Se o meu querido leitor não é
ferrenho “Criacionista”, isto é, adepto daquela teoria que explica a origem do
Universo, da humanidade e de tudo o que nos cerca, como sendo obra exclusiva de
Deus, certamente não deve ter rejeição à teoria alternativa, o “Evolucionismo”.
Esta explica a criação do mundo e da vida a partir da sua evolução natural, tal
qual proposto por Charles Darwin em seu famoso “A Origem das Espécies”, de
1859. Dentro desta teoria se encaixa perfeitamente, outra, para dar explicação
sobre o ponto zero, aquele em que tudo teria efetivamente começado, o “big-bang”.
E de que esta se trata?
Há cerca de 14 bilhões de anos, a
matéria encontrava-se desordenada, muitíssimo quente e extremamente densa.
Deu-se então uma grande explosão (daí o nome big-bang) responsável pela origem e
expansão (ainda em andamento) do Universo e pela formação de tudo o que há, incluindo
o nosso planeta, nossos recursos naturais, nossas vidas.
Bem, se faz ou não algum sentido explicar
a vida a partir dessa grande explosão, há pelo menos uma evidência a qual,
conscientemente, não conseguimos contestar: Tudo que se esquenta em excesso e
ao mesmo tempo se concentra em demasia tende a resultar em explosão. Outro dia
falei de um prosaico utensílio de cozinha em minha crônica de nº
242 “A PANELA DE PRESSÃO” e lá comentei que, se não funcionar a sua válvula de escape, explodirá causando danos terríveis. A força térmica contida em seu interior
cuidará disso...
Claro que a explosão de uma
panela só faz estragos. Mas, a da massa super concentrada do pré-universo até
que foi uma boa coisa, ou não? Foi a partir dela que tudo se criou e por isso estamos
aqui. Esse fenômeno da explosão ocorre em várias situações de nossas vidas: Um
ser psicologicamente acuado pode atingir o seu limite suportável de estresse e,
repentinamente, explodir em fúria ou mesmo em reação benigna que em condições
normais não conseguiria. Não faz muito tempo, um pai, na Flórida, ao ver o
filho abocanhado por um crocodilo enquanto passeava nas proximidades de um
lago, acumulou rapidamente força suficiente para explodir-lhe o ânimo e lutar
corporalmente com o poderoso animal até que libertasse o filho. Não fosse por
uma explosão de amor, Teseu não teria conseguido matar o Minotauro dentro do
labirinto de Creta para ficar com Ariadne.
E no mundo real e atual o que
mais está por explodir?
A paciência do povo brasileiro, por
exemplo, não tenho dúvidas! Dentro dessa
pressão popular que recentemente chegou às ruas e que ainda não foi controlada,
há outra que merece destaque: A paciência do empresário brasileiro acumula
enorme pressão do insensato, do injusto, do irracional e do inexplicável
sistema tributário que atravanca o progresso e impede as empresas de se
tornarem mais eficientes e competitivas. O Instituto Brasileiro de Planejamento
Tributário, IBPT, levantou que, em apenas 24 anos de vigor da atual
Constituição, a de 1988, já haviam sido emitidas 290.932 normas tributárias,
com o absurdo de 1,4 normas a cada hora. Foram, ainda, 14 reformas tributárias
e criados tributos novos, como CPMF, CONFIS, CIDES, CIP, CSLL, PIS IMPORTAÇÃO,
COFINS IMPORTAÇÃO, ISS IMPORTAÇÃO e outros que afetam tanto a vida das empresas
como das pessoas em geral.
Quem atua no mundo dos negócios sabe o quão difícil
é manter todos os controles que os governos federal, estaduais e municipais
exigem. São declarações e mais declarações a serem feitas, muitas delas
repetitivas e incompreensíveis apenas para que o empresário demonstre que tem
impostos a pagar e que já os pagou. Há impostos que incidem sobre operações
mercantis que a empresa sequer recebeu de seus clientes, mas o imposto já é
pago por antecipação. Há conflitos de legislações que dão ora ao Estado, ora ao
município supostos direitos de arrecadar sobre a mesma operação. Difícil
encontrar uma empresa que não traga um rosário de pendências fiscais que lhes
tornam a vida mais complexa e que explodem seus custos. Grande parte da nossa
incapacidade atual de nos libertar desses “pibinhos meia-tigela” deve-se, com
toda a certeza, a esses entraves.
Partindo do principio de que a
pressão é tão forte que estamos próximos de um novo “big-bang”, sinto-me ousado
a lançar um repto de alto impacto. Tão alto quanto à encrenca em que nos
enredamos. Só há uma forma de acabar com essa excessiva concentração de calor e
pressão, é explodir tudo para dar inicio a um novo ciclo partindo do zero. A
minha sugestão é tão simples que só com muito esforço qualquer pessoa seria
capaz de entendê-la. Explico melhor e didaticamente em cinco tópicos:
- Se tudo
o que os governos fazem em matéria tributária é para arrecadar impostos,
então, porque não fazê-lo da forma mais direta, menos custosa, menos
burocrática, mais equitativa e mais racional?
- Essa
forma seria o imposto único arrecadado linearmente e com a mesma alíquota
sobre todas (sem nenhuma exceção) as transações financeiras ocorridas
dentro do País. Por critério consensual seriam feitas alocações automáticas
entre os entes da Federação. O poder de processamento dos computadores
garante isso.
- Aproveitando
o avanço da informática, da computação eletrônica e da internet, acabaria
com o papel-moeda na forma que o conhecemos (notas e moedas). Todas as
transações financeiras aconteceriam pelo sistema bancário. Haveria criação
de contas bancárias simplificadas apenas para suportar movimentações por
cartões de crédito/débito. Isso acabaria com a sonegação e com o suborno.
- As
empresas e até mesmo os cidadãos ficariam livres da miríade de controles
que se obrigam a fazer para atender ao Leviatã. A conseqüência seria mais
racionalidade, custos operacionais menores e aumento da produtividade.
- Além do
Imposto Único Financeiro só seriam admitidos alguns impostos regulatórios
para fins de controle ao interesse nacional, como específicos para
exportação, importação do governo federal; IPVA do Estado e IPTU do
município
Esta minha proposta de imposto
único, exceto pela eliminação do papel-moeda que é de ousadia própria, não é
novidade. Desde 2002 repousa na fila dos projetos a serem votados na Câmara dos
Deputados, porém já aprovada por Comissão Especial, a Emenda Constitucional do
economista Marcos Cintra, então deputado federal, que institui o Imposto Único.
De novo e por fim algumas perguntas
bem simples:
___ Por que esse tema não avança?
___ Será que é porque contraria
interesses?
___ Como os políticos poderiam continuar
obtendo seus fundos escusos, alimentando seus “caixas dois” de campanhas?
___ E os sonegadores, como
manteriam suas vantagens desonestas?
___ E os corruptos, como
receberiam suas peitas?
Os milhares de profissionais,
como contadores, advogados, fiscais e outros que vivem em função dessa grande
encrenca que é o sistema tributário brasileiro não deveriam ficar temerosos com
a perda de trabalho, pois há muitas outras atividades nobres que hoje deixam de
fazer, mas poderiam fazer e que seriam muito úteis para o progresso do
País. Um contador, por exemplo, seria
muito mais útil se auxiliassem os empresários com fundadas análises e
interpretação de balanços, orientando-os para boas decisões. Hoje a
contabilidade tem um enfoque prioritariamente fiscal, pois é voltada para
atender às exigências do Leviatã e não aos propósitos saudáveis do negócio.
Por fim, uma realidade: Que a
pressão e o calor que ora se concentra irá levar a uma grande explosão, disso
não devemos ter dúvidas. Só espero que a matéria, ao se recompor, não incorra
nos mesmos erros do nosso triste presente.
Edson Pinto
Julho’ 2013