25 de nov. de 2013

251) ALÉM DO IMAGINÁRIO

Dei-me ao luxo de um refúgio sabático e fiquei pouco mais de dois meses sem publicar novos textos no meu blog. Fiquei preguiçoso? Não, pois dediquei parte expressiva desse tempo a realizar uma tarefa que tenho certeza muitos de meus amigos também gostariam de fazer. Alguns, quiçá, talvez até já a tenham feito - admito - mas arrisco-me a dizer que são poucos. As razões são as obvias de sempre: O corre-corre da vida moderna a privar-nos de tempo discricionário para o lazer, a, até recente, indisponibilidade de recursos técnicos viáveis para o mister e (por que não?), a falta de aptidão para se organizar as corriqueirices da vida.

Vou, neste texto de retomada do meu blog, falar-lhes do que se trata:

Primeiro, uma digressão técnico/cultural: Desde os seus primórdios, o homem vem se esforçando para criar registros daquilo que observa ao seu redor. As pinturas rupestres estão aí para nos provar esta assertiva. Consideremos a pintura que, de propósitos ligados aos registros históricos, acabou se tornando arte. Ela não só registrava os momentos que interessava serem recordados em tempos vindouros e legados às gerações futuras, como denotava e ainda denota a sensibilidade estética do artista na busca de uma interpretação às vezes até mesmo onírica de um objeto e/ou de um instante significativo. Pintura de boa qualidade, portanto, é arte. Mas ela tem lá suas limitações: É cara, de pequena produção e agrega pouco valor cientifico por não retratar com fidelidade o seu objeto.  Aí, em algum momento do século XIX aparece a fotografia. Diziam que não era arte como a pintura, pois simplesmente captava por processos químico/mecânicos a realidade que se observava sem, contudo lhes propiciar a criatividade exclusiva do artista. Verdade, mas a fotografia logo se impôs pelos seus outros atributos.

Bem, no mundo em que vivemos, o processo fotográfico “caiu como uma luva” para as demandas de registros de nossas memórias cada vez mais assoberbadas. O quanto a fotografia contribuiu para o progresso da humanidade, ou vice-versa, não vem ao caso. O fato é que pelo menos as três gerações que antecederam à nossa (refiro-me aos nossos pais, avós e bisavós), vieram se familiarizando de forma gradativa com a fotografia. As fotos, ao capturarem instantes vividos nos ajudam a lembrar o passado para nossa alegria, tristeza e emoção. Depender só da memória é pouco para quem gosta de pontuar momentos importantes para recordá-los mais adiante e também compartilhá-los com seus circunstantes. A indústria da fotografia erigiu grandes empresas e os processos continuaram evoluindo para o bem de todos. No inicio, as fotografias eram em preto e branco e fotografar era tarefa para iniciados e profissionais. Em seguida vieram as câmeras mais simples, filmes mais baratos e aí se popularizou o seu uso. A fotografia a cores, e mais recentemente a digitalização, a câmera acessível no telefone celular e todas as possibilidades que a internet vem nos oferecendo para divulgar de forma rápida e a baixo custo os registros fotográficos que fazemos cada vez mais abundante coroam o sucesso dessa evolução tecnológica.

Com tudo isso fervilhando em minha mente, dei-me conta de que todas aquelas fotos que tenho acumulado ao longo de anos encontravam-se esquecidas em álbuns que ninguém mais folheava, em fundos de gavetas de raro acesso, em portas-retratos que nem mais olhamos. Era como nos versos de Olavo Bilac “ouro nativo, que na ganga impura, a bruta mina entre os cascalhos vela...” Fotos preciosas como ouro que retratam momentos importantes da vida de minha família guardas para uso em futuro incerto ou talvez nunca, mesmo porque, principalmente as coloridas, perdem qualidade com o passar do tempo e que – pelo menos no meu caso – em breve não se prestariam a mais nada. Era, portanto, preciso fazer algo de imediato. A tecnologia existe e o tempo agora me é favorável. Pus mãos à obra:

Na primeira etapa arranjei caixas de papelão e preparei separadores com os anos em que as fotos haviam sido feitas. Para várias, me foi necessário consultar parentes sobre as possíveis datas e os eventos que retratavam. Trinta dias depois, já com tudo identificado e com quatro caixas recheadas, consegui reunir precisamente 8.121 fotos. Usando um recurso fantástico e gratuito do Google, o aplicativo “PICASA”, montei, por anos e eventos principais, 114 álbuns. Usei um scanner para digitalizar as fotos e aplicava – quando necessário, e foram várias vezes – o recurso eletrônico de recuperação de fotos esmaecidas. Centenas delas já bem descoloridas pelo tempo recuperaram quase que totalmente suas cores originais e foram salvas para a posteridade.

Agora, tenho uma história de vida que, além de poder ser contada com a imaginação do escritor amador que sou, ser ilustrada, para muitas situações particulares, com um registro fotográfico que traz a mim, aos parentes e aos amigos que partilharam comigo momentos importantes do passado uma recordação cheia de significado. Com tudo no computador, é possível enviar álbuns ou mesmo fotos individuais para pessoas que nem sequer se lembravam daqueles momentos e assim despertar emoções e estreitar laços de amizades. Consegui baixar no smartphone que uso todas essas fotos. Compartilhá-las via WhatsApp, Facebook e outros recursos tornou-se uma realidade inimaginável há tão pouco tempo.

Como as fotos antigas servem para nos lembrar não apenas do que fomos, mas necessariamente do que somos agora, nada melhor do que buscar nelas as situações que a nossa falível memória já começa a perder. Assim, toda vez que olhar para a foto de 1955 que ilustra este texto hei de me dar conta que bastava um corte de cabelo a “Príncipe Danilo”, uma canetinha simples e nenhum celular, ou notebook, ou tablet ou smartphone para ser, na época, uma criança feliz. Mas, comparando com os tempos atuais, ser feliz, obrigatoriamente, já nos exige tecnologia até mesmo para nos lembrar do passado inocente que, pelo menos, agora já se encontra registrado para a posteridade.

Edson Pinto

Novembro’2013