24 de abr. de 2010

118) VAGAROSA REFLEXÃO SOBRE A PRESSA

 “Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não tem pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta-se por cima da sombra”...
(Fernando Pessoa)
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Vivemos uma era de velocidade crescente. Vale tanto para aquilo que, pelo bem, se fez com os meios de transporte, cada vez mais rápidos, como para as comunicações que de tão ligeiras já alcançam o limite do máximo concebível, ou seja, a velocidade da luz. Mas, vale também para a nossa atual postura perante a vida...

Tudo é veloz, tudo acontece de forma muito rápida e não há como negar que rapidez e velocidade são virtudes das quais o homem bem se serviu na busca de uma vida melhor. Todavia, não há, também, como deixar de ver que elas, velocidade e rapidez, geraram como vício, a pressa. A humanidade viciou-se na pressa. Pressa prá fazer, pressa prá viver e pressa para amar...

Eis aqui a grande reflexão que vale a pena fazermos: A pressa que o homem imprimiu a tudo trouxe a instabilidade e deu-lhe feições de provisório. Nada é definitivo, tudo é fugaz porque só o que ainda não aconteceu, o que está por vir alimenta o espírito do homem moderno. Vivemos viciadamente de planos, de futuro, e nos esquecemos de que a vida real só é concreta no presente. O futuro ainda não existe e o passado, infelizmente, já passou...

A arrogância, irmã siamesa da falta de paciência, leva-nos a desdenhar as coisas concretas, reais e presentes que no fundo valem muito a pena viver. A pressa tem esse louco poder de nos impedir o desfrute da realidade. Vivemos - como nos disse o grande poeta Fernando Pessoa - imaginando que ao saltarmos podemos superar a própria sombra. Ledo engano!

A pressa gera o arrependimento quando nos damos conta de que a vida passou e o melhor dela já não pode mais ser recuperado. De imperfeições em imperfeições, decorrentes da pressa, e sempre ela, vamos deixando o melhor do festim da vida para trás. Se, de fato, é verdade que não podemos mais abrandar a velocidade impingida ao nosso modo de vida moderno, sob pena de ficarmos à beira da estrada, não é menos verdadeiro o fato de vivermos com mais pressa do que a natureza, com sua infinita sabedoria, nos aconselharia. Podemos ter pressa para dizer que amamos, pois isso é muito bom, mas não deveríamos ter pressa para deixar de amar...

La Fontaine nos ensinou que “não serve de nada correr, pois o importante é saber o momento correto de partir”. Uma oportunidade desperdiçada pode ser dolorosa, mas pode ainda reapresentar-se. Porém, uma tentativa mal feita, devido à pressa, mata de vez todas as esperanças de sucesso. Prudência e pressa são imiscíveis, assim como o são o óleo e a água...

É impossível raciocinar e tomar boas decisões sob a tortura da pressa. Nunca, porém, é tarde para entendermos a razão pela qual isso acontece. Só há uma, na verdade: estarmos empenhados em tarefas que são maiores do que a nossa capacidade de executá-las, por isso corremos tanto na vã tentativa de realizá-las.
...
“Se estendo o meu braço, chego exatamente aonde o meu braço chega.
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar onde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui”
(Fernando Pessoa usando seu heterônimo de Alberto Caeiro)

Edson Pinto
Abril’2010

18 de abr. de 2010

117) ENSAIO SOBRE A TEIMOSIA



“Teimosia é firmeza de caráter adulterada pela estupidez” (Nietzsche). “O teimoso, que nunca atende ao conselho amistoso, encaminha-se, na certa, para o perigo” (Texto Budista)

Quem não conhece uma pessoa teimosa? Todos nós, em algum momento de nossas vidas, nos deparamos com uma ou várias. Repassemos nossas memórias e de lá sacaremos exemplos de pessoas teimosas que conhecemos desde os tempos em que éramos crianças, depois na adolescência, outros tantos, quando adultos, na escola, no trabalho, na família. Você, ou eu mesmo que escrevo este ensaio despretensioso, poderíamos - quem sabe - também nos enquadrar na classificação de teimosos. Tudo é uma questão de se analisar...

A teimosia, este substantivo feminino de amplo uso no nosso idioma português, tem sua raiz lá no grego “théma” que quer dizer, o assunto ou o tema de um discurso. Não é por acaso que os teimosos se caracterizam por insistir, com obstinação, em uma determinada coisa, assunto ou ideia. É como se estivessem programados para não se desviar do “théma”, do ponto de vista ou da meta que defendem e querem atingir.

Ser teimoso é de todo ruim? __ Nem sempre, desde que a teimosia seja aplicada de forma relativa e para o bem! A história da humanidade nos traz exemplos de boas teimosias que deram certo. Aqui um importante: Mahatma Gandhi, o grande pacifista, defendia a ideia de que as “coisas que queremos e parecem impossíveis só podem ser conseguidas com uma teimosia pacífica”. Deu certo! Tornou-se um dos fundadores do moderno estado indiano e ferrenho defensor do princípio da não-agressão como meio de se fazer a revolução. Daí ter surgido o termo “Satyagraha”, impropriamente, mais tarde, adotado como título da recente e confusa operação da Polícia Federal comandada pelo nefelibata Delegado Protógenes Queiroz.

Sêneca, filósofo, escritor, pensador estóico e intelectual do Império Romano por sua vez já engrossara um pouco o caldo da teimosia ao dizer de seu imperador, Nero, de quem fora preceptor: “conheço o gênio teimoso desse homem. Não pode ser dobrado, só pode ser quebrado”. E Simone de Beauvoir aplicou um golpe de mestre nessa “qualidade humana” que - quando mal usada - assume o caráter defeituoso de pertinácia obstinada: Disse ela: “Em face a um obstáculo que é impossível superar, teimosia é estupidez”. Sófocles, bem antes de Simone de Beauvoir, já tinha dito algo muito parecido: “Teimosia e estupidez são gêmeos”.

E, por que, mesmo depois de tanta gente culta, de tantos pensadores profundos, de tantos exemplos de teimosias mal aplicadas, ainda continuamos convivendo com uma grande parcela de teimosos? Seria algo genético? Talvez o par de cromossomos x combinado com os de y e z deforma as atitudes de certas pessoas e, por mais que queiramos, não é possível fazê-las ver que estão sendo teimosas e arrogantes. São Tomás de Aquino afirmava que esta, a arrogância, nasce daquela, a teimosia.

Ou seria que os teimosos têm conhecimento disto e se fazem de desentendidos para conseguirem o que querem sem terem o trabalho de submeter suas decisões ao crivo do bom senso? Avento, ainda, outra hipótese, esta bem mais radical: Os teimosos se julgam como os humanos certos, num mundo constituído preponderantemente de pessoas fracas, sem firmeza, inconstantes e despreparadas. Talvez, por isso, o falecido Senador baiano, Antonio Carlos de Magalhães, conhecido historicamente pela sua empáfia tenha dito: “Eu não sou teimoso. Teimosos são aqueles que teimam comigo”

Seja lá qual for a real razão da existência e manutenção da teimosia, mais vale, para o bem de todos, sabermos que ela comanda a cabeça de muita gente. E, essa gente, quanto mais poder tiver em suas mãos, mais arrogante, mais teimosa, mais estúpida e mais impertinente tende a ficar. É preciso saber como nos desvencilhar ou, em último caso, como tirar proveito de suas características. Aceitar passivamente os caprichos dos teimosos arrogantes pode nos levar a desastres irreparáveis: Hitler, por teimosia, levou o mundo à Segunda Guerra. Nero, teimoso a ponto de matar a própria mãe Agripina, pôs fogo em Roma. Hugo Chaves, teimosamente imbuído do falso espírito bolivariano, leva a Venezuela para o caos. Ahmadinejad quer, por pura teimosia, construir a bomba atômica e por último, mas não menos importante, Dunga, o “teimosão-mór” do futebol brasileiro, não que levar Neymar para a Copa do Mundo.

E aí, vamos aceitar a teimosia do Dunga ou vamos pôr a boca no trombone? Quantos mais lances geniais e gols primorosos o menino revelação da Vila Belmiro terá que fazer para que Dunga deixe de ser teimoso?

Conta a história que o apelido do técnico e ex-jogador da seleção brasileira que ajudou-nos na conquista do tetra em 1994, Carlos Caetano Verri, foi dado pelo tio ao prevê-lo um adulto de pequena estatura física. Dera-lhe o apelido de um dos sete anões do conto da Branca de Neve. Mas, poderia ter sido também Soneca, Feliz, Dengoso, Zangado, Atchin ou Mestre. Sem sabê-lo, o tio acertara com o apelido, Dunga. Além de baixinho como os anões da Branca de Neve, coube-lhe bem o termo de origem africana que quer dizer homem bravo, valentão, mas também teimoso...

Dunga teimoso! Leva o Neymar!

Edson Pinto
Abril 2010

11 de abr. de 2010

116) O BÓSON DE LULA


Como sabido, o nosso presidente Lula nunca foi muito chegado a uma leitura, especialmente dessas que trazem siglas, pois isso implica em prévio conhecimento do significado de cada uma das letras que as formam. Muito esforço... Mas, daí dizer que ele não se dá ao trabalho de ler, isso não é verdade. Lê sim, principalmente quando o texto traz em destaque algumas palavras, expressões, nomes de amigos, ou siglas de sua intimidade, tanto para o bem como para o mal: Deus, PT, poder, Timão, Dilma, Fidel Castro, Hugo Chaves, Ahmadinejad, pinga da boa, mensalão, FHC...

Foi exatamente esta última que despertou o seu interesse. Não estava escrito exatamente FHC, seu Judas da malhação diária, mas LHC. Porém, como é normal ocorrer com as pessoas de leitura rápida e superficial, FHC ou LHC acionaram, em Lula, a mesma área de seu cérebro. “O que será que andam dizendo do meu antecessor? - questionou a si mesmo enquanto puxava os óculos para a ponta do nariz - “Se for crítica, ótimo. “Se for, contudo, elogio, tenho que entrar em ação...”

Custou a entender que não era FHC, a sigla de Fernando Henrique Cardoso, mas LHC, a sigla de Large Hadron Collider, que mesmo traduzida no texto (Grande Colisor de Hádrons) continuava a não lhe fazer qualquer sentido. Leu um pouco mais até sentir aquela costumeira pontinha de inveja, boa inveja é claro... “Se os europeus construíram essa gigantesca máquina em um túnel circular de 27 quilômetros a 100 metros de profundidade na Suíça, por que eu, Lula, o filho do Brasil, não poderei fazer o mesmo, ou melhor, uma maior ainda no subsolo da minha Garanhuns? Coisa chique, hein Marisa, podermos chegar às proximidades de Caetés, você, mais falante do que nunca, para apertarmos o botão da gigantesca máquina que irá a busca do bóson de Higgs” - exclamou entre entusiasmado e profético.

“Mas peraí, Marisa - gritou para a patroa que naquele momento ajeitava os bobs para dormir - Vixe mainha! Que raio de coisa é esse tal de bóson de Higgs? Mas, tá tudinho aqui: é a partícula subatômica que o cientista Higgs teorizou como sendo a responsável pelo início da matéria, também chamada de Partícula de Deus, e que teria - no momento primordial do Big Bang - dado começo a tudo o que conhecemos em termos de matéria no universo. É isso o que essa gente anda a procura.”

“Já sei Marisa. Vou colocar logo no PAC 3 a construção do nosso FHC, ou melhor, do nosso LHC do Nordeste. Vamos à procura da partícula que só eu sei que existe. Ela, quando manipulada magistralmente por mim, como nunca antes na história deste país, deu início ao Brasil que nunca existira até a minha posse em janeiro de 2003 quando de meu primeiro mandato.

Vamos à procura do bóson de Lula, minha tagarela Marisa Letícia...

Edson Pinto
Abril’2010

4 de abr. de 2010

115) NA SIMPLICIDADE, A SABEDORIA...


Jovens! Vocês que freqüentam modernas faculdades de economia, pós-graduação em marketing, mestrado em estratégias empresariais, cursos especializados em técnicas avançadas de gestão de negócios e, avidamente, buscam dominar tecnologias revolucionárias que favorecem o seu sucesso profissional, eu lhes digo de forma peremptória, conclusiva: Esqueçam tudo o que aprenderam!

Esqueçam seus “laptops” e seus “notebooks” que produzem planilhas maravilhosas, seus “twitters” que lhes permitem passar mensagens instantâneas para milhares de seguidores, seus “iPhones” e “blackberries” da vida que acessam a qualquer momento e lugar seus “e-mails” e seus sites prediletos. Esqueçam até mesmo o “iPad” que ainda nem chegou por aqui, mas que já promete internet fácil e “eBooks” como nunca antes na história da humanidade.

Esqueçam tudo isso e procurem a chave do sucesso em coisas bem simples!

No mundo de hoje, quase tudo gira ao redor da mais persistente e essencial de todas as atividades humanas: VENDER . Profissional ou amadoristicamente vendemos produtos, vendemos serviços, vendemos ideias e conceitos, tudo para termos como contrapartida, além do vil metal que sem o qual não conseguimos viver, também coisas menos materiais como simpatias, amizades e respeito, por exemplo.

Estes três últimos componentes, mesmo que não os percebamos de forma consciente, correspondem no fundo à maior parte dos nossos anseios: atrair simpatias para nós mesmos (o ideal humano supremo de ser amado) ou simpatia para com a causa que defendemos; conquistar amigos e sermos respeitados. Eis aí jovens deste mundo moderno, o que de fato vale a pena conquistar!

E não é porque o homem se modernizou que as coisas básicas devessem ser esquecidas como se o novo fosse, necessariamente, sempre o melhor. Não, jovens! Não é necessário irmos tão longe nem no tempo nem no espaço físico para encontrarmos exemplos de que as boas lições de vida encontram-se disponíveis, de forma graciosa, nos lugares mais simples e com pessoas desprovidas dessa sofisticação do mundo competitivo em que vivemos.

Querem ter uma lição disso? Não é preciso mais palavras escritas para provar-lhes o que acabo de dizer. Cliquem na seta do filmete abaixo e assista a dois comerciantes “matutos”, por natureza, mas detentores de uma sabedoria que as Universidades em “Business Administration” não sabem, ainda, como bem transmitir.

LIGUE O SOM...


Edson Pinto
Abril 2010