27 de ago. de 2010

133) PESQUISASSIONE (da série Enganassione)


Entre 1932 e 1968, portanto por longos 36 anos e como presidente do Conselho de Ministros, Antonio de Oliveira Salazar, na mais clássica forma de ditadura, mandou e desmandou em Portugal, terra com a qual nós brasileiros temos visceral afinidade.

Sabia como ninguém agradar ao populacho e, mais ainda, como operar, habilmente, o aparelhamento do Estado para se manter intocável por décadas. E olha! Não fosse a distração de tentar sentar-se em uma cadeira que havia sido retirada do local onde costumeiramente usava para ler o jornal e ter, acidentalmente, batido com a cabeça no chão e daí ter sofrido séria lesão cerebral, ainda teria ficado com as mãos no leme por muito mais anos.

“Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?”- perguntou Fernando Pessoa, não necessariamente para Salazar, mas para todos, pois vale como reflexão genérica.

Conta uma anedota da época que, em um plebiscito comandado, evidentemente pelo Estado, para confirmar a permanência de Salazar no poder, apresentavam-se duas alternativas: ”SIM, Salazar fica”; ”NÃO, Salazar não sai”.

Qualquer semelhança com a nossa realidade é mera coincidência. A afinidade que há entre nossos povos não se estende a esse ponto, mesmo porque tudo o que tem sido feito por aqui tem aquela chancela do “Nunca antes na história deste País”. Nunca se esqueçam de que o Brasil nasceu em 1º de janeiro de 2003 na posse de Lula em seu primeiro mandato. Antes, pelo menos na propaganda oficial, o País nem existia... Lula é, portanto o nosso Pedro Álvares Cabral verdadeiro...

Os Institutos de pesquisa andam em polvorosa. Medem daqui, medem dali e os números favoráveis à Dilma não param de subir. Na Internet circulam análises as mais assustadoras sobre a metodologia das pesquisas. Ora apresentam que a seleção da amostra é viciada, pois concentram enquetes em regiões a priori nitidamente petista devido ao encanto dos programas sociais lá implantados. Ora sugerem que os institutos tendem a se alinhar mutuamente naquele argumento de que “ou acertamos todos ou erramos todos”. “E La nave va”, como nos sugere a face, também italianíssima, de nosso povo.

Muita gente tem dito nunca ter sido entrevistada e que sequer conhece alguém que tenha sido. Pode parecer de fato absurdo, mas este argumento, embora lógico, não é suficiente para explicar toda a complexidade do tema. A ciência matemática e seu braço estatístico se dão muito bem com amostras pequenas sem que isso desvie em muito o resultado quando comparado com a pesquisa de todo o universo de dados.

O segredo está no que os estatísticos muito prezam, ou seja, na representatividade da amostra. Se ela não for fidedigna, então os resultados serão falsos, tendenciosos e, como dizem, viciados. Manipular pesquisas com ações marotas do tipo: colocar partidários seguindo os pesquisadores para se apresentarem para a entrevista, ou ainda, pesquisadores tendenciosos que induzem à resposta desejada também têm lá uma grande dose de influência nos resultados.

Bem, uma vez manipulada a pesquisa poderíamos ainda pensar: “Isso não altera a qualidade do meu voto. Nas urnas o resultado será outro”. Verdade! Porém apenas para aquela pequena parcela dos cidadãos que são conscientes da importância de sua participação na vida política do País. Observam o quê está acontecendo, leem jornais, revistas, ouvem pessoas que trazem conteúdo em suas palavras, assistem a debates e principalmente têm suas antenas ligadas, não apenas na realidade momentânea do país, no canto da sereia, mas principalmente naquilo que está por vir, no futuro, na vida das próximas gerações, pois o País deve ser visto ao longo do tempo, como em um filme, e não apenas como uma foto do momento presente.

Totó, o nosso povo, anda, de novo, às voltas com a sua Chiara. Por mais que os fatos demonstrem o elevado grau de esperteza da “schifoza” ele insiste em continuar amando-a de forma incondicional. Puro, como é, certamente ainda não percebeu que ao ser pesquisado apresentam-lhe as duas alternativas salazarianas: “SIM, voto em Dilma”; “NÃO, não voto em Serra”.

Há, ainda, alguma água a correr até que as eleições de outubro cheguem. Pairam dúvidas nesta minha cabeça que não cessa de formular questões capciosas:

__ Totó continuará sendo enganado por Chiara?
__ Pesquisas que – não afirmo, mas admito considerar – contém vícios?
__ Totó, mesmo tendo uma idéia independente sobre o que seria melhor para o País, tenderá a votar naquele que a pesquisa indica como vencedor apenas para não perder o seu voto, mesmo perdendo a dignidade?

Tudo pode acontecer na vida. É só esperar e nunca esquecermos de que o destino pode retirar, furtivamente, a cadeira onde Totó costuma sentar-se para meditar. Quem sabe não bate a cabeça no chão, como aconteceu com Salazar, e assim, acidentalmente, coloque seus miolos em boa ordem?

Aguardemos! A série “Enganassione” continua....

Edson Pinto
Agosto’ 2010

14 de ago. de 2010

132) ENGANASSIONE

Dilma Vana Rousseff é Chiara; Luiz Inácio Lula da Silva é Fred; Celso Luiz Nunes Amorim é Berilo; a Razão é Dona Gemma e o Povão é Totó.

Foi com isso na cabeça que me despertei após um sonho pouco trivial tido, momentos antes, com Silvio de Abreu, o autor da novela Passione que faz sucesso no horário nobre da TV.

No meu sonho, outros personagens também se ajustavam perfeitamente tanto à trama novelesca do grande autor como à realidade do petismo no País. Contudo, gravei e correlacionei evidências principalmente nesses cinco pares perfeitos de protagonistas:

Dilma é Chiara, Lula é Fred, Amorim é Berilo, a Razão é Dona Gemma e o Povão é Totó.

Fred e Chiara (esta para não perder o hábito do passado de clandestinidade aprecia também ser chamada pelo seu codinome Clara) se uniram para dar um grande golpe em Totó: Começaram por enganá-lo com promessas vãs até conseguir tirar dessa pura alma de homem bom, trabalhador, respeitoso e inocente uma procuração ampla para que, na presidência de sua vida, fizessem, em seu nome e com suas posses, as coisas que bem entendessem.

Berilo, baixinho, enrolado e acima de tudo o mais autêntico carcamano (aquele que para aumentar o peso na balança “carca a mano”) se meteu - tudo dentro do plano de Fred e Chiara - a fazer relações externas aos seus casamentos. Traía a traída com a outra traída. Um verdadeiro looping amoroso em termos de relações externas. Inconseqüente, sem visão estratégica, confuso e mercantilista, tudo apenas para fazer - diga-se de passagem, sem sucesso - seu líder Fred um personagem de projeção mundial, quiçá universal, celestial, intergalaxial, multiplanetário, por que não?

Totó que vivia feliz cultivando suas alfaces mais verdinhas que a camisa do Palmeiras só queria ser feliz de forma plena e toscana. É óbvio que aquele sangue latino e a sua origem tupiniquim recomendavam-lhe um novo rabo de saia em substituição à mãe de seus filhos que já há algum tempo havia partido para a dimensão eterna. Caiu na lábia de Fred, apaixonou-se por Chiara e fechou os ouvidos para tudo o que a sorela Gemma tentava lhe advertir acerca das trapaças que gradativamente vinham lhe enredando.

Dona Gemma, pobre coitada, observava com absoluta suspeição tudo o que ocorria ao redor de seu Totó. Amava-o muito e só queria que fosse realmente feliz. Tentava protegê-lo denunciando aguerrida cada passada de perna de Chiara. E que pernas? Que lábios? Que seios voluptuosos, provavelmente já reformados? Uma perigosa e falsa "Ragazza di Ipanema", a se lhe oferecer tão freqüente quanto dadivosa. Tomaram Dona Gema como louca, obstinada e dominada por doentio excesso de ciúmes do irmão que tratava como filho.

Apesar da beleza multicolorida da Toscana e das exuberantes paisagens arborizadas paulistanas que somente efeitos visuais televisivos “high-tech” conseguem mostrar, Dona Gema se sentia pregando no mais árido deserto. Para Totó, aquelas advertências da irmã, mãe e protetora Gema entravam por um ouvido e saiam pelo outro.

Mas - recordo agora - perguntei a certa altura do meu sonho:

__ E os personagens corretos, honestos, éticos e moralmente sólidos que sempre permeiam as novelas até para dar-nos uma lição de boa conduta e de que nem tudo está perdido?

__Eles existem, sim – me responde um Silvio de Abreu perplexo – Só que em geral eles são eliminados logo nos primeiros capítulos.

Nesse caso, considerando que a novela ainda não acabou só posso então pressentir que muita maldade ainda está por vir. Lamento, mas salto da cama ainda tonto de sono e constato que não me resta alternativa senão continuar matutando:

Dilma é Chiara, Lula é Fred, Amorim é Berilo, a Razão é Dona Gemma e Totó, infelizmente - não tem outro jeito - continua sendo o povão.

Edson Pinto
Agosto’ 2010

5 de ago. de 2010

131) MEU CAPITEL - EM PROSA E VERSO...

EM PROSA...
Minha sina e prazer é mantê-la exuberante em seu píncaro de destaque. Sou o fuste necessário, seu suporte vital, a base que ancora bons e maus momentos dessa via finita em que o acaso, generoso, a mim a sobrepôs.

Ela é o meu capitel rebuscado, com volutas harmoniosas que me serenam a alma e geram o frenesi, causa e razão maiores de meu viver. Se esse edifício de ilusões se romper por excesso ou falta de amor, por culpa, falta ou excesso de bondade, ainda seremos apegados amantes que nunca se deixam.

Explodam meu cerne e façam-me em mil frangalhos. Meu capitel se desprenderá do ábaco que lhe isola acima e cairá comigo em mil fragmentos, também. Como esculpidos da mesma matéria, é no pó que nos reencontraremos para nova síntese, mais profunda e pronta para re-aventuras, juntos.

Edson Pinto

... EM VERSO

Minha sina e o prazer que a alma anela,
É vê-la fulgente em seu píncaro astral.
Quero ser a base serena, seu fuste vital
Do conjunto contíguo que o acaso revela.

Ela é o meu doce e rebuscado capitel,
Com volutas suaves que a vida acalma.
Inda que a jornada desse árduo tropel
Faça tremular os pilares da minha alma.

Explodam-me em frangalhos o cerne
E do ábaco que lhe isola, cairá comigo
Meu capitel que em igual dor se externe.

E no pó que nos torna à mesma origem,
Sobre todos os percalços de novo erigem
Aventuras que com ela sempre eu sigo.

Edson Pinto
GLOSSÁRIO:
Capitel: Arremate superior, em geral esculturado, de pilastra, balaústre e outros. .
Fuste: A parte principal da coluna, entre o capitel e a base.
Voluta: Ornato espiralado de um capitel de coluna.
Ábaco: A parte superior do capitel da coluna que o protege, pois ele geralmente é delicado e frágil. O anteparo superior.