“Não é da
benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso
jantar, mas da consideração que ele tem pelos seus próprios interesses.
Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas
necessidades, mas das vantagens que eles podem obter.” (Adam Smith).
Quem como eu já não se pôs em algum momento da vida a refletir sobre o valor que as pessoas, em geral, dão aos objetivos da vida social? Seria maravilhoso se partisse da pureza d’alma de cada um - se é que todas as almas são puras - a força motriz que promoveria, pelo apreço ao ideal do bem comum, a renúncia ao egoísmo.
As pessoas de todas as
ideologias, classes sociais ou mesmo religiões não só entenderiam, mas
efetivamente se portariam com denodo e elevado espírito público, deixando em
segundo plano os seus interesses pessoais. Algo como o que fazem as abelhas, as
formigas, as vespas e mesmo os cupins que priorizam a vida comunitária em
detrimento de objetivos individuais. Seria espetacular, mas, infelizmente, a
vida nos tem mostrado tratar-se isso da mais autêntica utopia.
Foi o que o um professor do
ensino médio constatou e contou-me quando de uma agradável e recente palestra pessoal
em que nos pusemos a filosofar sobre a impossibilidade de se tornar concreto o
sonho do comunismo que tanta gente ingênua ainda aspira. Deu-me ele, com o
conhecimento de quem procura com afinco educar cerca de 40 jovens de uma mesma classe
de aula, um exemplo que reputo digno de ser compartilhado com os meus amigos. Deliciei-me com a sua narrativa. Prestem bem a
atenção!
“Incomodava-me - disse-me ele - as
frequentes ausências de meus alunos. Um dia não compareciam cinco deles. Em outros,
a classe não chegava sequer a 20 alunos. A continuidade do ensino que deve ser
feita como o subir de uma escada, isto é, degrau a degrau, ficava muito
comprometida. Além disso, - acrescentou, - nem metade dos alunos cumpriam as
tarefas de casa. Perdia eu um tempo enorme para dar uma ajeitada no
conhecimento daqueles jovens. Mesmo assim, era frustrante chegar ao final do
ano letivo tendo passado a matéria de forma tão superficial. Como professor me
sentia derrotado”.
Então lhe ocorreu uma ideia que,
solenemente, explicou a seus alunos:
“Todos os dias farei uma pergunta
a cada um de vocês sobre a matéria da aula anterior. Quem acertar levará ¼ de ponto
para somar à prova do mês. Tenho dez pontos para distribuir diariamente. Se
alguém não comparecer, ou comparecendo não conseguir responder
satisfatoriamente a pergunta, o seu 1/4 de ponto será distribuindo
proporcionalmente aos alunos que acertarem as suas respectivas perguntas”.
Dito e feito...
No primeiro mês por não terem
entendido completamente a ideia do professor alguns alunos malandros
consideraram que o 0,25 ponto percentual seria pouco e, portanto continuaram ou
faltando ou não estudando a matéria. Só vieram a entender o mal que lhes fazia a
opção pela malandragem quando viram que os colegas assíduos e estudiosos chegaram
com facilidade à nota máxima. Foram, como consequência, ficando cada vez mais
para trás até que se deram conta de que para serem aprovados seria necessário
se esforçar vencendo a preguiça de ir às aulas e estudando para fazer jus às
notas que lhes passariam de ano.
Num determinado dia choveu muito
e o professor imaginou que a frequência seria baixa e que, portanto aqueles
poucos que sempre demonstraram maior empenho e interesse em se destacarem iriam
abocanhar mais meios pontos dos faltosos. Para sua surpresa, a sala estava
completa com todos os alunos. Propositadamente, perguntou a alguns daqueles que
no inicio do ano eram os mais relapsos sobre a razão de estarem ali em que
pesasse tanta chuva lá fora. A resposta que obteve: “Imaginei que outros não
viriam e que valeria a pena habilitar-me aos pontos deles”. Todos pensando
assim, a classe foi em frente e o ano letivo foi altamente proveitoso com
alunos e professores felizes com o resultado que obtiveram.
Se há uma lição a se tirar desse
episódio é a de que o ser humano precisa ser incitado, incentivado, despertado
para que transforme o egoísmo que lhe é da essência em ações úteis para a
sociedade como um todo. Prover de forma paternalista as necessidades dos outros
sem exigir-lhes esforço para que melhorem, prejudica mais do que ajuda. O
Comunismo fracassou e continuará a fracassar enquanto a sociedade através dos
governos e mesmo do senso comum não entenderem que o importante é ensinar a
pescar e não fornecer graciosamente e de forma continua o peixe.
Edson
Pinto
Agosto’
2015