26 de nov. de 2010

146) CURTÍSSIMA REFLEXÃO SOBRE A VIDA

Se você tivesse vida eterna e pudesse marcar uma simples gota d’água para rastrear-lhe o percurso, confirmaria o que a ciência já descobriu: Ela ficaria rápidos 10 dias na atmosfera na forma de nuvens até que precipitasse como chuva. Em seguida, por apenas mais 13 dias fluiria por córregos, rios ou outros fluxos continentais até que desaguasse no mar, nos oceanos. Lá, então, permaneceria por longos 36.000 anos, ou seja, 13.140.000 dias até que, pela evaporação, voltasse ao céu para, reencarnada, recomeçar todo o ciclo. Só para se ter uma ideia, uma gota da chuva de ontem que causou transtornos na cidade de São Paulo repousava nos oceanos desde que caiu pela última vez quando os hominídeos ainda começavam a registrar suas pinturas rústicas em cavernas, e sequer haviam chegado às Américas.

Costumo pensar nisso quando me dou a refletir sobre a desproporção da trajetória de nossa própria existência: Somos uma gota d’água flutuando acima de tudo e de todos por um átimo. Depois, empreendemos uma trajetória igualmente fugaz no curso da vida para finalmente repousarmos uma eternidade no oceano metafísico, de onde, como nos disse Shakespeare, nenhum viajante jamais voltou para nos dizer como é.

Qual parte do ciclo deveria ser a mais importante? A que dura apenas um breve instante ou a que, de tão longa, beira a infinitude? Quiséramos, todos, termos uma resposta sábia para essa dúvida, mas, é difícil, senão impossível. Por isso, de minha parte, sigo conjeturando: Seria a mais longa porque é nela que se encontra a essência, a síntese de tudo, o amor pleno e definitivo? Mas, por que não, também, a transitória se ela nos predispõe para o principal e se é exatamente quando nos damos consciência do que de fato nos compete nesse ciclo? Valeria à pena chover sobre os oceanos apenas para não termos que sentir as dores de rolar morros, seguir rio abaixo, enfrentar obstáculos, limpar chagas e romper barreiras até o destino final, esquecendo-nos de que em contrapartida colheremos o prazer de matar a sede e banhar a ninfa?

É o temor ao mistério do que nos reserva o pós-vida que pauta a nossa conduta nesta exígua existência terrena. O prazer não há de estar só no repouso oceânico longo, mas também no enfrentamento dos desafios do curso escasso. É compreensível que a maioria pense que a vida é uma mera transição para o destino final onde paira a paz serena. Mas, por que também não pensarmos na vida como uma espécie de férias-prêmio que as almas eternas às vezes fazem por merecer?

Você gozaria plenamente suas merecidas férias ou as passaria como se continuasse ainda no trabalho?

Edson Pinto
Novembro’2010

18 de nov. de 2010

145) QUESTÃO DE FÉ

Havia combinado com minha mulher dar um pulinho até o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, ou simplesmente, Aparecida do Norte, que não visitávamos há vários anos. Dista a apenas e exatos 168 km de São Paulo, no vale do Paraíba paulista. Em condições normais de trânsito, é tarefa para menos de 2 horas de estrada com direito a um pitstop no Frango Assado, a meio caminho.

Coisas da fé para agradecer - in loco - algumas graças alcançadas e ao mesmo tempo renovar pedidos para outras. É sempre bom estarmos quites com os céus, pois o temor pelas consequencias de eventual inadimplência nesta matéria nos torna menos propensos a continuar pecando sem limites. Domingo, 14, véspera de mais um feriado desses tantos que já começam a nos dar a fama de povo pouco trabalhador, o Dia da Proclamação da República do Brasil. Nada mais justo, então, do que professar a fé em um dia e comemorar, no seguinte, a troca da monarquia vitalícia, de sangue azul, pela monarquia quadrienal, renovável por mais quatro. Pareceu-nos, deste modo, uma programação tão lógica quanto nobre.

Carro fora da garagem! Dia de pouco sol, um tanto carrancudo, mas de temperatura agradável. O plúmbeo das nuvens não chegava a tão intenso como são as cúmulos-nimbos portadoras de dilúvios e trovoadas, mas, sim, de um cinzento médio, baixas, típico das cúmulos-estratos que trazem precipitações em doses bem moderadas. Para quem deixou de ir à praia, ao contrário do que fazem milhões de paulistanos, até que aquilo funcionava como certa compensação psicológica. Vai chover! E neste caso, é melhor dar as caras em um santuário para professar fervorosamente a crença em Quem nos redime dos males da vida, do que em uma praia com a mundana babaquice de ficar maliciosamente classificando de zero a dez os bumbuns da temporada.

Ao avançarmos pela marginal do Tietê já começamos a ver diferenças: Quem vive nesta cidade há décadas, como eu, há de se lembrar da feiúra que era o trecho do Rio Tietê entre a Penha e o Cebolão, no início da Castello. O rio e a avenida marginal antigos, com suas barrancas irregulares, matagal descuidado, pistas estreitas, precárias e o pútrido odor que exalava de suas águas poluídas agora nos parecia bem melhor. Não se pode dizer ainda que, em dias muito quentes, não sintamos a fetidez emanada de suas águas turvas de esgoto não tratado que lhe é jogado nas veias, mas, o leito do rio, agora desassoreado; as suas margens regularizadas e cimentadas e as milhares de árvores recém-plantadas já começam a dar a ideia de uma nesga ciliar. As pistas da avenida marginal aumentadas, com novo asfalto; novas iluminação e sinalização predispõem-nos para um passeio prazeroso. Afinal, era domingo, “pé de cachimbo, o cachimbo é de barro, bate no jarro, o jarro é de ouro”...

Em pouco mais de uma hora já tínhamos vencido toda a Marginal do Tietê, entrado na Ayrton Senna, passado por Guarulhos, conectado com a Rodovia Presidente Dutra, passado por Arujá, Jacareí, São José dos Campos, Caçapava e chegamos à Taubaté. Deste ponto até Aparecida - iríamos ainda passar por Pindamonhangaba e Roseira - seriam mais 42 quilômetros e finalmente a Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Mas, de repente, um congestionamento monstruoso. Um “anda-pouco-para-muito” se estabeleceu pelas próximas 4 horas. Apenas 20 dos 42 quilômetros finais haviam sido percorridos. Parecia-nos que todos os brasileiros - e olha que somos milhões - decidiram visitar no mesmo dia a virgem em seu santuário. A tarde já ia longe quando decidimos, no primeiro retorno possível, abortar a viagem.

De volta à casa, vejo na Internet e depois me confirma o noticiário da TV: “Foram 11 horas de congestionamento no caminho de Aparecida. Policiais que trabalham há mais de 20 anos na Dutra dizem nunca ter visto um movimento como este; 42 quilômetros de lentidão. Balanço preliminar do Santuário Nacional aponta 235.000 visitantes na cidade, neste domingo, 14 de novembro de 2010. A cidade lotou e os visitantes só conseguiam parar seus carros na estrada a quilômetros do Santuário”

Agora, sentado diante o meu computador e com a frustração de ter perdido o dia entre automóveis, caminhões e ônibus às dezenas de milhares, fico a me questionar:

__ Será que Nossa Senhora Aparecida nos perdoará por não termos nos esforçado o suficiente para chegar até a sua casa? Faltou-nos fé?

__ Será que há pecadores em excesso e estrada de menos, ou será que deveríamos pecar e pedir menos, de tal modo a reduzirmos as visitas ao seu santuário?

__ Será que as agruras do congestionamento já não fazem parte da penitência pelos erros que vimos cometendo?

Tudo é possível, inclusive a ideia que acaba de me ocorrer: Que tal se Nossa Senhora, considerando nossa dificuldade de locomoção e incompetência em planejar visitas em momentos mais adequados, passasse a nos permitir contatos com Ela pela Internet? Assim, diretamente de nossas casas, de onde, como tudo indica, em breve já não conseguiremos mais sair, possamos rogar-Lhe perdão pelas ofensas e pedir-Lhe que interceda em favor de nossas misérias, especialmente para iluminar as mentes dos planejadores públicos da área de transporte. Quem sabe se, assim, o trem-bala a ser construído entre São Paulo e o Rio de Janeiro, de fato, considere uma estação na cidade de Aparecida.

Edson Pinto
Novembro’2010

12 de nov. de 2010

144) JABUTICABEIRA ALUGADA

Não faz muito tempo, a vida dos jovens era bem mais simples do que hoje, mas, nem por isso, menos interessante:

Num final de semana, o programa da turma do bairro podia se resumir a uma pelada de futebol em campinhos improvisados nos terrenos baldios da vizinhança; uma hora dançante ou bailinho no porão da casa de um amigo quando da vitrola ouvia-se Nat King Cole, Ray Conniff, Paul Mauriat, Beatles ou mesmo Roberto Carlos. Mas, podia ser, também, como lá na minha Minas, a simples cotização para o prosaico aluguel de um pé de jabuticabas em Sabará.

Pode parecer estranho, mas é isso mesmo! Aluguel de um pé de jabuticabas para consumi-lo livremente até o último de seus frutos. Quem, tendo vivido a sua juventude na Belo Horizonte dos anos 60, por aí, não há de ter experimentado esse prosaico deleite? Juntavam-se amigos e amigas para a divisão do custo de aluguel por um dia inteiro de uma jabuticabeira em sítios da próxima cidade de Sabará, bem ali no entorno da metrópole que na época já crescia além da medida.

Por razões que só a natureza pode explicar o solo e as condições climáticas de Sabará propiciam o florescimento da Myrciária cauliflora, nome científico de uma das mais brasileiras de todas as árvores frutíferas, a jabuticabeira. Seu fruto de casca pretinha como o ébano, polpa branca adocicada como o mel e que nos propicia aquele estalo metafísico quando premida entre a língua e o céu da boca, é o que se enquadraria - desculpe-me a hipérbole - no rol das extravagâncias do Criador. Fizera-a quando a inspiração Lhe abundava a suprema criatividade. Puro enlevo, marcador nostálgico dos áureos tempos pretéritos.

Essa aparente prima da clássica uva só lhe tem em comum a forma esférica e a consistência de certo modo assemelhada. Mas, é só isso, pois a jabuticaba brota diretamente no tronco da árvore com a dispensar de modo altivo a intermediação de galhos, cachos e folhas. Ela é tão senhora de si que a natureza apenas lhe deu o suporte do tronco de uma Myrciária para vir ao mundo encantar e nos deliciar. De uma jabuticabeira pode-se dize tudo, menos que ela não seja o desejo de todos em ter-lhe um exemplar plantado no fundo de nossos quintais. Chegará o dia em que uma medalha da Ordem Nacional do Mérito, no grau de grã-cruz, ser-lhe-á destinada para galardoar-lhe com absoluto e incontestável mérito os relevantes serviços prestados à nação brasileira.

É claro que apenas se empanturrar de jabuticabas não era o único propósito daqueles programas dominicais. A algazarra, as discussões genéricas com seus argumentos pueris e descompromissados, os flertes desprovidos de malícias e todo o universo de sociabilidade que ali se estabelecia, faziam-nos mais maduros enquanto a jabuticabeira ia se tornando desnuda. Não é exagero dizer que, sob a copa de uma jabuticabeira, podíamos ver melhor o mundo que se desenhava para um porvir ainda longínquo. As amizades se faziam mais fortes quando identidades se estabeleciam ou se provavam débeis a ponto de marcar divergentes posições filosóficas e políticas entre aquela plêiade juvenil. Namoros nasciam; amizades se consolidavam ou se rompiam; planos, promessas e previsões eram feitas. As jabuticabas se esgotavam, mas a vida ali debatida e redefinida continuava a dar os seus frutos.

Hoje, quando reflito sobre como as pessoas divergem em seus modos de pensar e agir; como se posicionam à esquerda ou à direita; como são muito alegres ou muito tristes; como são otimistas ou pessimistas; como adoram viver ou como odeiam estar neste mundo, fico sempre com a lembrança daquelas jabuticabeiras. Tivéssemos, todos, tido a oportunidade de ser sociabilizados sob jabuticabeiras haveríamos, com toda a certeza deste mundo, de termos, sim e ainda, divergências de posturas, mas desprovidas do ódio que despreza, discrimina, afasta pessoas, cria inimizades, mata e nos faz morrer.


Edson Pinto
Novembro’2010

2 de nov. de 2010

143) QUEM VOTA É O BOLSO, SEU ESTÚPIDO!


Ficou famosa a frase de James Carville, assessor de Bill Clinton, quando questionado sobre o mote da campanha Democrata para aquelas eleições do início dos anos 90: “É a economia, estúpido!” Tinha tanta razão, que Clinton elegeu-se e reelegeu-se com base na expectativa dos americanos de recuperação da sua economia, à época, fortemente abalada pelo elevado gasto militar e pelo desequilíbrio fiscal da era Bush, o pai. No Brasil de hoje, algo muito semelhante ocorreu só que para garantir a manutenção do governo petista no poder e não para substituí-lo como no caso de Clinton em relação à Bush. O povão que sabe muito bem o que é ter o bolso vazio desde há muito, respondeu com a essência do mesmo mote e pôs Dilma Rousseff à frente dos destinos da pátria amada.

Não me atreveria dizer que Lula processou conscientemente esse fato histórico tão importante, mas, certamente, intuiu-o e, mesmo sem lançar mão do mesmo slogan, soube tirar proveito da boa fase da economia brasileira e assim fazer a sua sucessão na presidência da republica. Não foi só isso: Há de se dar o devido valor à excepcional fase “Forest Gump” do mais famoso filho de Garanhuns. Tiremos o chapéu para a estrela guia de Lula! Ela o tem colocado no lugar certo, sempre e caprichosamente, na hora certa. Perdeu eleições quando as circunstâncias econômicas recomendavam não se envolver com elas e ganhou quando o céu tornou-se de brigadeiro, azulzinho para o Brasil, mesmo que carrancudo para outros países.

Não tenho igualmente a intenção de colocar aqui e agora em confronto as características de Dilma Rousseff com as de José Serra. Isso já foi feito sobejamente durante a campanha eleitoral. Ele, Serra, dizia: Fui deputado, ministro, prefeito, governador e o escambau. Ela, Dilma, nunca havia se submetido ao teste das urnas. Nasceu e foi criada em Minas; fez peripécias revolucionárias no Rio e em São Paulo; casou-se 2 vezes e lá no Rio Grande do Sul deu início a sua carreira pública como burocrata sem nunca ter disputado uma eleiçãozinha sequer. Mas, mesmo assim, venceu o governador Serra, escolado e tarimbado nas batalhas políticas. Dizem uns, que Serra é fraco nos debates. Outros, que é teimoso e, devido à soberba que lhe parece própria, não soube ou não quis tirar proveito do legado da era FHC, como dos inquestionáveis avanços propiciados pela privatização do sistema Telebrás; da EMBRAER e da Vale do Rio Doce, só para citar alguns exemplos de privatizações muito bem sucedidas. Também, não conseguiu explorar politicamente os escândalos da era Lula. Nem tampouco foi agressivo e enfático o suficiente, sequer, diria, minimamente contundente.

Do outro lado, Dilma também não tem lá toda essa eloqüência que a fizesse muito superior ao Serra nos debates. Ela tropeça no encadeamento de seu discurso. Começa a falar uma coisa e logo vai para outra, tenta retomar e se perde um pouco. Coisas do noviciado em matéria de palanque. Tampouco, tinha uma história política atraente para ser contada. Foi secretária disso, secretária daquilo, ministra, vovó pela primeira vez e um PAC meio enjambrado para servir-lhe de atributos a contrapor-se à propalada competência do governador José Serra. Até mesmo o seu passado burguês, filha de homem abastado, razão mais do que suficiente para opô-la ideologicamente ao discurso populista do petismo, não lhe provocou perdas de votos perante Serra, este de origem humilde, filho de imigrante pobre e que estudou em escola pública. Convenhamos, a história de Serra nesse particular correspondia melhor ao perfil operário de Lula e à ideologia esquerdista do PT do que a de Dilma. Não colou a repetição, à exaustão, da jornada de pobre moço de Serra.

No início da campanha, quando Dilma não passava de um poste a ser ungido por Lula, os números favoráveis à Dilma eram, de fato, de dar dó. Acreditava-se que Lula do alto de seus 80 e tantos pontos de boa avaliação no máximo conseguiria transferir uns 20% de votos para Dilma e nada mais do que isso. Colocados os dados de ambos naquele supercomputador chinês, o mais rápido do mundo, Tianhe-1, com 2.507 trilhões de operações de pontos flutuantes por segundo, podendo atingir 4,7 petaflops no mesmo tempo, a resposta seria: Serra é o melhor e será o nosso presidente!

__ Mas, então, por que mesmo com a oportunidade propiciado por Marina Silva para que José Serra tivesse outra chance no segundo turno isso não deu certo?

Lula já atingira a estratosfera nas asneiras que vinha falando em palanques mil por esse Brasil afora. Da tal de Erenice Guerra não paramos de ouvir sobre as espertezas de seus filhinhos acobertadas por ela, Erenice, e quem sabe, até mesmo pela “tia Dilma” que então buscava votos para o Palácio do Planalto. Toda a corja do mensalão foi ressuscitada para mostrar as impurezas inquestionáveis do modo petista de ser. E nada! Serra não conseguiu tirar os 6 pontos de Dilma que, colocados na sua própria caixinha, lhe daria para matar pelo menos os 12 pontos de diferença que as urnas revelaram neste último dia 31.

“É o bolso que vota, seu estúpido!” Exatamente desta forma veio nos dizer a razão. Novidade? Claro que não! Clinton sabia disso e ganhou de George Bush, mas muito mais gente sabia disso também e desde há muito mais tempo. Fui, por isso, buscar em meus livros antigos a base dessa afirmativa. E não é que encontrei:

Abraham Maslow, psicólogo americano que viveu no século XX, legou-nos o seu famoso estudo da “hierarquia das necessidades” no qual demonstra, de forma cabal, que o ser humano prioriza suas necessidades partindo das fisiológicas, depois, e sempre que a anterior esteja satisfeita, as necessidades de segurança, sociais, estima e finalmente auto-realização. Isso significa que, enquanto alguém não satisfaz suas necessidades por alimentação, abrigo, sono e água, por exemplo, (necessidades básicas, no pé da pirâmide), não almeja coisas como proteção para a saúde, sociabilização, estima e prestígio. Quanto mais larga a base da pirâmide mais necessidades primárias prevalecem sobre o todo.

Está aí meus amigos a matéria prima da Economia: A geração de riqueza a partir de recursos escassos e a sua distribuição para a melhoria de vida da sociedade como um todo. Quando a economia vai mal, a base da pirâmide se alarga. Ao contrário, quando vai bem, ela se estreita e a satisfação das necessidades de ordens superiores passa a ser almejada. Pela teoria de Maslow, o ser humano não está nem aí para a moralidade quando ele sequer tem o que comer. É nesse contexto que a Economia atua de forma tão importante. O bolso vazio simboliza a prevalência das necessidades básicas a serem atendidas. Quando começam a sobrar alguns trocados nesses mesmos bolsos aí o até então “ser inferior” começa a se sentir liberto da ignomínia que caracteriza a miséria. Enquanto não se sente seguro de que tempos bicudos ficaram definitivamente para trás, tenderá a priorizar a manutenção de seus bolsos com algum lastro, por menor que seja.

É, portanto, isso o que vem ocorrendo desde que a economia brasileira começou a ser colocada nos eixos por Itamar Franco. Se a famosa fábula de La Fontaine pudesse ser reescrita, diria que foi Itamar que se dispôs a colocar o guizo no pescoço do gato da inflação. Teve coragem e bom senso para dar-lhe um basta e estabilizar outros fundamentos que passaram a dar sustentação a uma economia saudável. Fernando Henrique Cardoso lançou o Plano Real e Lula, com a estrela guia que só ele tem, sacou que era por aí o caminho a ser seguido para a busca do sucesso. Manteve todos os pilares da economia e contou com a sorte.

O mundo, com raras exceções, foi para o buraco no rastro das trapalhadas da bolha imobiliária da economia americana e o Brasil começou a colher a safra de bons frutos plantados alguns anos antes por Itamar e FHC. Na hora certa e no lugar certo, Lula lança a até então desconhecida Dilma Rousseff como candidata a sua sucessão e, com a artimanha que lhe é inata, relaciona-a ao mar de rosas econômico que seu governo encontrou e soube preservar. O povo – sabia muito bem Clinton como Lula - não quer outra coisa senão cuidar de seu próprio bolso. Mesmo Serra prometendo fazer tudo igualzinho e ainda um pouco melhor, por que o povo iria arriscar na sua escolha? Com uma mão no bolso protegendo os seus poucos mais bem-vindos tostões usou a outra para digitar o “13” na urna eletrônica. Elegeu Dilma...

Democraticamente, devemos aceitar que a maioria de nossa população ainda se encontra na base da pirâmide de Maslow e que suas necessidades básicas começam a ser atendidas. A ser feito, até mesmo por aqueles que se opõem ao lulismo, é contribuir para que a economia continue sólida por um tempo suficientemente longo até quando a maioria de nosso povo venha a ter legitimas aspirações pelas necessidades mais nobres da vida. A partir daí, a ideologia marxista ultrapassada do PT se mostrará incapaz de satisfazer nossos anseios legítimos por maior qualidade de vida.

Que Dilma seja feliz e nos faça igualmente felizes!

Edson Pinto
Novembro’2010