19 de dez. de 2014

284) BOAS FESTAS

Como faço há anos, eu sempre dedico o texto que publico no meu blog, antecedendo ao Natal, para falar de amenidades.

Abro mão, portanto, das crônicas, às vezes mordazes que faço sobre as mazelas que nos rodeiam, ou poupo os meus amigos de lerem as veleidades que eventualmente me meto a publicar na forma de contos, mesmo os leves.

O importante para mim, nessa época do ano, é poder me dirigir a todos para externar os meus votos de que tenham um Feliz Natal e, no ano novo que se aproxima, as suas esperanças sejam convertidas em realidade.

É muito gratificante – olhando pelo plano da existência humana – nos darmos conta, justo quando fechamos mais um ciclo, de que ainda estamos fazendo parte dessa festa monumental que é a vida. Impossível não sermos tomados pela plenitude de nossas consciências de que ela, a vida, é transitória e, o quanto, para cada um de nós, se tomada isoladamente, é microscópica quando considerada a infinitude do tempo.

Assim, termos a certeza de que ainda estamos vivos, representa-nos mais do que uma grande sorte, senão uma grande benção. Vivemos, pois, um momento ímpar...

Se não fosse a percepção que às vezes nos assalta o espírito de que as circunstâncias que nos rodeiam, de quaisquer naturezas que sejam, sinalizam possíveis duros e, não raro, amargos desafios para o ano seguinte, ficaríamos tão acomodados que a vida perderia o seu real sentido.

Saber disso é reconhecer que nascemos para a luta e não para o conforto inconsequente. Ansiamos - pela nossa própria natureza - com a possibilidade da renovação. O “próximo ano” renova-nos sempre a oportunidade de um novo ciclo em nossas próprias vidas.

Então, que tenham todos, um Feliz Natal e um Ano Novo magnífico!

Volto a publicar no meu blog somente depois do Carnaval.

Edson Pinto 

Dezembro’2014 

12 de dez. de 2014

283) NÃO VAI FAZER FALTA?


½  galeto americano = R$29,00    ½ galeto brasileiro = R$49,00


Em recente viagem aos Estados Unidos e encontrando-me então com o senso critico mais aguçado, fiz observações pessoais várias sobre diferenças existentes entre a forma como se dá o pensamento e a ação na cultura de negócios dos americanos e na nossa brasileira. O que chama a atenção é o fato de sermos ambos capitalistas e, por isso, imaginava haver de se esperar muita semelhança e poucas especificidades que as tornassem em certos aspectos muitíssimo diferentes. Quero nesta crônica citar um exemplo trivial que faz parte do dia a dia que qualquer cidadão demandante de serviços de restaurantes:

Qual brasileiro que em viagem aos Estados Unidos não se surpreende com a grande quantidade de alimentos que é servida em qualquer prato que se peça em um restaurante? A comida é farta a ponto de ser exagerada. A bebida normalmente é servida no sistema de “free refill” aquele em que se pode, pelo mesmo preço, renovar o seu copão de Coca Cola ou outras bebidas quantas vezes quiser e suportar. Gastronomicamente falando, não deixa de ser uma aberração, porém a análise aqui é de cunho mercadológico e não sobre hábitos alimentares. Tudo é generosamente servido e com o propósito explicito de encantar o freguês. Este é o ponto...

No Brasil, e para não ficar numa generalização inconsequente, pois há exceções, cito o caso de uma cadeia de restaurantes cuja especialidade é servir “galetos”, mas eu poderia citar dezenas de outros que conheço e que procedem da mesma maneira. Sou teimoso e esquecido, por isso, vez por outra, vou até esse restaurante e, confesso, sempre saio de lá com o mesmo desprazer. Pede-se um meio galeto que custa quase o dobro de pratos similares em restaurantes americanos e recebe dois minúsculos pedaços do frangote, pressupostamente oriundos de um galetinho muito mal nutrido. Não que comer menos do que o estomago pede não seja até recomendável, mas a quantidade é desrespeitosa de tão pequena. E olha que estamos no país onde a avicultura é considerada uma das maiores do mundo. 
  
Por que, então, os restaurantes americanos servem em abundância e a preços menores do que a maioria dos restaurantes aqui do Brasil? Fiz algumas investigações empíricas, sem o recomendável respeito ao método cientifico, é claro, mas suficiente o bastante para alcançar uma hipótese plausível e estarrecedora quanto à falta de visão de negócios de nossos empresários do ramo de alimentação:

Perguntem a qualquer dono de restaurante que saiba bem administrar o seu negócio, quanto em percentual a matéria prima, isto é, os alimentos propriamente ditos, representam do custo total de seu negócio. Eu fiz essa pergunta e descobri que esta parcela do custo, também chamada de variável, pois oscila diretamente com a quantidade de refeições vendidas, quando muito, fica sempre abaixo de 20% dos custos totais do restaurante. Os custos com aluguel, pessoal, energia, taxas e outros que tem caráter de fixos, isto é, independem do volume de refeições servidas, representa os demais 80%. Guardem bem estes números!

Como pensa o americano: “Se aumento em 25% a quantidade de alimentos nos pratos dos clientes proporcionando-lhes uma quantidade generosa e encantadora eles não só ficam satisfeitos como se sentem estimulados a voltar. Esse 25% a mais no custo da matéria prima acresce no máximo 5% dos meus custos, mas, com isso, atraio muito mais clientes e ao contrário de meu custo total relativo ao faturamento aumentar, ele diminui, pois tenho mais margem sobre os custos fixos que são a maior parte do custo total da operação”. Bingo! Os restaurantes americanos ficam lotados, os preços são menores e a clientela volta com assiduidade.

Como pensa o brasileiro em geral e, em especifico, esses do restaurante do galeto mirrado que às vezes frequento: “Tenho que reduzir meus custos, então coloco menos comida nos pratos dos clientes. Além disso, servindo pouco eles podem pedir mais pratos e assim eu faturo mais”. Infelizmente não se dão conta que a consequência disso é exatamente oposta ao obtido pelo americano. O cliente não fica satisfeito e não volta, ou volta com menos assiduidade ou por esquecimento como tem sido o meu caso; o restaurante tem menos faturamento e consequentemente redução de sua margem, pois os custos fixos permanecem inalterados; para compensar a redução da margem aumenta o valor dos pratos e o circulo vicioso de aumento de preço, redução de negócios se instala até que tenham que fechar as portas e amargando prejuízos vultosos.

É claro que temos empresários brasileiros que já percebem isto e se dão muito bem com seus restaurantes cheios e lucros apetitosos, mas falta à grande maioria essa dose de capitalismo que os americanos dominam com maestria. Penso que ainda pagamos um preço elevado pela falta de cultura de livre mercado no Brasil. Nossa república sempre primou pelo excesso de intervenção na atividade privada o que leva à criação de um empresariado arisco, voltado para o lucro imediato e cheio de espertezas. Ou nunca se dão conta, ou esquecem a sagrada lei maior da economia: Aquela que correlaciona para a maioria dos produtos e serviços o preço com o nível da oferta e da demanda. Menores os preços, maiores as vendas. Maiores os preços, menores as vendas.

Para não ser indelicado com o garçom que nada tem a ver com a falta de visão estratégica do seu patrão, uso sempre de uma inocente e delicada ironia quando ele me traz essas porções desrespeitosamente diminutas. Pergunto: Será que não vai fazer falta?

Edson Pinto
Dezembro’2014 

2 de dez. de 2014

282) NÃO HÁ LIBERDADE NEM EQUILÍBRIO ORÇAMENTÁRIO QUANDO O EXECUTIVO E O LEGISLATIVO SE UNEM INCONDICIONALMENTE


Acostumamo-nos com a ideia de que a república e outras formas de governos democráticos são constituídas de três poderes autônomos e independentes: O Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Por quais razões, nos países democráticos, a estrutura política deve ser organizada segundo esta ordem? A resposta pode ser encontrada em vários momentos históricos desde os gregos e os romanos, a partir do século VI antes de Cristo, até os dias atuais. Para não irmos tão longe à busca da gênese desse conceito, fiquemos com o aquele redesenhado no Iluminismo, importante período histórico que floresceu no século XVIII e que teve como cenário inicial a França de Rousseau, de Voltaire e de Montesquieu:

Primeiro vamos entender o porquê da existência, por tanto tempo, das monarquias absolutistas. Tudo começa – imaginem meus amigos! – com a autoridade inconteste da Igreja. O que ela falava era lei e não se discutia. Quem tentou discordar de seus dogmas se deu mal. Vide Galileu Galilei (1564 – 1642) que, para não perder a vida, teve que manifestar - evidentemente a contragosto - a sua “concordância” com a crença dogmática da Igreja de que o Sol girava ao redor da Terra e não o contrário. Só lhe restou - como sabemos - murmurar entre dentes ao sair do tribunal da Inquisição: "Eppur si muove" (mas ela se move...).

 Aos reis, a Igreja, obviamente por interesses outros, atribuía-lhes o direito divino de mandar nos seus súditos. Isto é, o monarca estava acima de tudo e de todos. Para que, então, três poderes distintos? O Rei era o Executivo, o Legislativo e o Judiciário tudo ao mesmo tempo. Agia de forma soberana, pois o poder para isso era de origem divina. Ninguém contestaria outorga desse naipe, certo? E olha que isso funcionou relativamente bem até que as descobertas científicas geradas pelo Iluminismo colocaram em xeque as “verdades” defendidas pela Igreja. Ora, se ela estava errada em tantas coisas, por que também não o estaria quanto a esse pretenso poder divinal que atribuía aos monarcas? Pronto! Com isso, tudo mudou, inclusive a forma de conduzir politicamente os aglomerados humanos.

Montesquieu defendeu a tese de que o poder despótico dos reis e de outras autoridades, inclusive o da Igreja, era a maior das ameaças às liberdades individuais. Só via uma forma de evitar a degradação social a que isso levava: Seria a separação dos poderes do estado. Sugeriu constituições que preservassem isoladamente os três poderes: o Executivo, aquele responsável pela condução do estado e a aplicação das leis; o Legislativo, como responsável pela produção e emendas das leis e finalmente o Judiciário como responsável pela interpretação das leis. Com a separação de funções e independência entre si, o protagonismo de cada poder nunca superaria as responsabilidades do outro. A constituição americana e mesmo a Revolução Francesa que vieram a seguir, bem como em quase todas as democracias que surgirem nas décadas seguintes, sempre contemplou, de alguma forma, esse magnífico sistema tripartite.

No Brasil também?

Imaginávamos que sim. Mas aqui – como em muitos aspectos de nossa cultura – as coisas não se aplicam tal qual original e bem intencionadamente concebidas. O Legislativo deveria apresentar-se com um grau de independência do Executivo tal que pudéssemos dizer para Montesquieu: “Olha, nós também entendemos bem o seu conceito de poderes independentes e estamos aplicando-o por aqui”. Infelizmente, em que pese termos que aceitar que o Executivo precisa de apoio do legislativo para suas boas propostas de lei, isto não deveria significar que esse apoio se desse de forma incondicional para quaisquer bobagens que venham dele. Mesmo sendo da base de apoio, há temas que o legislador deveria dizer: Nan, nan, nin, nan, não! Isto não passa, porque não é o melhor para o País. Mas o que vemos é que tudo passa, mesmo que seja para arruinar as nossas vidas e tornar o País perigosamente ingovernável.

O episódio da alteração da Lei Orçamentária só para proteger o governo Dilma que fracassou na execução do orçamento de 2014 é a prova mais cabal de que Montesquieu está sendo traído. Não há independência de poderes, mas sim um servilismo “interesseiro” e muitíssimo prejudicial ao País. Por que o Legislativo não ajuda com outras medidas legais o Executivo para que este possa cumprir o orçamento e não para burlar os compromissos antes assumidos? Que votem leis que reduzam o tamanho do estado; que demitam funcionários caros e ociosos; que privatizem empresas estatais ineficientes; reduzam os gastos com as mordomias e parem de dar dinheiro para repúblicas bolivarianas. Assim, seria alcançada a meta do superávit fiscal necessária para a amortização da enorme dívida pública que temos acumulado nos últimos três governos.

Sabem o que vai acontecer com a alteração da lei orçamentária? A dívida pública continuará crescendo, pois não economizamos nada para amortizá-la. Pelos critérios internacionais de análise da solidez financeira, o País perderá graus na avaliação e isto implicará em menos investimentos externo e taxas de juros mais elevadas. Como reflexo na vida de todos nós, tenderemos a caminhar para mais desemprego, mais inflação e menos certeza quanto ao futuro. O Senador Romero Jucá e outros de seus pares da base aliada que apoiam incondicionalmente o governo e que compõe a Comissão Mista de Orçamento encarregada de admitir ou não a proposta de alteração da lei do orçamento acabam de nos dar um exemplo tão concreto quanto negativo de que a independência do Legislativo em relação ao Executivo não passa de uma fantasia.

Montesquieu há de se ter remexido, incomodado e desiludido na sua tumba em L'eglise Saint-Sulpice, Paris, onde deveria estar descansando em paz...

É triste, mas é verdade...

Edson Pinto
Dezembro'2014