29 de mai. de 2011

167) VIVA, AINDA BEM QUE LULA VOLTOU!


Sexta-feira, como de praxe, dedico a escrever o meu texto da semana. Queria, nesta última, sair um pouco dos ensaios filosóficos, dos poemas, dos contos e escrever algo sobre a realidade na forma de uma tradicional crônica. É na crônica que nos expressamos sobre as virtudes e mazelas da vida e colocamos nossos pontos de vista que são perceptíveis pela singularidade de nosso próprio modo de vê-la e senti-la. Tema para isso é o que não falta. E eu já guardava a idéia de fazer a análise pessoal do mais recente episódio do irrequieto ex-presidente Lula que, embora já com leves ameaças nesses infinitos, para ele, quase cinco meses de ostracismo, finalmente deu as caras para se mostrar quem, de fato, é. Logo pensei, exatamente, como o título desta minha crônica sugere: Viva, ainda bem que o Lula voltou!
Com justa razão, todos podem, precipitadamente, estar pensando, que este pirrônico observador do dia-a-dia sente saudades sinceras do ex-presidente, mas não é bem isto. É fato inconteste que o mais convencido de todos os dirigentes que este País já produziu em toda a sua história, pelo bem ou pelo mal, acaba sempre sendo de alguma utilidade. Por isso, pelo lado do bem que esta aparição nos traz, é que me rejubilo com a sua “reentré” grandiosa no palco das ilusões ainda não perdidas. A plateia é numerosa e assiste a tudo estupefata.
Esperei, de propósito, os jornais do final de semana, normalmente mais analíticos e variados em opiniões, para me certificar de que o meu ponto de vista poderia significar alguma maneira diferente de se ver o mesmo fato. Fosse igual aos já amplamente divulgados, minha contribuição para a análise do minestrone político/cultural brasileiro, verdadeiro sopão de bizarrices, espertezas, incompetências, vaidades e contra-senso não faria o menor sentido. O que encontrei, contudo, foram críticas felinas ao protagonismo do filho mais famoso de dona Lindu, como se fosse para ele e aproveitando de uma situação pontual, dar o recado de que o seu sonho imperial permanece vivo. É o que se chama popularmente de “marcar posição”. Li também severas críticas ao comportamento burocrático da presidente Dilma demonstrado no desprezo e na sua falta de habilidade para tratar assuntos políticos.
Estarreci-me com analistas que até poucas semanas faziam elogios ao estilo discreto e dedicado de Dilma (inclusive as pesquisas de popularidade da presidente também registraram alto índice de aprovação) agora dando ênfase ao seu despreparo para temas políticos sensíveis. Muitos se valeram da metáfora do poste para dizer que ela se fez presidente pela força dos Lula, do lulismo e não por si mesma. O episódio do reincidente Palocci e a perda da luta no Congresso pelo Código Florestal parecem, ao que dizem, ter sido a senha para Dilma gritar: Padrinho Lula, venha ao meu encalço!
Não há como negar que Dilma presidente é produto da ação direta de Lula. Este, no momento mais favorável de seu governo, aquele instante especial e raro em que planetas se alinham no maior espetáculo celeste, não por sua ação, mas por presente da natureza, foi fácil conquistar a populaça para dar o voto em que seu Rei mandou. Dilma, portanto, por mais infiel que pudesse ser teria sempre gratidão a prestar ao padrinho Lula. Chegar a presidente sem nunca ter tido um mandato político, sem nunca ter dirigido uma cidade ou um estado e sem nenhum precedente feminino no posto que almejou, foi - queiram ou não - uma façanha que somente um Lula em estado de graça teria perpetrado, sabe-se lá com que segundas intenções...
Para o bem de Dilma e para o bem do Brasil haveria de acontecer um momento de ruptura da sua simbiose com Lula. Quanto mais tempo demorasse a que isto acontecesse, pior para todos nós. Lula continuaria protagonizando com seu falta de limites e Dilma nada poderia fazer. Gratidão acima de tudo, lembrem-se? Mas, como um novo milionário da loteria que não consegue manter-se minimamente anônimo, Lula atravessou o Rubicão e deve ter ferido a dignidade da presidente. Esta é a minha hipótese mais plausível e desejável. Se não feriu, então, também ótimo, teríamos a demonstração cabal de seu despreparo, abrindo-nos as portas para o debate de 2014.
Acredito sinceramente que este episódio, pelo lado bom que o protagonismo de Lula nos propiciou, servirá de justificativa moral para que Dilma vá se desligando do seu criador. Ela é mulher de fibra, mineira de raiz, curtida nos percalços da vida e muito senhora de seu papel como maior dignatária do País. Não tem nada a perder se Lula ficar de beicinho para seu necessário “chega pra lá” deixando-a governar com seus próprios recursos. Afinal, ele mesmo, Lula, não diziam ao longo da campanha de 2010 que Dilma estava preparadíssima para o cargo?
Está aí, portanto, o meu ponto de vista: Se Dilma precisava de um forte motivo para se afastar de Lula, acabou de ganhá-lo de presente quando lhe faltam, ainda, mais de três e meio anos de mandato. Por isso, meu viva à volta de Lula!
Edson Pinto
Maio’2011

21 de mai. de 2011

166) BREVE ENSAIO SOBRE A ARROGÂNCIA


Vem do Latim o verbo “arrogare” que significa literalmente arrogar, tomar para si, apropriar-se de... Visto pelo seu lado negativo, o seu substantivo derivado mais famoso, “arrogância”, retrata um dos piores sentimentos humanos, pois se contrapõe a “humildade”, esta, condição mais do que recomendável para a harmonia entre os semelhantes. “É passageira a felicidade de todos esses que vês caminhar com arrogância” (Sêneca)
Hitler, Nero, Mussolini e tantos outros arrogantes assumidos constituem-se em exemplos de como certas pessoas se julgam superiores às outras a ponto de desdenharem de suas opiniões, de se recusarem a aprender com elas, pois já se consideram donos da verdade, e de se considerarem em nível superior aos mortais que os rodeiam. Desestabilizam o ambiente, espalham o ódio, causam sofrimentos e podem até aniquilar, literalmente, a espécie. “Toda arrogância é odiosa, mas a arrogância do talento e da eloqüência é uma das mais desagradáveis” (Cícero)
Há, ainda, os pequenos arrogantes que já treinaram seleções de futebol, que governaram o País, que foram ou ainda são chefes em escritórios, fábricas, lojas, órgãos públicos, que atuam na política ou mesmo que moram na porta ao lado, que ocupam a carteira escolar contigua ao de jovens educados e pacatos, que se servem da paixão futebolística para extravasar sua insensatez ou que vivem sob o mesmo teto. Eles podem ser encontrados homogeneamente espalhados por todos os lugares que se possa imaginar. O verdadeiro arrogante deixa o registro de sua presença: "L'État c'est moi", como dizia Luiz XIV, o absolutista e arrogante Rei-Sol, ou “como nunca antes na história deste País” como continua ainda dizendo alguém que bem conhecemos. Estes, como muitos outros, refletem o mesmo sentimento de superioridade, de vaidade, de orgulho, de soberba, de insolência. “Da arrogância nasce o ódio; da insolência, a arrogância” (Cícero)
Do ponto de vista da religião católica esse sentimento ruim pode ser vencido com a prática da humildade, sua antítese. Virtude esta que deve ser cultivada com base na decisão pessoal e consciente de quem se reconhece tomado pela soberba, pela arrogância. A oração é o caminho que conduz à virtude da humildade. E oração, pelo que se sabe, tem o poder de mudar a mente e o homem.
Do ponto de vista da sociedade e do desenvolvimento humano, somos, contudo, levados a um nó moral, a um dilema, pois, ao contrário do que se imagina, arrogância na dose certa, na hora precisa, na situação adequada e com as pessoas corretas pode até mesmo ter uma conotação positiva e producente. Sem exagero e bem posta, denota coragem para arrogar a si mesmo o direito de ter opinião própria, de incitar os pacatos a agirem, de ir em frente e fazer o barco navegar como é da sua essência.
O oposto, a humildade, sentimento nobre com o qual se abdica do orgulho pode levar a um extremo que é tão ruim quanto a arrogância, isto é, à submissão. A questão é que se o mundo fosse habitado só por humildes de carteirinha então seriamos devorados por ele. O mundo, convenhamos - humildade à parte - não tem a mínimo respeito para conosco. Há de se arrogar decisões que viabilizem o enfrentamento permitindo que a raça humana subsista e progrida.
Nas relações humanas há os arrogantes que levam ao ódio, mas há os que a simulam comedidamente para o bem de todos. Os néscios, os bondosos em excesso, os crédulos e simplórios como as velhas beatas tendem a ser devorados pelo mundo. Neste caso, afortunadamente, um arrogante por perto sempre ajuda. O falso humilde, no entanto, é tão perigoso quanto o arrogante do extremo oposto, pois enquanto este ainda pode conduzir o barco a algum destino, o outro, flana sem rumo e não contribui para o avanço. O segredo, como nos ensina a sabedoria milenar, está em encontrarmos o meio termo.
“Nunca seja arrogante com os humildes. Nunca seja humilde com os arrogantes” (Jefferson Davis)
Edson Pinto
Maio’2011

13 de mai. de 2011

165) DOMADORES DE GENTE


“Não te dei face, nem lugar que te seja próprio, nem dom algum que te faça particular, ó Adão, a fim de que tua face, teu lugar e teus dons, tu os desveles, conquistes e possuas por ti mesmo” (Picco della Mirandola)

Quem não tem em sua memória a lembrança de infância daquela tarde de domingo, no circo recém chegado ao bairro, quando um homem valente com um chicote em uma mão, banquinho de madeira na outra, confinado em uma jaula de grandes proporções, subjugava com maestria a fera que tinha à sua frente?

Podia ser um leão africano daqueles de juba esvoaçante, um tigre da Sibéria imponentemente rajado ou um urso pardo ainda maior. Tiradas as raras fatalidades e barbeiragens da profissão, em geral a psicologia do domador, a sua coragem e o seu senso aguçado para com as reações do animal, resulta em uma demonstração de que é possível, sim, manter as feras sob certo controle. O final arrepiante, porém feliz, é quando a supremacia do domador lhe permite enfiar parte da cabeça dentro da boca da fera sem sofrer um único arranhão. Valia, como ainda vale, cada centavo do preço pago pelo ingresso...

As feras não são obras do Criador colocadas neste mundo para se submeterem a um chicotinho e a um banquinho quaisquer. Na hierarquia dos animais, a relação ecológica que se estabelece entre eles é a da predação, instinto de sobrevivência em que uns se alimentam dos outros. Não dá para ser bonzinho ou deixar-se enganar por outra espécie com mesuras e outros artifícios sem se pagar com a própria vida a ousadia do descuido. Por isso, um leão, um tigre ou um urso em seu habitat natural ou mesmo dentro de uma grande jaula, só pensa em se defender ou mesmo eliminar o que se lhe apresenta como ameaça. Mas o homem, esta criatura especial de Deus, tem lá seus truquezinhos para fazer-se superior às outras espécies. Às vezes se dá mal, é verdade, mas, em geral, consegue domá-las.

“Leis por mim estabelecidas definem a natureza de outras espécies, mas tu, a que nenhum confim delimita, por teu próprio arbítrio, entre as mãos daquele que te colocou, tu te defines a ti mesmo”

Dentro da nossa própria espécie, em que pese a força da teoria de igualdade entre os seres humanos, temos papéis que não raro se assemelham aos dos domadores e de suas feras. Por razões genéticas ou mesmo resultante de má educação - só pode ser - existem pessoas que agem como se fosse feras de circo. Deixadas livres causariam grande alvoroço na platéia e quem sabe até mesmo engoliriam algumas criançinhas desprotegidas. Felizmente, sem que seja da percepção geral existem os domadores de gente. Talvez não precisem de um chicotinho ou de um banquinho para colocarem suas feras em estado mais amigável. Mas, tal qual o domador de circo, com absoluta certeza, utilizam-se da psicologia para obter o seu intento.

Olhem ao seu redor e veja quantas pessoas você não conhece que precisam ou já que já têm um domador a lhes controlar. É um desastre social quando ”pessoas-feras” são deixadas livres na interação com seus semelhantes. Ou logo afastam de si os possíveis amigos ou convivem às turras com eles e com o mundo. No trabalho, na escola (lembram-se dos casos de bullying?), na turma do bairro, no clube, no condomínio em que se mora, no estádio de futebol, nos centros comerciais e mesmo dentro das próprias casas há - não raro - um leão de juba grande, um tigre siberiano ou um urso pardo pronto para devorar seus circunstantes. Podem ter passado pelas melhores escolas, dominado as melhores tecnologias, convivido com pessoas do maior equilíbrio, mas mesmo assim continuam feras, não conseguem se sociabilizar, pois têm o instinto da predação. São defensivas, preconceituosas, arrogantes e não conseguem escutar o que os outros têm a dizer. Só o seu ponto de vista há de prevalecer. Se contrariadas agem como se estivessem em ameaça e o ataque lhes é considerada a melhor defesa.

Como Deus nos fez diferentes, de propósito, deu-nos, assim, a oportunidade de que entre a nossa espécie surjam aqueles que desempenham o papel de domadores de gente. Sem eles a vida ficaria muito difícil e jamais teríamos chegado aonde chegamos. Chamem-nos de líderes, condutores, guias, pessoas equilibradas, pessoas de bom senso, bons escutadores, bons amigos...

“Pus-te no mundo, a fim de eu possas melhor contemplar o que contém o mundo. Não te fiz celeste ou terrestre, mortal ou imortal, a fim de que tu mesmo, livremente, à maneira de um bom pintor ou de um hábil escultor, descubras tua própria forma” (Oratio de homminis dignitate por Picco della Mirandola)

Edson Pinto
Maio 2011

6 de mai. de 2011

164) AGONIZOU NO PASSEIO PÚBLICO




__ Fernando, quanto você vai me cobrar para pintar este corredor externo daqui de casa?

__ Olha sô Edson - pensando e coçando a cabeça ao mesmo tempo - vou fazer isso pro senhor por R$5.000,00. Tá bom?

__ Você tá louco Fernando? Este pequeno trabalho não vale mais do que R$300,00.

__ Tá bom sô Edson, o senhor é quem manda, quer que eu comece agora?

Assim era o Fernando. Não tinha a menor noção de preço. Não conhecia as letras nem conta fazia direito, mas tinha uma disposição para o trabalho como nenhum outro dos muitos prestadores de serviços que conhecemos quando vimos morar neste novo bairro. Por seis anos, foi o Fernando que pintou a casa, reparou o telhado, desentupiu os encanamentos, podou árvores e montou paredes com desenhos lógicos. Nunca deixou de nos atender quando chamado. “Subia na construção como se fosse máquina...”

__ Olha sô Edson, estou muito feliz. Na semana passada peguei um bom trabalho e com o dinheiro que ganhei comprei dois carros de uma só vez. Mandei um para a minha ex-mulher lá no interior da Bahia e o outro está na minha casa aqui em Jandira esperando que eu aprenda a dirigir. Fernando era também megalomaníaco, hiperbólico. Dava-se muito bem com o exagero. As terras dele na Bahia, em sua versão, eram imensas. Filosofava com a pureza de sua alma dizendo não ter ainda tudo o que amava, mas que amava tudo o que já tinha. Com regular freqüência citava este pensamento e com ele embrulhava os seus sonhos de grandeza. Na verdade eram somente sonhos. Os carros não passavam de alucinações e as famílias, tanto a de lá como a de cá, viviam numa pobreza de dar dó. Como romântico trabalhador, “seus olhos se embotavam de cimento e lágrima...”

Fernando circulava as ruas oferecendo seus préstimos. No bairro, todos o conheciam e trabalho não lhe faltava. O que lhe faltava era uma boa cabeça para aplicar corretamente o dinheiro que não era muito, mas era regular. Fazia dos botecos o seu Banco de investimentos. Trabalhava em uma casa, almoçava em outra e terminava o dia já acertando algum bico para o dia seguinte. Era feliz. “Dançava e gargalhava como se ouvisse música...”

__ Fernando - disse-lhe minha mulher num final de uma tarde de sexta-feira quando ele passou feliz a caminho de casa ou do boteco - uma telha deve ter quebrado aqui no nosso telhado. Você poderia ver isso para mim?

__ É prá já dona Jane! Com ele não havia tempo ou condições desfavoráveis que o impedissem de começar um trabalho novo. E lá estava o Fernando empoleirado no telhado para o rápido e competente conserto. Ao descer, minha mulher percebe que ele já não estava firme nem tão alegre como antes de subir. “Tropeçou no céu como se fosse um bêbado...”

__ Algum problema, Fernando?

__ Tudo bem dona Jane. Não é nada. É que me veio uma dorzinha bem aqui no peito e no braço que já está me perseguindo há dias. Também, a senhora sabe, sou muito desastrado. Não tomo cuidado com o que faço nem com a minha saúde. Isso passa! Aí, “sentou e descansou com se fosse sábado...”

__ Aqui está Fernando o seu pagamento. E, além disso, vou te dar esta calça jeans novinha, que meu filho nem chegou a usar. Sabe também aquele televisor que trocamos e que você gostaria de ganhá-lo? Se quiser, amanhã quando o Edson estiver disponível podemos levá-lo à sua casa. Você insiste tanto para irmos tomar um café com vocês que podemos fazer isto amanhã. Assim, levamos a televisão e tomamos o seu café.

__ Dona Jane, quanta felicidade! Esta calça nova, a televisão colorida e a visita de vocês à minha casa são todas as coisas que eu mais queria. Já estou amando tudo isso, hiperbolizou como de costume. Era assim que ela gostava de falar. Aguardo vocês lá amanhã. Eu mesmo vou fazer o café. Ninguém lá em casa faz um café tão bom quanto o meu. Até amanhã! E “flutuou no ar como se fosse um pássaro...”

Dez horas do dia seguinte. Depois de um pedido de informação aqui outro acolá conseguimos chegar ao endereço que o Fernando já havia nos fornecido. A casa muito simples estava fechada e isso já nos pareceu estranho. Fernando teria feito festa maior do que a que ele sempre fazia quando estava lá em casa, trabalhando. Depois de umas batidas na porta uma senhora bem simples, cabisbaixa nos atende com uma feição de absoluta tristeza.

__ É aqui que mora o Fernando – pergunto um tanto preocupado?

__ Morava meu senhor. Ontem ele chegou muito alegre, colocou uma calça nova que trouxe. Preparou este cantinho aqui para por uma televisão que ele disse ia ainda chegar. Conferiu na cozinha se tínhamos café e biscoito. Saiu cantarolando dizendo que voltava logo. Antes de sair “me beijou como se fosse a única...”

__ Hoje cedo, como não havia chegado, corremos os botecos da vila até descobrir que, na noite anterior, ele tinha sentido fortes dores no braço e que se espalhava pelo peito. Os amigos o levaram para o SUS e o deixaram lá. Não teve, contudo, paciência para esperar o demorado atendimento. Saiu sozinho pela rua e “acabou no chão como um pacote flácido...”

Fernando tinha apenas 38 anos. Poderia ter vivido mais. Poderia ter tido mais conquistas materiais como sempre sonhou, mas certamente não poderia amar mais a vida do que, de fato, amou. Era uma figura simples, divertida, prestativa, trabalhadora que, como milhões de patrícios, formavam a massa ignara desta curiosa nação. Era apenas um. “Morreu na contramão atrapalhando o tráfego...”

Edson Pinto

Maio de 2011

PS.:

Em azul, trechos da letra da música “Construção” de Chico Buarque de Holanda para dar um pouco de poesia a essa história tão cruel quanto verdadeira. A vida se sustenta por um frágil fio. Pode-se perdê-la num átimo, como Fernando a perdeu.