente e de fato, condenado a ser livre?”

A vida é uma luta permanente e somos a cada momento forçados a tomar decisões. Temos o livre arbítrio e isto implica até mesmo em aceitar que muitos de nossos semelhantes se sintam mais confortáveis em seguir as ordens dos outros do que as geradas na sua própria consciência. Para muitos, infelizmente, isto parece mais fácil, pois dispensa o necessário esforço intelectual e o desgaste emocional inerente ao ato de discordar. Mas é escravidão...

Se quisermos ser livres, verdadeiramente, temos que participar. E participar implica em usar os nossos direitos de questionamentos na busca da verdade. Martin Niemöller que nos presenteou com a bela reflexão reproduzida na abertura deste texto tinha em comum com Mandela a consciência de que os “mandões”, falsos mestres, aqueles que querem decidir pelos outros de forma arrogante podem nos levar ao pior dos mundos. O Nazismo é prova disso. Interagir, questionar, não se omitir, manter-se alerta são as formas que nos levam à liberdade essencial. Trocar esta por algum grau de segurança efêmera não nos faz merecedores nem de uma nem de outra.

A vida é uma sequencia quase interminável de lutas. Saímos de uma e entramos em outra. Somos levados a tomar decisões, exercitar o nosso livre arbítrio se quisermos, é claro, a liberdade. Pessoas há, contudo, que preferem o conforto da passividade como forma de se evitar o extenuante e cansativo processo de tomada de decisões. Seguir ordens pode-lhes ser mais cômodo uma vez que exaure pouco de suas emoções e poupa-lhes do desgaste ao optarem por fazer tão somente o que lhes mandam. Se não der certo, basta dizer que estavam apenas fazendo o que lhes foi instruído fazer.

Mandela disse um rotundo “Não” quando lhe propuseram trocar a pena de prisão perpétua por uma liberdade condicional desde que não mais se manifestasse contra o regime do apartheid. Preferiu mais anos de cadeia até que as circunstâncias em evidências massacrantes fizessem por se impor ao estúpido cerceamento de liberdade de seu povo. Venceu, como vencerão sempre os que não abrem mão de seus direitos de participar em quaisquer temas da vida.

Embora no campo das técnicas futebolísticas pareça improvável que o nosso Parreira consiga levar a África do Sul ao título máximo do esporte bretão, fica, contudo, a certeza de que em termos de coragem e liberdade, Mandela, como símbolo de seu país, já é o grande campeão.

Edson Pinto
Junho’2010

5 de jun. de 2010

123) DURO NA PARADA


Felipão estava indignado com as notícias que a TV não parava de repercutir sobre a parada gay que aconteceria no final de semana. A Avenida Paulista com seus mais de dois quilômetros ficaria totalmente lotada por nada menos que três milhões de pessoas adeptas do movimento.

Foi doloroso para Felipão verificar no dia seguinte que o número de participantes da parada até superara as previsões iniciais. Um mar de frescor movimentou-se pela Avenida Paulista, desceu a Consolação, aboletou-se na Praça Roosevelt e se espalhou pela cidade de São Paulo como a água furiosa da represa de Cocal rompida lá no Piauí no ano passado, lembra-se?

Felipão se sentiu como um dos últimos homens sobre a face da terra, até que, tomado de sua convicta masculinidade, resolve contra-atacar, à altura: Forma, então, o movimento que denominou de “Parada do Orgulho Hétero”. O movimento visava à reunião de um número extremamente maior de “espadas” para demonstrar ao mundo que nem todos tinham debandado para o outro lado.

Mobilizou arduamente todas as suas forças e recursos para a grande parada que aconteceria no mesmo local, isto é, partindo da Av. Paulista, descendo a Consolação e, como imaginava, apoteoticamente transbordaria para toda a cidade. Não como a represa rompida do Piauí, mas como um tsunami que avançaria bairro a bairro a dizer: “Ei minha gente, nós somos mais numerosos e ainda mantemos o controle da situação!”

Na data e horário amplamente divulgados pela mídia, ao chegar na Av. Paulista, encontro meia dúzia de héteros aos quais me junto para tentar erguer o moral abatido de Felipão. Fomos em frente. Atravessamos a deserta Avenida, descemos a Consolação sem encontrar uma alma viva sequer e chegamos à Praça Roosevelt que se encontrava entregue a dois ou três cães vadios que reviravam uma lata de lixo.

Felipão pronuncia seu discurso magno. Reconhece a derrota e, ato contínuo, dá por encerrada a sua malograda marcha. Entre emocionado e desiludido aperta a mão de cada um de seus apoiadores e baixa à bandeira. Compadeço-me com ele e olho, minuciosamente, os rostos de cada um dos poucos que ali compareceram.

Desculpe-me, mas não me lembro de ter visto você. Será que já se tornou simpatizante da outra banda? Ah, já sei o que vai me responder engrossando a voz, é claro: “Não preciso disto para provar que sou “espada” ou, “priorizei assistir aos jogos da Copa do Mundo”... ah, ah, ah...


Edson Pinto
Junho’09