“Comigo me desavim (desentendi)
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim”
(Sá de Miranda)
Edson, por que o isolamento,
também chamado de quarentena, é necessário para o enfrentamento do coronavírus?
Vou tentar explicar com números e
exemplos, ok? Então siga meu raciocínio:
1) Suponha que o país X, muto bem
organizado por sinal, tenha 1.000 leitos de UTI’s instalados. Cerca, apenas, de
10% deles, ou seja, 100 leitos constituem a reserva para eventualidades.
2) Surge uma nova pandemia, no
caso a do coronavírus que leva à doença covid-19. Para evitar muitas mortes dos
mais vulneráveis esse evento passa a exigir, repentinamente, 4.000 leitos
adicionais de UTI’s durante 5 meses (20 semanas). Média de 800 leitos
adicionais por mês.
3) A ciência já descobriu há
tempos, que os surtos, epidemias ou pandemias grassam de forma irregular. No
início do contágio, se nada for feito, lá pelas semanas 4, 5 ou 6 ocorre um
pico que poderia, por exemplo, exigir, ao mesmo tempo, 2.000 leitos.
4) Obviamente esses leitos não
existem. Mesmo que existissem, todo os demais componentes do sistema de saúde
estariam esgotados. Não haveria médicos, enfermeiros, respiradores,
equipamentos de proteção, remédios e outros prontamente disponíveis.
Consequência: colapso total do sistema de saúde levando a enormes perdas de
vidas que poderiam ser evitadas houvesse recursos adequados.
5) A arma inicial para enfrentar
o inimigo é o isolamento. Com ele, dois resultados são esperados:
5.1) a velocidade do contágio é reduzida
devido ao brusco afastamento social. O pico é evitado.
5.2) a redução das atividades sociais e
econômicas minimiza eventos regulares que demandam leitos de UTI’s,
liberando-os para uso dos casos graves de covid-19
6) Enquanto a população, ao
máximo possível, se isola, o sistema de saúde é incrementado criando muito mais
leitos, mais profissionais são envolvidos, mais respiradores, mais recursos são
alocados para o enfrentamento da doença.
7) Findo o isolamento o sistema
já está pronto para atender a nova demanda agora amenizada. Menos gente
morrerá. A economia voltará gradativamente ao normal, talvez até mesmo mais
vigorosa, mais pujante, mais criativa. É como o pós-guerra que cria
oportunidades de crescimento nunca imaginadas.
Fui claro Edson?
Edson Pinto
4/04/2020