26 de jul. de 2012

210) LULA E SUA TEORIA DA ATMOSFERA IMÓVEL

Todo mundo deve ter tomado conhecimento da teoria de Lula sobre os efeitos nefastos da poluição atmosférica sobre o nosso sofrido planeta. Caso não, então, recordemos:

Durante uma de suas corriqueiras falas em público, mas precisamente em Brasília, no dia 19/06/2009, revelou ao mundo a sua tese de que a Terra gira independentemente da atmosfera que a rodeia. Simplíssimo e objetivo como sempre, deu a todos entender que o dióxido de carbono (CO2) expelido pelas fábricas e automóveis mundo afora sobe à atmosfera e lá fica parado, estagnado, imóvel. À medida que a Terra gira (e gira mesmo, pois disso já sabemos há muito tempo), as várias partes da sua superfície vão passando por aquela atmosfera poluída, paradinha lá em cima. Na teoria sustentada por Lula, incluindo uma complexa reflexão freudiana, a atmosfera permanece imóvel enquanto o globo terrestre gira no seu interior. Assistam ao filmete disponibilizado no final desta crônica para melhor entendimento do tema.

Justiça seja feita! Lula tem noção da esfericidade da Terra. Demonstra, também, saber que há um movimento de rotação e mais do que isso, que a Terra tem a sua própria atmosfera. Só que agora, parece contribuir com um elemento nunca antes considerado em todo o sistema cosmológico já amplamente difundido: A atmosfera da Terra não acompanha o seu movimento.

Eureca!

Ninguém havia pensado nisto antes... Como pode? Galileu Galilei, Isaac Newton e até mesmo Santos Dumont não tinham dado conta disso. Ora, se a atmosfera fica estática enquanto a Terra gira, Lula acaba de detonar uma revolução tecnológica sem precedentes. Arrisco-me a dizer que nenhuma outra descoberta do homem ao longo de toda a sua existência teria tamanho impacto sobre as nossas vidas. Sendo verdadeira essa “Teoria da Atmosfera Imóvel” solenemente enunciada por Lula, e o povão acredita que sim, temos que repensar tudo da Física à Astronomia, passando pelas Comunicações até mesmo aos meios de transporte. Fiquemos, porém apenas com este último:

O avião, tal qual o conhecemos, deixará de existir. Desenterrem Alberto Santos Dumont e dê-lhe infinitas chibatadas como castigo por ter inventado o veículo espacial errado. Usando agora os princípios científicos de Lula bastaria aprimorar os balões que já existiam. Requintados hotéis, em formatos e acomodações que a mente humana viesse a criar, seriam levados à atmosfera, verticalmente, e a baixíssimo custo, pois o gás hélio é abundante. Lá ficariam estáticos esperando a Terra fazer a rotação que lhe é inata.

Das janelas do hotel flutuante passageiros confortavelmente instalados apreciariam o passar dos pontos geográficos: Vejam! Lá vem o Mato Grosso do Sul; agora vem a Bolívia; Vixe, já está passando lá embaixo o Peru; Daqui a pouco vem o Pacífico. O Japão já está visível no horizonte. É onde queremos chegar. Vamos baixar o balão!

Adeus turbinas de jato, aeroportos sofisticados, acidentes aéreos e conseqüências outras da tecnologia arcaica atual.

E os bêbados? Mesmo os que fazem discursos? Sim! Ah! Esses se ergueriam também em balões a espera que suas casas chegassem...

Glupt!!!


Edson Pinto
Julho’ 2012

19 de jul. de 2012

209) UM E NOVENTA E NOVE


Juro que eu fui um dos milhões de brasileiros que esperou com grande ansiedade as revelações bombásticas que Rosane Brandão Malta faria sobre o seu ex-marido, o ex-presidente Fernando Collor de Mello. O Fantástico prometera durante toda a semana passada a abertura do baú de segredos da ex-primeira dama. Frustrante! Para mim, pelo menos, tudo não passou de uma lavagem de roupa suja sem nenhuma contribuição de valia. Penso até que muita gente que odiava visceralmente o ”impichado” caçador de marajás deve agora vê-lo com olhos menos críticos. Ou seria outro o objetivo?

Bem, seja como for, o homem tinha lá suas esquisitices, notadamente as ligadas ao seu apego a ritos religiosos extravagantes. Mas, como no Brasil temos constitucionalmente assegurada a liberdade religiosa, pouco me importa se o deprimido presidente da época tenha ficado três ou mais dias no porão da casa da Dinda meditando e pedindo às forças ocultas que os males que lhe açoitavam se revertessem aos seus causadores. Há gente que fica em retiros espirituais de outras religiões por tempo até mais longo e – ao que parece – isso nunca foi e nem será condenável. Portanto, essa revelação trazida pela ex-primeira dama é irrelevante, isto é, não contribui em nada para a melhoria da vida nacional.

Tinha Collor lá seus segredos e conchavos com o Paulo César Farias, o famoso PC? Ora, isso tinha mesmo... Usou sobras de campanha para reformar a casa da Dinda e ainda comprou uma peruinha chinfrim do modelo Elba da Fiat? Também não temos dúvidas de que sim... Essa promiscuidade entre interesses pessoais e políticos é, como sabemos, o câncer que acomete a vida nacional desde sempre. O desrespeito às leis, às regras, à ética, à moral e a hipocrisia é marca registrada da sociedade brasileira:

O individuo joga lixo pela janela de seu carro e depois reclama que a cidade está suja. Atravessa a rua com o semáforo fechado e depois reclama que os motoristas não respeitam os pedestres. Abre o saco de biscoito do supermercado, para consumo, sem pagar, e depois reclama que os preços estão elevados. Compra o gabarito de um concurso público para ser aprovado, entra ilicitamente no serviço público e depois reclama que o salário é baixo. Na política, extorque empresários, compensa-lhes com contratos lesivos ao erário e depois se posta como guardião da ética e da moralidade.

O que chama a nossa atenção é o fato de o sistema político brasileiro insistir em não aprender com as experiências pretéritas. O que aprendemos com o impeachment de Collor? Nada! Nada mesmo. Se houve, na época, falta de ética e perpetração de vários crimes, o que não dizer dos fatos mais recentes?

Collor reformou a casa da Dinda com os achaques do seu tesoureiro de campanha, mas depois o PT montou o esquema mais sórdido de todos os tempos que foi o Mensalão, utilizando-se das empresas públicas para desvio de dinheiro. Mais recentemente, o escândalo Cachoeira que já começa a nos revelar que bilhões de reais em contratos foram dados para a empresa Delta e que boa parte disso voltou para os corruptos em cargo de mando no País.

As dezenas de escândalos posteriores a Collor, só em desvio do dinheiro público, comprariam todas as Elbas produzidas pela Fiat no mundo. Enquanto isso, quanto das tantas vidas perdidas nas estradas mal conservadas do País, das horas desperdiçadas no trânsito caótico das nossas cidades, do desconforto dos nossos entulhados aeroportos, das escolas mal equipadas e dos professores mal remunerados não poderíamos ter sido reduzidos com o uso correto dos recursos desviados?

Qual a grande lição que poderíamos tirar das revelações de Rosane, ex-Collor, e que nos seria útil como exemplos de que algo mudou para melhor desde que o impeachment acontecera? Na aviação, considera-se que a investigação de cada acidente, por mais inexpressivo que possa parecer, é fundamental para que se aprenda como evitar a sua repetição. Na política, especialmente na nossa, parece que nunca se aprende com o passado. A regra é avançar cada vez mais no erário. É, como conseqüência, taxar cada vez mais o cidadão para ter os recursos que sustentam a malfeitoria.

Rosana, como diz, acredita em Jesuscidência. Seja lá o que isso significa, fica-nos, primeiro, a dúvida se ela só quer rever a pensão de R$18 mil mensais, pois tem uma amiga cujo “ex”, que nem presidente foi, recebe pensão de R$40 mil, ou se quer dar uma mãozinha para recuperar parte do prestígio perdido por quem ela considera ser seu “Ex My Love”? Certeza, contudo, é a constatação de que se o amor de Rosane e Collor for colocado na vitrine dificilmente valerá um e noventa e nove...

Edson Pinto
Julho’2012

12 de jul. de 2012

208) REVELADOR É O SONHO


Há sonhos desagradáveis, outros assustadores, vários incoerentes e, até mesmo, alguns bem engraçados. O que há em comum a todos eles é a possibilidade de deles tirarmos ilações com situações reais. Conscientemente, nunca me preocupo em interpretar o significado dos meus sonhos como se estivesse à busca de revelações de desejos retidos e não aflorados por força do repressor superego que regula a nossa vida social. As interpretações que eventualmente me ocorrem vêm-me apenas de forma espontânea.

A minha abordagem é única e muito simples, pois não tem o caráter cientifico dado ao assunto por Freud e Jung, muito menos o sentido premonitório do qual muito bem se serve as varias religiões. Sempre imagino que, durante o sono, a nossa mente, ao repassar os fatos vivenciados em momentos recentes e com o intuito de registrá-los no nosso HD interno, dá-nos a oportunidade de fazer ligações criativas entre eles. O sonho seria, então, nada mais do que o emprego da nossa criatividade inata para misturar tais fatos numa curiosa e divertida maçaroca mental, às vezes, contudo, reveladora...

Vou lhes contar o sonho que tive depois desses últimos e marcantes episódios de lambança da política nacional:

O mundo havia progredido estupendamente tal qual se apresenta nos dias de hoje: Internet, telecomunicações magníficas, avanços da medicina, viagens espaciais, aviação supersônica e até mesmo o bóson de Higgis já fazia parte do nosso cotidiano. Apenas uma coisa não havia progredido. E não vem ao caso especular o porquê disso, porque, como já disse, sonho é sonho...

O homem, misteriosamente, não tinha inventado o automóvel. Nem o movido a motores de combustão, nem os elétricos ou quaisquer outras formas para se locomover mais celeremente pelas nossas vias públicas. Apenas as carroças, as charretes e as carruagens, todos de variados modelos e tamanhos, continuavam sendo o meio de transporte por excelência.

Não existia Indústria Automobilística, mas sim a importante Indústria de Carroçáveis e o próspero negócio da criação de animais para tração. O interessante é que essa Indústria progredia apesar desse simples detalhe, a falta de motorização. As carruagens mais luxuosas vinham dotadas de itens de fábrica, como GPS, modernos sistemas de som, acesso à Internet, ar-condicionado, suspensão a ar, e acreditem, até sistemas de blindagem para maior segurança daqueles que podiam pagar por modelos mais caros. As categorias de carroças e charretes mais ao alcance das classes menos favorecidas também incorporavam tecnologias inovadoras, embora marcassem nitidamente as diferenças sociais prevalecentes na sociedade.

São Paulo já tinha mais de sete milhões de carroças, charretes e carruagens circulando pelas mesmas vias de hoje. O constante aumento do IPVTA (impostos sobre propriedade de veículos por tração animal) atormentava cada vez mais a vida da classe média. O uso do celular, enquanto se açoitava os animais propulsores, virou uma fonte de arrecadação das mais importantes para a prefeitura. Os radares fotografavam animais que passavam de 20 km/h e os congestionamentos constantes paravam a cidade. Como as carruagens chegavam a ter até quatro cavalos e como mais gente ascendia às classes sociais de maior poder aquisitivo, já existiam mais animais para serem alimentados e poluir do que gente.

Uma nova modalidade de roubo virara praga nas grandes cidades brasileiras. Já não mais se roubava apenas a carroça, a charrete ou a carruagem. Virara moda trocar os cavalos. Desatrelava-se da carruagem alheia um legitimo e vistoso cavalo bretão colocando-se um pangaré em seu lugar. Em compensação não havia motos. Algo parecido, sim. Entregas rápidas eram feitas por cavaloboys com bauzinhos instalados nos traseiros de cavalos enlouquecidos que cortavam carroças, charretes e as carruagens sempre em desrespeito aos semáforos e com direito a chutes nos retrovisores das luxuosas carruagens que lhes impediam a passagem.

Tudo bem, não fosse o maior de todos os problemas ainda sem solução: a lambança das vias públicas. Mesmo com o Código de Trânsito aplicando pesadas multas para os proprietários de animais que se aliviavam no leito carroçável, não havia como impor essa disciplina aos inocentes quadrúpedes. Avenidas de grande movimento só podiam ser atravessadas, a pé, com o uso de pranchas que surfavam sobre os excrementos em estado de quase liquefação.

Um eloqüente ex-presidente em exercício continuava jurando que nunca na história deste País o povo fora tão feliz, tão moderno, tão rico. O mar de malfeitos que rolava nos bastidores da política não era nada em face ao mar de excrementos que o progresso social, infelizmente, tinha imposto como contrapartida. A descoberta cientifica do grande prócere de que a Terra, por não ser quadrada, nem retangular, nos levava a preocupar com a circulação mundial dos poluentes ganhava força, mas não resolvia o problema crucial do mar de titica que já se fundira ao mar de malfeitos. Ambos não subiam à atmosfera para serem compartilhados por outros povos quando só a Terra girasse. A situação estava, portanto, insustentável...

Foi aí que, nauseado, acordei. Não tardou até que, cheio de felicidade, me dei conta de que o veículo automotor já existe desde há muito e que os cavalos só nos são úteis no esporte e na recreação. O mar de excrementos que atormentava o meu sonho, felizmente não existia. Muito contente, agora, pois a nos flagelar resta-nos apenas o mar de malfeitos. Mas, com este, já começamos a nos acostumar... Paciência!

Edson Pinto
Julho’ 2012