26 de fev. de 2015

287) CONTROLE DE PESO


Quando ficamos com sobrepeso - desde que isso não seja causado por uma doença, coisa que nos deve levar ao médico -, sabemos que a solução é uma boa dieta. A máquina, neste caso o nosso corpo, está sendo abastecida com mais insumos do que precisa para cumprir seus objetivos. O que excede vai para as células adiposas numa espécie de depósito inútil. O corpo, assim mais pesado, começa a exigir mais insumos para ser sustentado e um círculo vicioso se instala no organismo: mais gordo, mais alimento, mais gordo...  As consequências disso, nem é preciso falar, pois são as piores possíveis.

Em uma empresa, em uma organização qualquer ou mesmo no governo o fenômeno igualmente se repete. As estruturas vão sendo alimentadas quase que por inércia e inchando tal qual acontece com o corpo humano que se alimenta descontroladamente. A cada ano novos funcionários são orçados e admitidos para atender às novas necessidades. As necessidades novas, ou mesmo antigas, podem desaparecer por razões várias, mas a estrutura, se não tiver controle, se ajeita para acomodar aquele sobrepeso. Está aqui a semelhança entre o corpo humano e as estruturas organizacionais.

Tal qual o gordinho que percebe que algo vai mal com a sua vida e toma as providencias corretivas necessárias, as empresas também – com raras exceções, é claro –, são, até mesmo por uma questão de sobrevivência, levadas à adoção de dietas. De como isso é feito falarei mais adiante.

As organizações privadas que dependem de fluxo financeiro escasso também são forçadas a isso. Não se pode dizer o mesmo das estruturas da máquina estatal, por três razões básicas: (1) Os cargos públicos de comando têm, em geral, caráter transitório. Isto significa que a preocupação pelo aumento da eficiência da máquina torna-se menos importante que outros propósitos do gestor. Neste caso este tema nunca é prioritário. (2) O chamado instituto da estabilidade que torna quase impossível a demissão de pessoal e (3) O poder desmesurado do governo de tributar e de endividar-se para suprir de forma quase infinita a sua necessidade de recursos para sustentação de sua obesidade.

Por experiência profissional vou discorrer, brevemente, sobre uma das formas pela qual uma empresa que percebe os malefícios de seu sobrepeso age: Existem consultorias especializadas em análise de custos das organizações que podem ajudar nesta tarefa, porém não vem ao caso citar aqui a metodologia que adotam. Em geral, trata-se de um processo bem simples:

(1) Todos os funcionários devem listar, com a ajuda de um consultor, as tarefas que fazem; o tempo que gastam com elas; a frequência; os custos envolvidos e para quem o produto de seu trabalho se destina (exemplo: relatório semanal tal enviado ao setor qual...). Pede-se ainda a identificação das tarefas quanto à sua importância segundo sua própria avaliação. 

(2) Depois de tudo levantado, entrevista-se as pessoas que são beneficiárias dos produtos dos serviços indicados pelos outros. Aqui, novamente, se pede para identificar os tais produtos pela sua importância que têm em seu próprio trabalho.

(3) Finalmente, a análise identifica de forma clara o que tem pouco ou nenhum valor e aí se efetua os cortes de despesas e pessoal correspondentes à reorganização que disso decorre. Toma-se assim uma decisão consciente e praticamente isenta de erros. A empresa corta seus excessos de gordura e fica enxuta para enfrentar com maior eficiência as condições do mercado em que atua.

As perguntas que não querem calar são muito simples:

(1) Por que os governos não fazem o mesmo em suas inúmeras repartições, secretarias, departamentos, ministérios e outros órgãos sob a sua responsabilidade, ao invés de somente determinar o aumento de impostos e de sua divida?

(2) Quando teremos um governo sério e corajoso o bastante para criar condições de cortar a própria gordura e com isso tornar a máquina pública menos custosa?

(3) Será que os governos têm consciência de que se nada for feito neste sentido atingiremos em breve a uma situação insustentável que pode nos levar de novo ao FMI como a Grécia agora depende da ajuda da Comunidade Europeia?

Imaginem quanto trabalho inútil e funções redundantes não existem dentro da máquina pública. Quanta gente fingindo que trabalha e sendo mantida pela mal aplicada instituição da estabilidade ou porque tem sustentação política. Somos todos nós, os contribuintes, que pagamos a conta dessa ineficiência.

Até quando suportaremos essa irresponsabilidade?

Edson Pinto

Março’2015 

17 de fev. de 2015

286) O CARNAVAL E A LEI DE MURPHY


Pode parecer estranho, mas o Carnaval e a Lei de Murphy têm muito em comum.

__ Dá pra explicar?

__ Claro que sim!

__ Primeiro, as definições básicas:

Carnaval: Se você é daqueles que aguardam com ansiedade a chegada do Rei Momo; põe uma fantasia ousada e sai por aí um tanto chumbado, cantando, “Mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar”, então você sabe muito bem do que se trata. Neste caso, fica dispensado de ler o restante deste parágrafo. Se, contudo, não for esta a sua situação, considere que o Carnaval é, de fato, um gigantesco acontecimento popular, anual, heterogêneo quanto à diversidade de seus costumes, culturas e religiões e que se caracteriza pela suspensão temporária de toda forma repressiva de censura pela quebra das convenções sociais e especialmente dos apelos eróticos. Tem muito de escracho. Falei!

Lei de Murphy: Coisa de americano; é claro! O engenheiro militar se chamava Eddy Murphy, quando, no final dos anos 40, em decorrência de erros em experimentos científicos com pilotos da Força Aérea sacou a máxima de que “tudo o que pode dar errado, dará”. De tão simples, concisa e objetiva não tardou até que essa frase virasse lei e se desdobrasse em inúmeras aplicações práticas. Hoje, não há um só lugar no mundo em que a lei de Murphy - para o bem ou para o mal - seja ainda desconhecida. Há até – imaginem – um paradoxo nisso envolvido: Trata-se da teoria do Gato Flutuante. Sabemos duas coisas: Pela lei de Murphy “o pão cai sempre com o lado da manteiga para baixo”. Na prática - pela agilidade que tem - o gato sempre cai de pé, não é mesmo? O que, então, aconteceria se amarrássemos - como mostra na ilustração deste texto - um pão com manteiga nas costas do gato? Assunto para outro texto, ok?

Na minha análise, carnaval e lei de Murphy se identificam precisamente naquele ponto em que as pessoas se sentem completamente à vontade para fazer o que querem, libertas que se sentem - mesmo que momentaneamente - de suas amarras convencionais. Nenhum homem que seja normal coloca nádegas postiças, de borracha, em referência ao bumbum da Paola Oliveira e saí por aí sem cometer transgressões. E, transgressão, como sabemos, pode levar a erros, dependendo, é claro, do ponto de vista de cada um. No final deste texto você pode inferir a própria conclusão...

Se você, contudo, é do tipo que prefere aproveitar o período momesco para ficar na tranquilidade do seu lar, refletindo sobre a vida ou mesmo executando aquelas tarefas que havia postergado desde há muito, saiba que nem assim você se livra da lei de Murphy. No que me toca, fiquei este ano neste grupo. Enquanto a televisão transbordava de nudez explícita, entre espiadelas necessárias, pois ninguém é de ferro, e não tendo muito mais o que fazer, liberei minha mente para vasculhar em seus recônditos lições de vida que a lei maior de Murphy já poderia ter codificado.

É o que agora reporto sobre o meu particular carnaval:

A) CONFIGURANDO O NOVO SMARTPHONE: “Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual” Assim reza o caput do artigo 3 da lei de Murphy. E há parágrafos outros que também caem com perfeição: “Tudo leva mais tempo do que o tempo que você tem disponível”; “Quando um trabalho é mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo piora”; Desta forma, nada mais de prático me restou senão pedir ajuda à minha neta de 13 anos. Funcionou...

B) CONSERTANDO O ASPIRADOR DE PÓ: ”As peças que exigem maior manutenção ficarão no local mais inacessível do aparelho” Como uma das peças me caiu das mãos e eu tentei agarrá-la logo me veio outra alínea do parágrafo anterior da mesma lei: “Qualquer esforço para se agarrar um objeto em queda provocará mais destruição do que se deixássemos o objeto cair naturalmente”. Estrepei-me, é óbvio. Aí vieram à memória dois outros artigos: “Inteligência tem limite, burrice não”; “Quando algo cai no chão sempre rola para o canto mais inacessível do aposento. A caminho do canto, o objeto sempre acerta primeiro o seu dedão” Decidi, por fim, comprar um aspirador novo...

C) AMIGOS FICARAM DE TELEFONAR: Deixei ao lado do telefone, caneta e papel. Há sempre o que se anotar em função da conversa... Bem que Murphy colocou em sua lei no artigo 15: ”Quando te ligam, se você tem caneta, não tem papel. Se tem papel não tem caneta. Quando tem ambos, ninguém liga”. Foi o que aconteceu... Por isso, resolvi tomar banho, sem antes sofrer outra penalidade “murfiana”: “Mesmo o objeto mais inanimado tem movimento suficiente para ficar na sua frente e provocar uma canelada” E como dói! E tem mais: “Todo corpo mergulhado numa banheira faz tocar o telefone” Foi o que aconteceu, de novo...

D) RECONFIGURANDO O DESKTOP: Entrou vírus na máquina. Não pode ser um grande problema, exceto se prevalecer o artigo 54 da lei de Murphy, aquele que diz “O vírus que o seu computador pegou só ataca os arquivos que não tem backup” Xiii... Bingo! Tenho que chamar o técnico. Agora virá aquele garoto ainda adolescente de óculos fundo de garrafa que dará milhares de toques em poucos segundos e depois me cobrará R$100,00. Bem feito! Quem me mandou abrir qualquer arquivo? O perigoso é o inciso 3º do artigo 56 da mesma lei que reza: “Seja qual for o defeito do seu computador ele vai desaparecer na frente de um técnico retornando assim que ele se retirar”. O único jeito é pagar em cheque e sustá-lo - se ainda houver tempo - caso o problema persista...

E) ATUALIZANDO SOBRE POLÍTICA: Jornais, revistas, internet, redes sociais me inundam de notícias sobre como andam as coisas no mundo e mais especificamente no “patropi”. Claro, Murphy previu isso também; “A luz no fim do túnel é um trem vindo em sentido contrário” Poucas esperanças! Ficamos com a estabilidade do Plano Real por muito tempo. Aí dona Dilma resolveu abrir mão dela. Murphy cravou no artigo 13 “Se você tem alguma coisa há muito tempo, pode jogar fora. Se você jogar fora alguma coisa que tem há muito tempo, vai precisar dela logo, logo” É o que está acontecendo. Voltamos ao começo. Socorro! O tripé econômico do Plano Real sucumbiu (regime de câmbio flutuante; superávits primários das contas públicas simbolizando a responsabilidade fiscal e sistema de metas para a inflação). “Quando político fala em corrupção, os verbos são sempre no passado”, perceberam? Está também na lei de Murphy. Só se fala em Petrolão, depois vem BNDES, et caterva... Quem segura este rojão?

Como “as variáveis variam menos que as constantes”, também previsto na lei de Murphy, penso, por fim, que aquele que colocou o par de nádegas da Paola Oliveira e saiu de casa se deu melhor. Ao cair na folia espero só que não tenha deixado ocorrer o que prevê o artigo 57 da lei em questão: “Se ela está te dando mole, é feia. Se é bonita, está acompanhada. Se está sozinha, você está acompanhado”.

Afinal, tudo é carnaval e tudo pode... Se você aceitou a reencarnação e mesmo assim acha que a vida é uma droga não se esqueça de que “Nada é tão ruim que não possa piorar” Passado o Carnaval - espera-se – o Brasil há de começar a funcionar e de dar certo.

Xô com a lei de Murphy, porque do Carnaval não abrimos mão!

Edson Pinto

Fevereiro’2015