26 de out. de 2014

279) MEDO E ESPERANÇA


Estamos vivendo uma semana de grande expectativa quanto ao resultado da eleição deste domingo, 26 de outubro de 2014. Agora, quando começo a escrever este texto, são 17h20 da quinta-feira, 23/10, portanto, há menos de três dias do pleito. Por sinal, o pleito eleitoral que apresenta - sem precedentes históricos – um enorme potencial para mudar a vida de todos nós, brasileiros.

Pensei: Vou realmente começar a escrever agora mesmo, mas com a ideia de finalizar o texto somente no domingo, quando a apuração das urnas já tiver nos revelado quem será o novo presidente da República. Ao fazer isso, tenho em mente conseguir registrar com a maior fidelidade possível o que as informações disponíveis nos dois momentos me propiciaram de emoções verdadeiras. Vou manter esta primeira parte inalterada para só, no domingo, escrever o seu complemento.

ANTES DO PLEITO (23/10)

Acabo de ver a nova pesquisa do Datafolha liberada há minutos. Ela me traz, com espanto, a informação de que Dilma atingira 53% dos votos válidos e Aécio 47%. Se verdadeira, Dilma será reeleita. É espantoso porque a pesquisa revela uma virada sem nenhuma correspondência com tudo o que temos visto desde a semana passada. Aécio com o seu discurso lógico, seu bom programa de governo, sua competência de bom administrador, seu carisma e postura de verdadeiro estadista contrapunha-se de forma arrebatadora ao amontoado de calúnias que vinha sendo a marca da campanha de sua adversária.

Nas redes sociais - só não vê que não quer - a grande adesão dos internautas ao nome de Aécio. Estou estarrecido e torcendo para que esses institutos de pesquisa estejam novamente errados. Meu sentimento neste instante é de tristeza e profunda apreensão. Vejo o País sendo dividido pelo ódio plantado pelos petistas e especialmente pela exótica figura do ex-presidente Lula. Penso que será um retrocesso sem precedentes na vida do Brasil e, infelizmente, não apenas um flerte como nos tem parecido até agora, mas sim o casamento com o regime retrógado e totalitário bolivariano.

Meu Deus! Quão precária é a democracia que permite que toda uma nação seja submetida, por força da manipulação de gente simples que é comprada com os benefícios assistencialistas na base do “dar o peixe, mas não ensinar como pescá-lo”. Estou apreensivo e com medo pelo que poderá afetar o futuro dos nossos filhos, dos nossos netos e de todos que mantém esperanças por um Brasil melhor.

AINDA ANTES DO PLEITO (26/10, pela manhã):

Passei os últimos dois dias lendo e analisando tudo o que surgiu sobre as eleições. Os debates e especialmente as novas pesquisas. Minha ansiedade continua oscilando entre o medo e a esperança. O sentimento que me domina é equivalente àquele de ver o goleiro do meu time obrigado a defender a cobrança de um pênalti decisivo. Paro de escrever o texto exatamente agora, 17h, e vou - com o coração na mão e certo amargo na boca - ver o que a TV nos mostrará logo mais. Agora, é torcer...

DEPOIS DO PLEITO (26/10, 21h)

Meu relógio marcava poucos minutos após as 20 horas quando ouvi o resultado final favorável à Dilma. Instantaneamente interagi e compartilhei com amigos da rede social na internet o meu desapontamento com o resultado. A esperança que me alentava a alma e fortalecia a minha torcida pela vitória de Aécio Neves partia da quase certeza que tinha de que em Minas haveria uma virada em favor do seu grande ex-governador. Não aconteceu. É difícil - e eu pessoalmente já vinha constatando isto quando conversei nos últimos dias com pessoas que têm parentes que usufruem do “Bolsa Família” - fazer as pessoas entenderem que um novo governo Aécio não lhes tiraria os benefícios que recebem. E Minas Gerais, como sabemos, é o estado mais dividido socialmente que temos na federação. Rico até a sua metade e extremamente pobre, por isso dependente dos programas sociais do governo federal, na sua parte de cima.  

Temo que, com o País dividido  como agora se afigura, venhamos a assistir a um acirramento dos ânimos e como consequência uma guinada para o famigerado regime bolivariano que tanta desgraça tem propiciado a muitos de nossos irmãos latino-americanos. Posso até manter esperanças de que a presidente reeleita consiga recompor sua equipe e se cercar de gente responsável para fazer o que não conseguiu fazer até agora. As frutas podres que se encontram no mesmo cesto – a menos que sejam rapidamente retiradas – tendem a contaminar todas as outras.

Se a economia não for reformada e o País não voltar a crescer, caminharemos para dias muito difíceis que comprometerão a nossa vida e nosso futuro. Está na hora de entendermos que o peso tributário que recai sobre os ombros dos que pagam os impostos mais elevados do mundo nos tem feito mais escravos do que os verdadeiros escravos que vieram da África para construir o País em seus primórdios.

A sociedade não suportará mais tanto sacrifício se não tiver certeza de que a sua pesada contribuição em impostos se transforma em retorno para todos. Sem isso, infelizmente, o nosso medo atual, ao invés de se tornar em esperança, pode se acirrar e se solidificar em mais medo. E isso, nós não merecemos mais...

Edson Pinto

26/10/2014

18 de out. de 2014

278) A ALDEIA GLOBAL

Quem diria que há apenas poucos anos, nós os brasileiros, tal qual já acontece desde sempre quando o assunto é futebol, também nos tornaríamos fanáticos por política, especialmente quando em momentos - como agora - temos eleições presidenciais? Debates políticos na TV, notícias frequentes, atualizadas, assustadoramente reveladoras e comentários abundantes nas novíssimas redes sociais da internet tem levado o debate político a níveis jamais imaginados. Vivemos outros tempos e isso merece uma análise:

Desde o início dos anos 60 o mundo vinha se familiarizando com a expressão “Aldeia Global” cunhada pelo filósofo canadense Marshall McLuhan. Em 1962, publicou o seu famoso livro “A Galáxia de Gutenberg” e mais tarde, em 1964, o já conhecido por todos aqueles que cumpriram a matéria de Sociologia ou Comunicações ou análogas nas Faculdades o mais emblemático de seus livros “Os Meios de Comunicação como Extensão do Homem”.  

O que há por trás deste termo Aldeia Global que merece ser entendido? Tão forte como simples, ele nos diz que dois conceitos fisicamente opostos, “Aldeia” que denota uma pequena comunidade onde a comunicação, por razões obvias, é rápida e abrangente, mas limitada e, “Global” que nos remete à extensão máxima do mundo implicando exatamente o contrário, isto é, pela grande extensão e distâncias a comunicação não deveria fluir nem rápida nem de forma abrangente como ocorre em uma prosaica aldeia.

Ao juntar “Aldeia” com “Global” ficamos com uma aparente impropriedade. Se for aldeia, algo local, não pode ser global, algo extenso ao seu máximo possível, exceto, é claro, pela maravilha propiciada pelas novas tecnologias da comunicação eletrônica farta. Consideremos hoje, e de forma especial, as telecomunicações e as redes mundiais como a internet. Estas tecnologias que nos assustam a cada momento com as suas permanentes evoluções tem nos colhido de surpresa. Não falo de surpresas ruins como muitas das coisas que ocorrem no mundo, mas de surpresas interessantes, estimulantes, desafiadoras que mais do que em outras épocas tem transformado de modo radical a maneira de nos relacionar socialmente.

Assim, se eu posso receber no momento uma informação que venha de outra parte do mundo e interagir com ela, envolvendo meu ciclo de relacionamento, eu estou agindo tal qual agiria se o estivesse restrito à minha pequena aldeia. Ficamos todos interconectados de tal modo que a antiga lacuna de informações que nos impedia de sermos cidadãos ativos e participativos deixa de existir. A imprensa que vem desde Gutenberg no século XV teve o mérito de nos abrir a janela para o mundo fora da nossa aldeia, mas ela, enquanto jornais, livros e revistas apenas impressos em papel ainda era insuficiente para nos permitir a rápida interação que temos hoje. Só com os meios eletrônicos modernos, o telefone, o rádio, a televisão e agora culminando com a internet é que conseguimos trazer o mundo para dentro de nossa aldeia e interferir no seu desenrolar.

Peguemos esta pequena maravilha que é o Smartphone! Recebemos pelas redes sociais as quais estamos ligados ou de sites de notícias, informações instantâneas que complementam as que já havíamos recebido no jornal impresso diário, da TV, revista semanal ou mesmo aquelas que ouvimos de parentes, de colegas do escritório ou quaisquer outras fontes. Imaginem vocês o quão diferente isso era há apenas uma geração: Afora os jornais impressos e de acesso elitizado, tudo o que se dizia sobre a política, especialmente sobre as eleições que porventura estivessem por ocorrer, era fruto tão somente do que os candidatos verbalizavam em seus comícios e em peregrinações seletivas. Falassem verdade ou mentira, não havia tempo para se aferir com antecedência ao dia do pleito se aquilo era uma informação boa, correta, importante ou por outro lado, falsa, preocupante ou desonesta. A democracia era, dessa forma, exercida de maneira – digamos – precária.

Nos dias de hoje é tudo bem diferente. A Aldeia Global nos propicia tudo de forma instantânea. O debate de ontem, por exemplo, que pode ter sido ou não assistido diretamente na TV, pelo rádio ou mesmo online na internet já foi profundamente esmiuçado e divulgado e as pessoas que por ele se interessam não só puderam fazer seus juízos de valor como até mesmo interagir de maneira participativa. Ouvem-se as opiniões de amigos ou mesmo de pessoas que nunca viram, mas cujas ideias podem fazer sentido ou não. Política, então, passou a ser um assunto também interessante. E tudo que é interessante tende a virar paixão...

Não sei se isto está acontecendo com você, meu amigo, mas comigo e com muitos que me são próximos temos sentido que esta eleição presidencial tem se mostrado muito emocionante a ponto de se igualar a eventos de paixões já consagradas como o futebol. Penso que – para o bem de todos nós – o Brasil político não será mais o mesmo após esta eleição de 2014. Não só porque muitos dos que não nos agradam serão substituídos no Legislativo e no Executivo, mas porque o brasileiro, graças à Aldeia Global agora viabilizada e consolidada pela comunicação farta, fácil e barata, tendem a nos tornar cidadãos mais interessados no destino do País. Afinal, quando nos mostramos desinteressados pelos rumos do País estamos renunciando ao nosso sagrado direito de interferir no destino de nossas próprias vidas.

Bem ou mais informados como parece que já estamos agora, só nos falta irmos às urnas no dia 26, domingo da próxima semana, e clicar alguns poucos números. Depois é torcer para que o resultado seja o melhor para o nosso País. E será...

Edson Pinto

Outubro’ 2014