6 de fev. de 2010

112) A FRIGIDEIRA DA DILMA


Em junho do ano passado publiquei o meu texto de número 76 “Cuscuz Filosófico” em que analiso diversas bizarrices que afrontam no dia a dia o bom senso nacional. Entre vários exemplos, comentei o interessante encontro feminista de Dilma Rousseff que, ao lado de Ana Maria Braga, Adriane Galisteu e Marta ex-Suplicy, prestavam a maior atenção à fala de Luciana Gimenez no exato momento em que a controvertida apresentadora de TV se expressava, com ares filosofantes bem ao estilo socrático, sobre a excelência do cuscuz ali servido. Pura manifestação da “intelligentsia” do nosso País...

Sete meses se passaram e a candidata do PT e do Lula para as próximas eleições a presidente volta, agora, com força renovada e obviamente com vistas aos benefícios políticos que a exposição midiática pode lhe trazer, para renovar sua admiração pela postura filosófica da apresentadora de TV. Nesta última quinta-feira, 4 de fevereiro, lá estava fazendo das tripas coração para preparar uma simples omelete enquanto Luciana Gimenez ia-lhe, mais por bobice inata do que por deliberado apoio político, enchendo-lhe a bola com afagos transcendentais.

Mexe prá cá, mexe prá lá e nada da omelete dar as caras. Como ocorre com o PAC que não deslancha por falta de competência dos seus gestores, fazia-se igualmente necessário encontrar um culpado para o fracasso da trivial tarefa que qualquer dona de casa bem sabe cumprir: Bingo! O problema era a frigideira... Esta sim, tal qual o Tribunal de Contas da União que questiona os gritantes superfaturamentos nas obras contratadas pelo governo impedindo-as de prosseguirem, também, neste caso, a frigideira deveria ser considerada a culpada pela omelete que insistia em não ser finalizada.

A campanha governista já está no ar, disso ninguém tem dúvidas. Ao arrepio da lei e ao custo de crises hipertensivas, Lula já vem, quixotescamente e desde há muito, tentando mostrar para os brasileiros menos atentos que só Dilma será capaz de manter os programas sociais e a estabilidade econômica que - mesmo tendo sido herdada do governo anterior - insiste em afirmar terem começado em 2002 quando se tornou presidente pela primeira vez. Tão afoito com essa intenção de replicar em Dilma o seu estilo de governar que Lula ainda não percebeu que o refrão “nunca antes na história deste País” quando vier a ser usada pela sua substituta matará todas as suas conquistas. Verdadeiro tiro no pé do próprio Lula.

Do enigmático José Serra espera-se logo uma definição para que o embate entre governo e oposição possa ser estabelecido de forma nítida e assim possamos começar a fazer as nossas análises. Para mim, a rotatividade de pensamentos e de governos é salutar para o indispensável arejamento da política. O oxigênio que alimenta a democracia tende a escassear-se quanto mais tempo as mesmas pessoas, as mesmas ideias e a mesma arrogância de poder permanecem à frente dos destinos de qualquer país.

Vença quem tiver que vencer, mas que isso ocorra como fruto do voto consciente de cada um de nós e não pelo engodo dos velhacos prestidigitadores da nossa política malsã.

A propósito, a omelete da Dilma, depois de amaldiçoada a indefesa frigideira, virou um reles mexidinho de ovos que Luciana Gimenez, cândida e em flagrante regressão mental aos seus tempos de criança, achou uma delícia. Dizem as más línguas que em “off” e lançando olhar perdido no infinito teria filosofado de forma shakespeariana para admiração de Dilma:

Omelete? Ser ou não ser, eis a questão!


Edson Pinto
Fevereiro’2010