12 de mar. de 2015

289) DE NOVO OS BICHOS

Meu amigo José Roberto dos Santos me repassou um texto/desabafo que - de forma pretensamente didática - eu tentei resumir e acomodar na tabela abaixo. Não são necessariamente pontos de vista pessoais, quer seja do meu amigo, quer sejam meus, mas sim a síntese de uma reflexão sobre o que paira no ar. Não se deve, portanto, subestimar a sua fácil aplicação ao momento que ora vivemos. Reagrupei os temas, acrescentei algumas firulas, mas respeitei integralmente o seu espírito original.

Sua leitura, creio, pode levar a cada um de nós à necessária conscientização de que vivemos, infelizmente, em um país cada vez mais apartado das convicções e dos valores que nos impulsionavam os ideais até um passado não tão distante. 

Leiam com cuidado os pontos e em seguida - se tiverem paciência - leiam também o texto que escrevi em outubro de 2010 na antevéspera da primeira eleição da presidente Dilma e cujo link forneço em seguida.

O QUE FIZ E SOU...
... E O PREÇO QUE PAGO POR ISSO.
Meus pais foram responsáveis e rigorosos comigo me propiciando escola e educação. Assim, estudei e pude adentrar ao mundo do conhecimento.
Agora sou rotulado de pertencer a uma minoria privilegiada. Omitem por conveniência  o mérito dos meus pais e os meus próprios.
Com  esforço e sacrifício do meu tempo de lazer trabalhei de dia e às noites frequentei a Universidade e me diplomei
Hoje, me consideram burguês. Não raro, um privilegiado membro da elite. Se eu bato panela em protesto à calamitosa situação do País me assacam um “Elite Gourmet”
Trabalhei arduamente por 35 anos na mesma empresa e consegui formar meu patrimônio, pequeno, mas sólido.
Sou visto com um membro da elite, um esnobe que não tem pena dos despossuídos. Esquecem-se dos exorbitantes impostos que pago que se bem aplicados fariam adequada justiça social.
Não votei no PT, no PCdoB e em outras dessas siglas exóticas.
Hoje me chamam de fascista, de neoliberal, de direita caviar.
Sou hétero e cristão, mas respeito e defendo o direito dos outros quanto às suas próprias preferências.
Mas quando expresso essa minha condição me rotulam homofóbico e infiel.
Não sou sindicalizado, por opção.
Isto me torna um traidor da causa operária e um subserviente aliado do patrão.
Tenho minhas próprias convicções e opiniões. Não aceito quaisquer  versões que o governo, mentindo, diz como se verdades fossem.
Por isso, tacham-me de golpista. Quando reclamo dos altos impostos que pago, me rotulam de sonegador. Se eu critico os roubos na Petrobrás, atacam o meu patriotismo.
Sou adepto incondicional da meritocracia.
Rotulam-me de antissocial, de egoísta, de insensível, de elitista.
Sou muito grato aos meus pais que me educaram com disciplina e me ensinaram a respeitar os outros.
Hoje, quando defendo maior rigor na criação dos filhos me consideram um carrasco a impedir-lhes o pleno desabrochar.
Respeito a vontade popular e confio na instituição das forças armadas para garantir a segurança constitucional do País.
Quando falo isto me chamam de oposição golpista de ser um saudosista do regime militar.

Como já disse, em 1/10/2009 eu escrevi e publiquei neste mesmo blog, o texto de nº 138 intitulado, “Eleição dos Bichos” (clique neste link para ter acesso a ele: http://blog-do-edson-pinto.blogspot.com.br/2010/10/138-eleicao-dos-bichos.html)

Sugiro a leitura, porque o tema desta crônica de hoje tem muito a ver com o que lá expressei. A situação é outra, mas os bichos são os mesmos...

No texto, para resumir, fiz referencia ao importante e ainda atual clássico de George Orwell, “A Revolução dos Bichos”. Lá, ele satiriza a experiência socialista empreendida pelos bichos da Granja Solar liderada pelo porco Napoleão. Havia ainda, assessores manipuladores da mesma espécie, ovelhas alienadas, burros esforçados e galinhas dispersas. Os valores inicialmente estabelecidos para nortear as ações dos comandantes foram perdendo consistência, esquecidos, modificados e adaptados aos seus interesses pessoais.

Alguma semelhança?

Edson Pinto
Março’2015

5 de mar. de 2015

288) COISAS CHATAS


Todas as situações que nos aborrecem de forma persistente têm o poder de nos gerar aversão a elas, de tal modo que, depois de cristalizadas em nossas mentes, tendemos a rotulá-las de “Coisas Chatas”. Assim, passamos a abominá-las, a evitá-las. Se ignorá-las for de todo impossível, só nos resta enfrentá-las a contragosto.

Há pessoas que consideramos chatas. Umas até ganham um reforço pela intensidade com que praticam a chatice. São jocosamente qualificadas de “chatos de galocha”. Não quero, contudo, aqui e agora, falar de pessoas. O motivo é que isso é muito pessoal e fruto do mais explícito subjetivismo. Quem a outrem parece chato, pode parecer-se formidável a um terceiro. Isso é da natureza humana, felizmente... O que quero neste texto é apenas falar de coisas, de situações que considero chatas. Minha crítica é nesse aspecto absolutamente impessoal.

Construí uma lista de 10 coisas que considero chatas. Existem muitas mais, mas fiquemos com estas dez. Vejam se concordam com a minha lista e o quanto ela se identifica com as próprias, se é que também as tenham. Por mais que tenhamos o otimismo de Pangloss e o domínio do jogo do contente de Pollyanna, considero impossível viver sem esses e outros aborrecimentos. Quem sabe se, até mesmo, eles têm a função vital de nos levar a valorizar as coisas boas que muitas vezes, injustamente, negligenciamos?

Minha lista:

1) Apuração de resultado de escola de samba ao final de cada carnaval:
Demora quase o tempo do próprio carnaval. Infinitos jurados que, por princípio (ou seria medo de represália?), só dão nota 10. Aquelas Escolas que em algum dos intermináveis quesitos tiram 9,9 já podem ir se preparando para a derrota. À considerar a qualidade das notas, o Carnaval brasileiro seria uma obra tão perfeita quanto a do Criador. Nesse caso, o preferível seria termos os carnavalescos à frente do governo e os políticos nas escolas de samba.

2) Atendimento em uma loja da Vivo:
Falo da Vivo, pois é a minha operadora, mas pode ser de outra empresa concorrente. Fica-se sentado (quando tem cadeira disponível) com uma senha na mão. Passa uma eternidade até que chega a sua vez de ser atendido. Depois, não raro, ao invés de ter a fatura reduzida (razão maior de sua ida até lá), percebe-se que a fatura seguinte vem com valor ainda maior.

3) Big Brother Brasil:
Se me virem assistindo a um dos BBB´s podem chamar o SAMU, pois devo estar nas últimas. Claro que isso não comove a Venus Platinada, pois o importante é a verba dos patrocinadores. O formato do programa permanece insepulto e vaga como um zumbi a nos atormentar. Nada soa mais falso... Enquanto tiver gente que vota com base em promessas mentirosas dos políticos também teremos audiência para o BBB. Aguardem que o BBB 120 chegará em breve...

4) Declaração do Imposto de Renda:
Sofrimento que vem sempre depois da Quaresma. Acho que é uma forma de sermos punidos pelos pecados cometidos nas festas de final de ano e no carnaval. Deve ser complemento das penitências da Semana Santa. O curioso é que, quanto mais o Leão retém na fonte, mais impostos temos que pagar ao fechar a Declaração.

5) Crianças soltas em restaurantes:
Resolveu descontrair-se em um restaurante? Boa companhia? Bom vinho? Boa comida? Lá vem aquele bando de encantadores capetinhas gritando e correndo em velocidade compatível à da Fórmula 1. Nada contra crianças, eu as adoro, mas contra os pais que acham estar alegrando o restaurante ao deixarem os filhinhos se comportem como se estivessem no pátio de suas escolas ou no playground do prédio em que moram.

6) Reunião de condomínio:
Como mostra uma propaganda da TV, só é frequentado maciçamente quando do sorteio das garagens. No mais, é aquele tédio: Os exaltados de sempre; os donos da verdade; os transgressores contumazes do estatuto e dos regulamentos e que nunca colaboram, mas querem ser tratado como reis. Salve essas majestades!

7) Ligação de telemarketing ativo:
Não interessa se você está num velório, no banheiro, com visitas, dirigindo, em audiência com o Papa ou mesmo na maior intimidade com sua cara metade. Lá vem uma oferta de uma assinatura de revista, uma doação a uma instituição de caridade, uma linha telefônica ou mesmo um jazigo perpétuo no cemitério recém-lançado. Dá pra morrer de raiva...

8) Recurso contra multa dos órgãos de trânsito:
Rei dos engodos. Perde-se um tempão juntando dados e coletando provas; faz-se a defesa dentro do prazo e manda pra lá. Receberemos sempre um solene “Indeferido”. Ninguém lê os seus argumentos, mesmo porque são milhões de defesas e apenas alguns gatos pingados para dar conta da papelada. Conclusão: É sempre perda de tempo. Melhor deixar de dirigir e ir se acostumando com o transporte coletivo público.

9) SAC – Serviço de Atendimento ao Consumidor:
Liga-se e uma máquina atende. Seguem falsos votos de boas vindas e promessas de que a sua ligação é muito importante. Após, musiqueta e menus de zero a nove que exigem boa memória para guardar aquele número que corresponde ao seu interesse. Mas não é só: submenus se sucederão até que – passados uns 40 minutos – a máquina informa que alguém irá atender. Sucederão outros tantos minutos até que isto de fato aconteça, ou, não raro, a ligação caia. Aí é só, pacientemente, começar tudo de novo.

10) Cadeia obrigatória de TV:
Pode ser um ministro ou mesmo o presidente em exercício. As mensagens são tão inúteis quanto demonstram única e exclusivamente o interesse da autoridade em se posicionar politicamente. Promete-se “Pátria Educadora” com a mesma cara de pau com que fala da Petrobrás como orgulho do povo brasileiro. A propósito, neste próximo domingo tem presidente na TV. Quem sabe desta vez não me aborrecerei?

Edson Pinto

Março’ 2015