30 de nov. de 2009

108) IN HOC SIGNO VINCES


Nascido Flavius Valerius Aurelius Constantinus, tornou-se, aos 30 e poucos, imperador de Roma no século IV da nossa era. Daí à Constantino I, Constantino Magno e Constantino, o Grande, foi um pequeno passo para aquele homem, mas um grande salto para a humanidade de seu tempo, tal qual, 16 séculos mais tarde, Neil Armstrong pronunciaria de forma épica quando pisou pela pela vez na Lua.

Antes da famosa batalha contra Maxêncio, Constantino teria tido a visão de uma cruz e sobre ela gravadas as palavras título deste texto: “in hoc signo vinces”, que, traduzidas, nos dizem: “com este signo vencerás”.

No Vaticano encontra-se, desde 1666, um grupo escultórico do artista Gian Lorenzo Bernini representando o momento em que Constantino teria deparado com a famosa cruz. Claro que, motivado pelo acontecimento e especialmente pelo símbolo reforçado pelo efeito da frase, venceu Maxêncio. A propósito, Constantino reinou até a sua morte em 337, garantindo, intacta, a continuidade da dinastia constantiniana.

A cruz tem sido, dessa forma, o simbolo que motiva cristãos mundo afora a enfrentar com coragem adequada os inimigos que a vida lhes impõe. Quem - mesmo sem ser fervoroso em sua religiosidade - nunca fez o sinal da cruz ou deparou-se apiedado ante uma delas e nesse ato não tenha buscado forças para certas batalhas? Roberto Carlos apegou-se de tal forma ao crucifixo que lhe deu a irmã Faustina, ainda em seus tempos de Cachoeiro do Itapemirim, que não faz nada sem que o tenha dependurado ao pescoco.

É muito comum ouvirmos pessoas bem vividas dizerem que uma imagem, um símbolo, ou um signo valem mais do que mil palavras. Verdade irrefutável! Emocionamos mais ao ver pela TV aqueles aviões ensandecidos chocando contra as torres gêmeas no 11 de setembro do que seria capaz de nos comover a melhor descrição literária do melhor autor que pudéssemos imaginar.

Um signo ou um símbolo como a cruz, a bandeira do país, o escudo do clube do coração ou mesmo a logomarca de um importante fabricante de automóveis que apreciamos exercem sobre nós tal fascínio. A razão disso é exatamente o poder mágico que a simbologia exerce na profundidade de nossas mentes, sem que tenhamos que recorrer às palavras. Eles falam por si só.

Os publicitários, nos dias de hoje, são mestres exímios no uso dos simbolos, dos signos, dos ícones, das músicas e das imagens. Isso bem explica porque todo grande produto tem uma logomarca para comunicar, uma cor para identificá-lo e outros recursos que dizem mais do qualquer bom texto que viesse a ser produzido sobre ele.

Mas, se você pensa que esse conhecimento sobre a força dos signos é descoberta recente, está enganado. As religiões, o catolicismo por excelência, já haviam captado, de há muito, a importância dos símbolos para se criar fidelidade aos seus propósitos. Foi na esteira da Contrarreforma, do Concílio de Trento (1545-1563) e da fundação da Companhia de Jesus que o Barroco, com a suas músicas e artes em geral fizeram das cerimônias religiosas verdadeiros deleites, produzindo em seus fiéis uma extraordinária e marcante experiência.

O Barroco vicejou e expandiu-se a partir do século XVI ao construir grande quantidade de igrejas por toda a Europa sempre com o objetivo de que a arte servisse de propaganda e meio para a transmissão adequada da doutrina católica. Cristalizou-se, alí, a consciência de que o caminho mais seguro para se chegar aos fiéis seria através de um grande e comovente apelo aos seus sentidos. Nesse ponto, tanto a arquitetura como a escultura, a arte pictória, a música e os símbolos ou signos vários desempenhavam um papel importante para que o catolicismo voltasse a crescer. E, de fato, cresceu...

Portanto, sejamos cristãos, ou não, somos sempre pessoas passíveis do poder de motivação de um signo. Pode ser a cruz ou outro desde que lhe seja capaz de criar entusiasmo, inspiração, alegria e paixão por uma causa, por um objetivo de vida. Portanto, pegue-se à esse símbolo e considere que “in hoc signo vinces”, e vencerás...

Edson Pinto
Novembro’2009

23 de nov. de 2009

107) NOSSO MARQUÊS DE POMBAL


Uma das passagens mais interessantes do nosso período colonial ocorreu na segunda metade do século XVIII quando a produção de ouro das Minas Gerais começou a declinar e os impostos recolhidos à coroa portuguesa, também. O marquês de Pombal, primeiro-ministro do rei dom José I, decretou então que o quinto mínimo a ser recolhido seria de 100 arrobas anuais, ou 1.500 quilos de ouro.

Impossibilitados de honrar o tributo devido à escassez do precioso metal, os mineradores começaram a atrasar o seu pagamento. Em 1765, a Coroa, em rancorosa reação, instituiu a derrama para cobrança dos atrasados. Esta se caracterizou pela maneira violenta com a qual os coletores invadiam as casas e prendiam aos que resistissem ao pagamento. O que sucedeu a esse triste episódio, todos nós sabemos: A Inconfidência Mineira liderada por Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, surgiu para se tornar no movimento de independência mais importante da nossa jovem nação.

Esse registro histórico com suas conseqüências tão meritórias é feito apenas para traçar um paralelo com a atual sanha do governo por uma fatia cada vez maior, na forma de impostos, da produção de todos nós brasileiros. E veja que não falamos apenas de um quinto, o que corresponde a 20%, mas já estamos quase chegando a dois quintos ou 40% de tudo o que produzimos.

A crise econômica mundial que ainda vigora em vários países afetou, embora menos, também a nossa capacidade produtiva e, por extensão, a arrecadação de impostos. O custo de manutenção da máquina estatal, contudo, só faz aumentar e o governo, diferentemente de qualquer cidadão comum, só imagina resolver o problema pela via do aumento de impostos. A CPMF, não faz muito tempo eliminada e que, por uma manobra perversa dos governistas, fora plenamente substituída por carga maior do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) agora ressurge com o nome de CSS (Contribuição Social para a Saúde). Se passar no Congresso, será que reduzirão o IOF antes aumentado pela perda da CPMF? Du-vi-d-o-dó!

O nosso novo marquês de Pombal já está mexendo seus pauzinhos para uma nova derrama. Começou com a defenestração da Secretária da Receita Federal, pois será necessário muito dinheiro nessa tentativa que julgo inglória de fazer Dilma sua sucessora e preparar o terreno para o seu retorno em 2014.

O que não se deve esquecer é que uma inconfidência nos tempos atuais se dará, não com movimentos conspiratórios como os da época de Tiradentes, mas, sim, com votos conscientes nas urnas.

Edson Pinto
Novembro’2009

16 de nov. de 2009

106) O CAVALO DE ÁTILA


Incursões avassaladoras dos ferozes hunos no século IV desmantelaram o Império Romano do Ocidente e abriram caminho para a sua queda. Os hunos, destemidos guerreiros de origem mongólica eram comandados por Átila que, devido às expedições impiedosas que comandou, deram-lhe a alcunha de “o flagelo de Deus” e mais do que isso, passou para a posteridade a famosa frase “onde o cavalo de Átila pisava a grama não voltava a crescer”

Nos dias de hoje - com raras exceções - as nações já não correm o perigo de conquistadores, especialmente desses com a crueldade de Átila, de seus guerreiros e até mesmo de seu cavalo. No entanto, intriga-nos o fato de que os gramados Brasil afora, notadamente os de Brasília, dos amplos jardins que emolduram a Praça dos Três Poderes, andam prá lá de sequinhos e até mesmo fumegantes. Indícios de que o cavalo de Átila anda pisando com muita freqüência por aqui.

Os Átilas do momento não usam cavalos e sim aviões modernos pagos com as verbas de passagens aéreas sobre as quais já não falamos mais. Não têm os guerreiros mongóis valentes e impiedosos, mas um exército de apaniguados que se encontram na Folha de Pagamentos do Erário e que nem precisam freqüentar escritórios ou mesmo fazer qualquer coisa para justificar os seus generosos soldos. Ocupam, por apadrinhamento político e sem qualquer critério de mérito profissional, cargos nas empresas estatais provocando – por falta de competência – apagões assustadores que paralisam o País. Questionados, jogam toda a culpa à mãe-natureza e inventam raios, aos milhares, caindo sobre torres em locais onde mal chovera. Não precisam empunhar espadas para conquistas, pois suas armas são a venda de votos, a composição promíscua entre partidos na defesa de presidentes do Senado e arquivamento de inquéritos nos Conselhos de “Araque” de Ética, tudo para manterem-se firmes nas tetas pejadas da mãe-pátria.

Se estivéssemos ainda no longínquo século IV talvez fosse mais razoável erigirmos um monumento a Átila e ao seu cavalo como forma de impedir que nos esquecêssemos de quão cruel os invasores da pátria poderiam ser. Mas, como os tempos e os métodos são outros, fiquemos com um memorial à cara-de-pau de nossos políticos.

Edson Pinto
Novembro’2009

9 de nov. de 2009

105) NINGUÉM FUROU O OLHO DO CICLOPE

O ciclope Polifemo, gigante imortal com um só olho no centro da testa, vivia em uma caverna próximo da Sicília, junto ao Etna, cuidando de seu rebanho de ovelhas. Vida pacata e feliz até que por lá desembarcam Ulisses e seus homens a caminho de casa, em Ítaca, retornando vitoriosos da guerra de Tróia.

Não fosse a astúcia de Ulisses ao embebedar o gigante e assim evitar que ele continuasse a comer um a um de seus guerreiros, e quem sabe até ele mesmo, o final da grande Odisséia herdada do mundo grego clássico seria outro. Certamente muito menos excitante, porque Ulisses não teria reencontrado seu filho Telêmaco nem a sua amada Penélope.

Ulisses enganou o gigante Polifemo furando-lhe o olho enquanto dormia. Ao notar-se cego o ciclope pede o nome de quem o cegara. Ulisses disse ter sido Ninguém. Escapam da eventual fúria dos outros ciclopes, pois Polifemo diz a eles que Ninguém o cegara.

Ora, consideremos o povo brasileiro como se fosse o ciclope Polifemo. Lula, a turma do PT junto com o PMDB e demais partidos da base aliada, astutamente vivem a furar-lhe o único olho de que dispõe e sempre dizem que Ninguém é o culpado. O povo na forma do ciclope Polifemo acredita e, dia após dia, vai permitindo que a nossa odisséia se escreva de modo tão peculiar.

Ninguém é culpado pelo mensalão. Ninguém viu que os cartões corporativos estavam sendo usados de forma irresponsável. Ninguém quer um terceiro mandato para Lula. Ninguém levou dólares na cueca. Ninguém tem responsabilidade sobre os descalabros do nosso Senado e seus atos secretos. Ninguém viu Dilma intercedendo com Lina Vieira da Receita Federal para livrar a cara dos Sarneys...

Veja que maravilha o uso desse pronome indefinido: Refere-se a terceira pessoa de modo indeterminado, porém, se bem usado como na Odisséia de Homero ou na argumentação padrão do governo petista, pode nos surpreender com efeitos mágicos inesperados e até se transformar em um substantivo próprio.

Se dá certo muda-se para o pronome pessoal do caso reto na primeira pessoa do singular: EU. Não dá certo, joga-se a responsabilidade a terceira pessoa do plural: ELES. E quando não tiver escapatória usa-se sempre o mais famoso de todos os indefinidos livrando-se a própria cara: Ninguém. E não se fala mais nisso...

Edson Pinto
Novembro’ 2009

2 de nov. de 2009

104) NOVA LUZ QUE SE FAZ

Fernando Martins Couto, 32 anos, jovem biólogo, desprendido com as coisas materiais da vida, só queria aproveitar aquele dia de feriado do serviço público estadual em que o trabalho no Instituto Butantã, onde se aprofundava no estudo da cascavel Crotalus durissus, para o seu mestrado, ficaria para o dia seguinte.

Saiu do bairro do Butantã, onde também morava, segunda-feira, 26, pela manhã, com sua bicicleta a caminho do autódromo de Interlagos. Nada mais simples, bucólico, aventureiro e saudável para o jovem que abrira mão do convívio tranqüilo com os pais no interior pela sua sincera paixão à Biologia. Infelizmente, ainda no trajeto e enquanto se informava com um gari no canteiro central de uma avenida, um ônibus, desses muitos desgovernados da louca cidade de São Paulo, destrói-lhe o corpo físico e, no ato, liberta sua alma iluminada para a dimensão eterna.

Num átimo, e nada mais do que isso, o corpo são de um jovem sonhador perde sua luz como se fosse uma lâmpada desligada pelo simples toque em um interruptor. Difícil aceitar, embora exemplos se multipliquem mundo afora, que uma vida possa ser desligada assim de forma tão inesperada. Deveríamos morrer vagarosamente, por anos e anos à medida que a vida avançasse bastante, mas bastante mesmo e em tempo suficiente para que aprendêssemos tudo, cantássemos todas as canções do mundo, brincássemos com todas as crianças e cultivássemos todos os amigos possíveis. Só filhos, netos e bisnetos deveriam ver seus pais, avós e bisavós morrerem e nunca o contrário. Mas, nossos amigos Roberto e Regina Couto tiveram que experimentar o dissabor dessa lógica contrariada.

De mente instruída pela vivência profícua e pela comunhão com ideias sólidas da eternidade da alma, aceitam essa antecipação do inevitável como prova de que Fernando não deixa este mundo, assim, só por deixá-lo. Deixa-o rápido como uma luz, pois nada mais rápido do que ela para, num átimo e nada mais do que isso, sair desse vale de lágrimas e tomar acento na dimensão longínqua onde habita o Criador e as criaturas do bem. É, de hoje em diante e para sempre, mais uma estrela a brilhar na imensidão do infinito.

Nós, os amigos entristecidos, depositamos nos corações de Roberto, Regina e Marcelo o calor da solidariedade e o testemunho de que Fernando, 32 anos, jovem biólogo, desprendido com as coisas materiais da vida e que só queria aproveitar aquele dia de feriado fora tão amado nos seios da família e dos amigos que só nos resta, humildemente, rogar para que a sua luz nunca deixe de incidir sobre nós.

Sim, assim é a vida: Tudo termina como começa...

Edson Pinto
Novembro'2009