17 de dez. de 2010

149) TEMPO DE COLHER

Há um tempo certo para semear, plantar, outro para cuidar e, finalmente, um tempo para colher. O ciclo da vida é maravilhoso, pois repete com absoluta precisão essa mágica sequência. Assim ocorre com as flores, com os animais, com as plantas em geral, e com cada um e nós, pois somos também criaturas dotadas desse dom supremo, mas transitório, que é vida. Ela nunca é eterna, mas se renova. Tudo nasce, cresce, morre e depois recomeça numa espiral infinita.
O final do ano é muito propício para ser associado à parte conclusiva do ciclo que corresponde à colheita. Por quê? Penso que ele nos traz aquela sensação de estarmos fazendo um balanço sobre tudo o que o ano a terminar nos propiciou. Em geral, enceram-se - para alegria das crianças e dos valorosos estudantes - as atividades escolares; trabalhadores programam suas férias após um ano inteiro de labuta; terminam os campeonatos de futebol e as temporadas de vários esportes que enchem de alegria e dão lazer às pessoas de todas as idades; as empresas fecham seus números de produção, de suas vendas e apuram os resultados dos negócios para saberem quanto ganharam ou quanto perderam.
No País, a cada quatro anos, renovamos a lista dos líderes políticos a quem entregaremos, no início do próximo, o destino da Nação e o das nossas vidas. O Papa fala “Urbi et Orbi” para dar a tradicional mensagem revigoradora para um mundo melhor à nossa frente.
__ E o mundo, ficou melhor ou pior?
__ Terminamos o ano, como sempre, com dezenas de catástrofes, guerras aqui e acolá, crise econômica ainda persistente; “amalucados“ querendo construir suas próprias bombas atômicas, mas também tivemos coisas boas: progressos nas relações entre povos; as desigualdades sociais seguem lenta, mas firmemente, sendo reduzidas; os esportes confirmam seu poder de unir povos e mexer com emoções.
__ De que forma vimos o ano neste momento em que ele se aproxima do momento de se renovado?
__ Depende da atitude que em nosso foro íntimo mantemos em relação às coisas que acontecem ao nosso redor, nossas circunstâncias, e principalmente com aquelas a turbar inquietas dentro de nós mesmos.
Um pai explicava ao filho jovem que temos dentro de nós dois espíritos: um que é mal, rancoroso, pérfido, negativista, insensível, tenebroso. O outro que é exatamente o contrário: é do bem, pois é alegre, companheiro, positivo, sensível e maravilhoso. O filho então pergunta ao pai:
__ Qual dos dois então prevalece em nós, meu pai? Este respondeu objetivamente:
__ Aquele que você decidir alimentar, meu filho!
Agora que estamos no tempo certo para colher, vamos cuidar mais do bom espírito que habita nossas almas! Nunca nos esqueçamos de que, com a renovação que é a constante da vida, é sempre possível optarmos para, no ano seguinte, quando do início de um novo ciclo, optemos por semear coisas boas como o nosso espírito do bem deseja.
Que tenham todos os meus amigos um Feliz Natal e um ano de 2011 pródigo em boas realizações.
Volto a publicar no meu blog só depois das festas e dos primeiros meses do ano novo. Estarei - como sei que vocês também - muito atarefado na semeadura do que vou colher ao final de 2011.

Edson Pinto
Dezembro’2010

9 de dez. de 2010

148) WIKILEAK - A CANDINHA DO CIBERESPAÇO

Julian Assange é de fato um cara muito ousado! Parte da mesma motivação de Candinha, aquela dos mexericos da famosa canção de Roberto Carlos, para especular e depois contar tudo o que sabe da vida alheia. No seu caso, contudo, não se trata da fofoca pequena dizendo que alguém é louco, esquisito, cabeludo, veste-se mal e ainda fala gírias. O jornalista e ciberativista australiano, Julian Assange, comanda o site que passou a ser a coqueluche do momento. O site WikiLeaks.ch que ele coordena está publicando de forma gradual seu estoque de cerca de 250.000 documentos secretos, todos vazados de organismos oficiais ou obtidos de fontes fidedignas. Pelo que já mostrou, promete continuar a desestabilizar relacionamentos diplomáticos, políticos, econômicos e de todas as ordens possíveis e imagináveis mundo afora.

Fiz nesta semana alguns acessos ao site e constatei aquilo que os jornais já vêm noticiando. Existem até revelações sobre o Brasil: Relatórios oriundos da Embaixada dos EUA em Brasília, classificados como confidenciais, foram vazados e agora publicados no site. Há informações secretas sobre nossa atuação (péssima, diga-se de passagem) na recusa ao acolhimento de ex-prisioneiros de Guantánamo e de dissidentes cubanos devido à proximidade do governo brasileiro com o regime ditatorial de Fidel; informações sensíveis sobre o plano de compra dos caças para equipar a Força Aérea Brasileira; análise sobre a falta de segurança no Rio de Janeiro e a indicação de oportunidades de negócios em função das Olimpíadas de 2016, entre outras. Muito mais promete ser disponibilizado no WikiLeaks. Isto, se os mandões do mundo não acharem um jeito de calar o site de Julian Assange. Barack Obama, Vladimir Putin, Silvio Berlusconi e Nicolas Sarkozy já se remexem incomodados com o que já foi revelado e, mais ainda, com o que - conforme promete a Candinha do ciberespaço - está para ser disponibilizado na rede.

Seria inocência imaginar que o mundo das relações políticas e econômicas fosse conduzido com a lisura que se espera dos vestais. Nos bastidores, a forma como as coisas são tratadas divergem em muito dos discursos e dos termos que são formulados abertamente. Ficou famosa a especulação do chancelar alemão Otto Von Bismarck (1815-1898) sobre a forma como são elaboradas as leis. Ele teria dito "Leis são como salsichas; é melhor não saber como são feitas". Na época de Bismarck, era sabido, ou poderia ser fruto de boatos, o fato de que as salsichas eram industrializadas em ambientes sujos e com ingredientes duvidosos. A comparação de Bismark continua, infelizmente, atual e vale tanto para a elaboração das leis, como dos acordos, dos negócios escusos e dos relacionamentos entre poderosos.

O que vale a pena ser comentado é que a verdade não está no que se vê e sim no que se esconde. A história da Filosofia começa exatamente com a preocupação do homem quanto à verdade. Aristóteles disse sobre o real significado da palavra verdade: “Negar aquilo que é, e afirmar aquilo que não é, é falso, enquanto afirmar o que é e negar o que não é, é verdade”.

Parece até que nossos líderes políticos, especialmente o maior de todos que em três semanas, e muito a contragosto, deixará a Esplanada, nunca se deu conta disso. Ou se deu, de propósito, andou fartamente negando o que era e afirmando o que não era.

Já que as instituições democráticas não foram suficientes para fazer com que prevalecesse a verdade, fiquemos pelo menos com a expectativa de que Julian Assange e o seu WikiLeaks nos revelem mais do que nos foi dado saber.

O big brother - com diz o paper wall do WikiLeaks que ilustra este texto - está vendo tudo!

Edson Pinto
Dezembro’2010

3 de dez. de 2010

147) LIVRE-ARBÍTRIO OU A ÚLTIMA CHANCE


“__ O senhor crê - disse Cândido - que os homens sempre tenham se massacrado, com fazem hoje? Que sempre tenham sido mentirosos, velhacos, pérfidos, ingratos, bandidos, fracos, levianos, invejosos, gulosos, beberrões, avarentos, ambiciosos, sanguinários, caluniadores, debochados, fanáticos, hipócritas e tolos?

__ O senhor crê - replicou Martinho - que os falcões sempre tenham comido os pombos ao encontrá-los?

__ Sim, decerto - disse Cândido.

__ Pois então! - disse Martinho - Se os falcões sempre tiveram o mesmo caráter, por que o senhor quer que os homens tenham mudado o deles?”

Este diálogo encontra-se em uma passagem do livro Cândido, de Voltaire, quando dois personagens filosofam sobre caráter e moral. O curioso é que desde sempre o ser humano guarda em sua índole - uns mais que outros - essa imperfeição sem nem mesmo, com o passar do tempo e com a evolução das sociedades, ter mostrado melhorias. Sendo realista, diria que, pela competitividade que se estabeleceu no mundo de hoje, isso até piorou.

Eu já estava ficando intrigado com a recuperação de caráter que Silvio de Abreu havia traçado para Chiara. Mas, ontem, ela voltou a ser o que sempre foi: uma figura abjeta, falsa e capaz da prática de gestos os mais horrendos. Totó, pobre coitado, que encarna o papel do crédulo, inocente e bondoso há de ter nova e forte decepção. Esperemos que seja a última.

O bandido sai da prisão onde deveria se re-socializar, mas delinqüe repetidamente. O político malversa, mente, é perdoado, mas volta de forma doentia às práticas malsãs. O egoísta finge arrependimento, promete melhorar a conduta, mas depois persiste nas mesma e deplorável conduta. Acreditar naquilo que contraria a natureza humana é uma temeridade. Se no âmbito das relações próximas já observamos tanta dissonância, imaginem quantas mais há quando nos transportamos à esfera das ações econômicas, sociais e políticas?

Vivemos, infelizmente, a era da dissimulação. Encobrem-se intenções, finge-se que não entende ou que não sabe e disfarça-se para atingir objetivos escusos. Aos incautos, qualquer vã e infundada justificativa é suficiente para continuarem candidamente acreditando nos falcões. O jogo político está eivado de espertezas. Vive-se de falsas aparências e de falsos propósitos.

O fim de cada ano é tradicionalmente um momento adequado para reflexões sobre a nossa vida, quer a do exíguo espaço do mundo particular de cada um, quer o das relações sociais a que nos encontramos submetidos. Esperança, portanto, é a palavra de ordem. Quem não conseguiu ver um ser humano melhor em 2010 deve continuar acreditando que o conseguirá no próximo ano. O importante é não deixarmos de acreditar na máxima de que “nem tudo está perdido”.

Se nos resta, ainda, alguma chance de que as coisas podem e devem ser melhores, isso depende única e exclusivamente de cada um de nós.

“__ Oh! – disse Cândido - Há muita diferença, temos o livre arbítrio...”


Edson Pinto
Dezembro’2010