28 de jan. de 2007

4) E AGORA PITÁGORAS? (janeiro'07)



Pitágoras, o sábio e matemático da Grécia clássica, nos legou entre tantos ensinamen-tos, um que - desde que o aprendi, há várias décadas – nunca o esqueço. Diria, até mesmo, que o incorporei a forma pela qual vejo a vida como um todo, o cotidiano e mais especificamente as pessoas que me rodeiam.

“O Universo é uma harmonia de contrários”

Pare por um instante e reflita o quão Divino é a visão deste equilíbrio de coisas e até mesmo de pessoas diferentes. Fossemos todos iguais em temperamentos, e, certamente, o equilíbrio pitagórico estaria rompido. Por isso, os átomos têm partículas positivas e negativas que se equilibram em forças. No reino animal, há os ferozes e os pacíficos. A noite se reveza com o dia. Da mistura da água quente com a fria tomamos um banho agradável. São inúmeros os exemplos...

O que quero comentar aqui, a partir dessa ilação tão metafórica quanto metafísica, é que essa harmonia de contrários, embora aceitável e real, poderia se nos apresentar em um grau de intensidade menos chocante.

Claro que ricos e pobres convivem com certa harmonia, mas me arrisco a dizer que poderiam, ainda assim, se harmonizarem bem mais não fossem as diferenças tamanhas.

A inteligência que Deus deu à sua privilegiada criatura, nós, os humanos, dá-nos o poder de mantermos certo controle sobre as nossas tendências inatas, sobre o nosso histórico genético.

“Não te dei face, nem lugar que te seja próprio, nem dom algum que te faça particular, oh Adão, a fim de que tua face, teu lugar e teus dons, tu os desveles, conquistes e possuas por ti mesmo...”, como nos legou Picco della Mirandola em sua famosa Oratio de Homminis Dignitate.

Um é trabalhador e entende a vida como sendo uma batalha a ser vencida a cada dia com muita luta, sacrifício e um tanto de humildade para assumir pessoalmente tarefas que lhe beneficie.

Outros há que preferem cantar a trabalhar, como a cigarra da famosa fábula de La Fontaine. E o pior: Este, quando as necessidades se lhe apresentam, pleiteiam a divisão dos frutos do trabalho daqueles que labutam incondicionalmente. Aqui está não só a razão, mas ironicamente, ao mesmo tempo, o efeito da formação e do fim do Comunismo como sistema econômico em variadas sociedades ao longo da história da humanidade.


Atrás de um folgado tem sempre um sufocado


Isto é o que, infelizmente, podemos constatar nas relações humanas entre contrários, muito contrários... Essa máxima popular embora aparentemente contraponha-se àquela de Pitágoras que mencionei acima, na verdade somente aplaina a crueza do comodismo de muitos em detrimento da generosidade de seus circunstantes.

Olhe para alguns casais, para certas relações familiares, para ambientes de trabalho, para as classes de aula, para os grupos de trabalhos escolares, para as associações de qualquer natureza e lá encontrarão sempre um ou alguns assumindo toda a carga do trabalho a ser feito, enquanto outros só ficam ali de forma agregada tirando proveito e gozando dos frutos que o trabalho dos outros propicia ao grupo.

Quando um folgado se instala em uma relação, não há outro modo de se evitar que a outra parte se sufoque.

Em geral o sufocado é dotado de uma capacidade especial para servir de forma incondicional. Jesus fez isto. Os lideres em geral são sufocados por natureza... Os folgados, não raro, adotam a técnica de que não estão percebendo que o outro está levando sozinho toda a carga nos ombros, esfolando os joelhos e às vezes até mesmo a alma para que ele, folgado, fique orbitando “em harmonia” como se fosse uma condição universal. O pior é que o tempo passa e muitos desses equilíbrios injustos prevalecem pelo tempo afora.

Dada a evolução material e cultural da humanidade vejo que estamos chegando ao momento em que precisaremos reescrever a máxima de Pitágoras para trazê-la aos tempos modernos:

Ao invés de simplesmente aceitarmos que os contrários se harmonizem, será necessário incorporar algumas condições para tal, como exemplo, as seguintes expressões:

“Sem abuso”;
“Sem exagero”;
“Quando comprovadamente necessário”

ou, outros “termos” que estimulem a todos, indistintamente, a cooperarem mutuamente. Não podemos alimentar esperança em uma sociedade na qual alguns trabalham e outros, mesmo podendo, não o fazem.

A humanidade precisa, agora mais do que nunca, de pessoas que produzam, que tomem a iniciativa de agirem sem que outros as cobrem por isto. Já estamos suficientemente certos de que não há espaço para o ideal Socialista de que devemos dar a cada um de acordo com as suas necessidades sem que tenhamos certeza de que o beneficiário de tal concessão não poderia ele mesmo produzir para a sua própria satisfação.

Se o Socialismo e o Comunismo nesses termos sucumbiu, por que devemos manter a situação de indiscriminada redistribuição para os folgados que andam nos sufocando sem necessidade e somente por preguiça, por comodismo, por conveniência, por malandragem?

Meu querido Pitágoras, continuarei aceitando a harmonia celestial dos contrários e de todas as formas de corpos e mesmo de vida que não sejam dotadas de inteligência. Mas, se for inteligente, como é o caso do ser humano, aí redobrarei minha atenção.

Faça o mesmo, você também!!!

Edson P. Pinto
B. Hte. 28/1/07