Nas últimas semanas parece que virou moda colocar em dúvida a capacidade do Brasil de cumprir com o seu compromisso para a montagem da infraestrutura da Copa do Mundo que acontecerá por aqui em 2014. Mesmo sendo considerado um dos povos mais otimistas da Terra, não sei por que cargas d’água 191 milhões de nós mesmos, exceto a velhinha de Taubaté e este cronista crédulo, debandaram para o pessimismo ao admitirem o nosso provável vexame por não conseguirmos entregar o prometido até que a bola comece a rolar no maior de todos os eventos esportivos e que a humanidade inteira adora? Os olhos do mundo se voltarão para o Brasil quando a Copa estiver por começar, quando já estiver em andamento e finalmente no pós-evento, pois acredita que deste berço esplêndido, o florão da América surgirá como a nova superpotência a fulgurar no firmamento das nações. Não podemos, portanto, decepcionar. Chegou o nosso momento de entrar no grande baile...
Vejam abaixo os quatro pontos principais que formam a tal da infraestrutura de uma típica Copa do Mundo. Gosto de ser cartesianamente didático, por isso, primeiro apresento e comento as críticas dos pessimistas, depois, com o coração transbordando de otimismo verde-amarelo dou, em nome da velhinha de Taubaté e em meu próprio, as soluções que vislumbramos factíveis para que tudo termine muitíssimo bem. No final - porém não menos importante - falo do grande presente que o evento nos propiciará. É o que já se convencionou de chamar “O Legado da Copa”.
ESTÁDIOS:
A crítica injusta: Autoridades até recentemente tidas como muita sérias já andam dizendo que a maioria dos estádios não ficará pronta em tempo, ou mesmo, nunca. Tem um estádio que pressupostamente fará a abertura da Copa do Mundo aqui em São Paulo, o Itaquerão, do Corinthians, que até mesmo a maquete não está definitivamente finalizada. A todo o momento aparece uma nova. Ora o estádio é menor, ora é maior. É o que se chama estádio sanfona, dizem maliciosamente. O terreno tem pendências jurídicas. O clube não tem dinheiro nem aval para custear a obra. Os governos do Estado e Federal juram que não colocarão dinheiro público e coisas deste gênero. Pura maldade! Não só para o estádio de São Paulo, mas também para os estádios de Natal, Recife, Manaus e outros que não tiveram ainda um único tijolo levantado, têm solução, sim senhor! Vejam:
A solução inovadora: O mundo inteiro ficará boquiaberto ao tomar conhecimento da nossa genialidade tupiniquim. Sendo exigência da FIFA que 65 mil pessoas assistam no estádio ao jogo de abertura, o Brasil já sabe como fazê-lo. Trinta e cinco mil torcedores ficarão no estádio do Pacaembu e trinta mil na Arena Barueri. O primeiro tempo do jogo ocorrerá no Pacaembu. Os atletas tomarão, ainda no grande circulo do gramado, um helicóptero e farão o segundo tempo do jogo em Barueri a apenas 20 quilômetros de distância. A FIFA estabelece 65 mil pessoas, mas não diz que todas devem assistir aos dois tempos do mesmo jogo. Por que ninguém havia pensado nisto antes? A África do Sul, outro país pobre como o nosso, teria economizado uma fortuna se tivesse pensado nesta solução.
AEROPORTOS:
A crítica mordaz: Se nossos aeroportos já não dão conta da demanda atual, imaginem como estarão no período da Copa? Mais uma vez, puro exagero. É a velha intriga dos mesmos que nunca acreditavam quando Lula dizia do alto de sua sapiência e sinceridade “Nunca antes na história deste País”. Continuam sem entender a seriedade de Lula e daqueles que pleitearam o evento jurando que o Brasil faria a mais organizada de todas as Copas. Fizeram o mesmo com as Olimpíadas do Rio de Janeiro para 2016. Nesta, até choraram de emoção, mas isso não está agora em pauta, por isso falo só da Copa de 2014. Os aeroportos não serão problema, como verão mais adiante. Ninguém ficará sem pousar ou decolar. Isto eu garanto!
A solução de um povo criativo: As Marginais dos rios Tietê e Pinheiros serão preparadas para pousos e decolagens no período da Copa. Carros ficarão nas pistas locais enquanto as aeronaves correrão nas expressas. Passageiros se servirão de táxis que, de bandeira livre, e ônibus urbanos acompanharão lado a lado as aeronaves até que elas parem. As atividades “Duty Free Shop” serão assumidas pelos ambulantes que hoje já trabalham nos congestionamentos dessas duas importantes vias urbanas. Em outras cidades, avenidas importantes servirão para o mesmo propósito, mas poderão contar adicionalmente com estacionamento de grandes supermercados e trechos de rodovias próximos das cidades.
SISTEMA VIÁRIO:
A crítica iníqua: Nosso sistema viário urbano é deficiente. Outra bobagem sem tamanho. Todos nós sabemos que o povo não deixa de ir ao trabalho por que os ônibus são poucos, ou porque o metrô atende apenas a uma ínfima parte da população dos grandes centros ou ainda porque o trânsito é um inferno. Na verdade, nós brasileiros gostamos mesmo é de maus tratos. Ficamos horas e horas apertados em desconfortáveis ônibus e trens urbanos por mero prazer e nada mais. Faz parte do nosso modo de ser. Mas se enganam os que pensam que não teremos solução para a Copa do Mundo. Sei que teremos e lhes digo, agora, qual será:
O ovo de Colombo: Trinta dias de feriado nacional com liberação do pedágio nas estradas, gasolina de graça e caipirinha subsidiada nas praias. Poucos ficarão nas cidades sedes da Copa. Os turistas ficarão maravilhados com o sossego de nosso país. Isto por si só já conta vários pontos para o nosso eterno pleito de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
REDE HOTELEIRA:
A crítica dos desmancha-prazeres: A rede hoteleira do País é precária. Outra asneira sem tamanho. Quem vem ao Brasil não vem para dormir. Vem, evidentemente, para outras coisas. Mas, ocorre que não queremos impor nossa própria maneira de ser aos nossos visitantes. Devemos tratá-los como hospedes ilustres, por isso, há também uma solução fantástica que somente o Brasil e nenhum outro país seria capaz de oferecer. Vocês ficarão admirados com o que o Brasil poderá preparar para europeus, asiáticos, norte americanos, nossos irmãos sul-americanos, africanos e até para marcianos se resolverem aparecer. Haverá lugar para todos.
Por esta ninguém imaginava: Por decreto, sujeito a fiscalização pela Polícia Federal, seria implantada a abstinência sexual durante o período da Copa nas cidades sedes. Os motéis, para não ficarem entregues às moscas, passariam a complementar a rede hoteleira com folgada margem, pois temos mais motéis do que hotéis. Bingo!
LEGADO DA COPA:
Sem estádios novos, com os aeroportos entupidos da mesma forma que antes, com os congestionamentos infernais e ônibus lotados de sempre e ainda com os muquifos de hotéis superlotados, nos restaria o legado de termos de pagar por muitos e muitos anos o custo de todas as obras que não foram feitas, pois o dinheiro efetivamente saiu das burras do erário. Para onde foi, nem o povo sabe e pelo que anda colocando no Congresso não tem o menor interesse em saber, pois, como disse um de seus mais ilustres representantes na Câmara dos Deputados: “Pior do que está não fica” Continue votando no Tiririca...
Edson Pinto
Abril’ 2011