31 de mai. de 2012

203) DEMOROU!

Charge de Paixão - Gazeta do Povo (PR).


Um dos mais interessantes fenômenos de qualquer idioma é a gíria. O Aurélio a define como sendo uma “linguagem que, nascida num determinado grupo social, termina estendendo-se, por sua expressividade, à linguagem familiar de todas as camadas sociais” (o grifo é meu)

Algumas gírias pegam muito bem por um curto período de tempo, mas depois desaparecem ou ficam apenas na memória dos saudosistas, como eu. Assim, além das gírias atuais que todos nós sabemos, ainda guardo na memória outras bem caretas, mas expressivas como: 1) “Amigo da onça” para se referir a um amigo não confiável. 2) “Boca na botija” usada quando alguém é flagrado fazendo algo errado ou escondido. 3) “Cantar de galo” para designar o prepotente, aquele que conta vantagens e/ou quer mandar em tudo e em todos.

Há outras ainda bem interessantes como: 4) “Em maus lençóis” quer dizer que alguém entra em uma enrascada. 5) “Farinha do mesmo saco” designa muito bem os que pertencem à mesma laia, à mesma corja. 6) “Golpe baixo” conota atitude de ética duvidosa. 7) “Homi” tomado assim isoladamente indica que a presença da polícia, os dos homens da polícia. 8) “Ideia de jerico” é idéia tola, má, burra. 9) “Jurar de pés juntos” refere-se ao ato de alguém afirmar ser verdade aquilo que se diz, mesmo que não o seja. 10) “Livrar a barra” dá a conotação de excluir alguém, especialmente os amigos, de uma situação difícil. 11) “Mandar um migué” é trapacear alguém, fazendo uso da mentira. 12) “Nem te ligo” expressa desprezo para com outra pessoa ou até mesmo com a opinião pública. 13) “O fim da picada” refere-se a situações que de tão despropositadas nunca deveriam ter ocorrido. 14) ”Por baixo dos panos” significa fazer furtivamente algo escuso com o propósito de enganar a outrem.

Não nos esqueçamos de outras, ainda, tais como: 15) “Quebrar essa” para indicar a retirada de alguém de uma situação muito ruim. 16) “Rolo” que é tomado no sentido de trocar uma coisa ou uma situação por outra. Tem cheiro de chantagem. 17) “Se virar” refere-se à situação em que alguém, não tendo nada de útil a ser feito, procura algo para com o que se ocupar. 18) “Tapar o sol com a peneira” é a tentativa de se ocultar, porém sem sucesso, algo que é muito evidente. 19) “Useiro e vezeiro” tem a ver com o hábito incorrigível de insistir em fazer coisas erradas. 20) “Vistas grossas” remete a idéia de fingir que não se viu os malfeitos, especialmente quando praticados por amigos. 21) “Xereta” é intrometido, aquele que se mete onde não é chamado. 22) “Zebra” refere-se a um resultado inesperado. Toma-se como certo um determinado resultado e no final vem um outro bem diferente.

Se os meus pacientes leitores tiveram o cuidado de observar, terão notado que mencionei, em ordem alfabética, vários exemplos de gírias brasileiras que contemplam todas as 26 letras do nosso alfabeto, exceto as três, “k”, “w” e “y”, de origem estrangeiras, e que só recentemente foram incorporadas pela última reforma ortográfica.

__ Por que fiz está listagem de gírias?

__ Apenas para desafiar se os meus amigos conseguem encontrar “umazinha” delas que seja que não se aplique às recentes estripulias do ex-presidente Lula e de sua patota do PT nesse episódio do julgamento do Mensalão e no da CPMI do Cachoeira. Sem querer ser cansativo, tomemos, por blocos, as situações que se nos apresentam neste momento para fazermos o enquadramento ao alfabeto completo (de A a Z) de gírias que o consciente popular brasileiro conseguiu produzir em cinco séculos de trato com o idioma pátrio:

A) Você confiaria na sinceridade do Lula, do José Dirceu e de outros membros da patota? Aplicam-se as gírias de nºs 1, 5, 6, 8, 9, 11, 14, 18 e 20.

B) Acha que Lula comanda um esquema para apagar da memória do povo todos os malfeitos de sua turma e com a qual mantém laços de profundo respeito e cumplicidade? Aplicam-se as gírias de nºs 4, 10, 15 e16.

C) Em qual situação você acha que Lula encontra-se no momento? Aplicam-se as gírias de nºs 2, 3, 7, 12, 17, 19 e 21.

D) Como você acha que tudo isto vai acabar? Aplicam-se as gírias de nºs 13 e 22

A menos que não se queira ver, penso, não haver dúvidas de que o PT acaba de atingir o grau máximo de esperteza no trato da política no País. Contemplou todo o abecedário de mau comportamento que nos serve de exemplo para demonstrar a criatividade lingüística popular.

Agora! Se você notou a falta da gíria correspondente a letra “d”, saiba que isso ocorreu não por falha metodológica deste indignado escriba. Ela encontra-se no título deste texto com o simples propósito de mostrar, de forma contundente e expressiva, que já era sobejamente esperado pelas pessoas de bom senso que, mais cedo ou mais tarde, toda a verdade viria à tona. Quando se diz “demorou” quer-se dizer que era óbvio que a verdadeira face da politicagem que se apoderou do Planalto e suas vizinhanças na última década, seria, em algum momento, completamente revelada.

Demorou!

Edson Pinto

Maio’ 2012



24 de mai. de 2012

202) CHUTE NO TRASEIRO

De toda essa história relacionada com o atraso das obras da Copa do Mundo de 2014 e que levou o secretário geral da FIFA, Monsieur Valcke, a sugerir um solene e estimulante chute no nosso traseiro, eu, como certamente muitos outros brasileiros conscientes, não me senti ofendido com a grosseria, pois ela pode ter lá suas razões e comportar, segundo o ponto de vista de cada um, várias interpretações. Notadamente, é de se ressaltar que as evidências já arraigadas em nossa cultura demonstram que as coisas por estas bandas só acontecem com rapidez quando nossa retaguarda anatômica se vê acicatada por um 44, bico largo, como dizia meu saudoso avô.

Não é fácil fazer com que as coisas aconteçam aqui na Terra Brasilis no mesmo ritmo em que acontecem alhures. O governo anuncia um plano para construção de tantos milhões de casas para a população carente. Passam-se os anos e o que se consegue mal atinge a uma ínfima parte daquilo que se planejou. As promessas são, então, renovadas. O famoso PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) não consegue alçar voo mais alto porque os entraves burocráticos, a leniência dos responsáveis pelas obras, e até mesmo a corrupção e o despreparo gerencial de nossos lideres prevalecem sobre a urgência e as boas intenções dos planejadores.

Desde Dom Pedro II, no século XIX, a tal transposição do Rio São Francisco para irrigar o semi-árido nordestino não chega ao fim. No equivalente de tempo transcorrido desde que Dom Pedro anunciou o tal projeto, os egípcios, com os parcos recursos tecnológicos de 3000 anos atrás, já teriam construídos, por baixo, umas três pirâmides, como as de Quéops, Quéfren e Miquerinos.

A Transamazônica, aquela estrada que ligaria os rincões da Amazônia ao sul do País, lembram-se? Fizeram umas poucas e porcas picadas na selva e hoje a Natureza já cuidou de reincorporá-la ao seu patrimônio. Os produtos eletrônicos produzidos na artificial Zona Franca de Manaus só chegam aqui, rápido, se for de avião. O custo Brasil, é óbvio, vai para as alturas e a integração do gigantesco território só fica na ficção. O mais sério é que - no ritmo em que andam as obras de infraestrutura no País - não tardará a nem mesmo termos mais condições de movimentar cargas nos nossos superlotados e defasados aeroportos. Será que voltaremos à época das tropas de burro atravessando os sertões brasileiros para levar e trazer mercadorias? Seria um atraso, mas - convenhamos - ainda assim, bem romântico...

Parece que tudo, contado desta forma, leva-nos a concluir que as coisas encontram-se muito erradas, não é? O que justificaria a exuberância econômica do nosso País não seria apenas o presente que o Criador, em momento de extrema generosidade e grandeza, nos deu? “Criança, não verás nenhum país como este/ Olha que céu, que mar, que rios, que florestas/ A Natureza aqui perpetuamente em festa/ É um seio de mãe a transbordar carinhos...” Olavo Bilac, como se vê, já tinha sacado com o mais absoluto lirismo esse - digamos - golpe de sorte de quem viria, pelas graças de Deus, ter acesso à luz neste abençoado território centro-oriental da América do Sul, que é o nosso amado Brasil.

Pero Vaz de Caminha na sua famosa carta de 1º de maio de 1500 já tinha reportado a Dom Manuel que, por aqui: “... a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro e Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”

Seriam essas benesses as razões de nosso comodismo face aos desafios de uma vida dura que em tese não temos? Se Deus nos foi tão generoso por que iríamos nos neurotizar na busca de um comportamento austero desnecessário? Quem vive melhor: os dedicados asiáticos que exigem padrões de disciplina rigorosa aos filhos para superarem suas vicissitudes ou nós brasileiros que podemos levar a vida mais na flauta? Considerando que a passagem terrena é maravilhosa, breve e única, por que não fazê-la com um pouco menos de responsabilidades?

Eis aqui, meus amigos, a reflexão que vale a pena ser feita. Depende do que cada um pensa da vida. Um chute no traseiro pode, portanto, ser considerado um alerta, um desafio, uma grosseria ou quem sabe até mesmo uma manifestação de ciúme.

Edson Pinto
Maio’ 2012


15 de mai. de 2012

201) BRASIL CARINHOSO

Após o seu primeiro ano de governo, a presidenta Dilma já começa a consolidar-se com a imagem de executiva competente ao mesmo tempo em que demonstra coragem para enfrentar problemas até agora intocáveis e sensibilidade para atitudes com potencial de qualificá-la como a “mãe de todos os brasileiros”. Como qualquer boa mãe, quer sempre o melhor para seus filhos.

Porém, isso não é fácil...

Um país marinado na vinha d’ alhos da esperteza onde o sistema político representa o caráter ímprobo da banda podre da sociedade tem a resistência de uma palmeira do deserto. Esta, como se sabe, tem a raiz mais profunda de tantas quantas se possa imaginar. Sobrevive às adversidades como nenhuma outra e até mesmo sob as mais severas condições permanece inquebrantável. Pena que a palmeira é do bem e a improbidade é do mal. O que há em comum é a sua resistência em manter-se vicejante.

O domingo de Dia das Mães apresentava-se muito propício para reflexões transcendentes. Afinal, mais do que tudo, reconhecer a importância da maternidade é prestar humildemente e de joelhos homenagens à sabedoria do Criador que a fez na forma da mais pura manifestação de amor para sustentar tudo o que há no Universo.

A figura da mãe não é só a da mulher que nos gerou e, quase sempre, a que também nos criou. Ela passa do material de nosso mundinho para o supremo do mistério da vida e do incompreensível Universo que nos rodeia. A bondade materna é o cimento que dá coesão a todo o edifício da existência.

Que bom saber que mãe é símbolo de bondade. Que mãe é símbolo de dedicação, de conforto, compreensão, amor incondicional e luz que nos ilumina o caminho e nos impulsiona para frente e para o alto. A mãe pode estar em casa, na escola, no trabalho, na sociedade e, por que não, até na presidência da República.

Se fossemos uma monarquia gostaríamos de ter uma Rainha-mãe. Não sendo, e subjugados à ditadura, preferível a mão corretora de uma mãe severa, porém carinhosa, do que o bastão de um general tirano. Sob a égide da liberdade de uma república, melhor ainda uma mãe que zela pelos filhos do que um punhado de velhacos que pensa em servir-se do povo e não o contrário.

Dilma, embalada pelo espírito do Dia das Mães, anuncia o Brasil Carinhoso, programa que pretende tirar da miséria absoluta todas as famílias brasileiras com crianças até seis anos de idade. Ninguém pode ser contra um programa como esse. Todos nós, exceto os que precisam da miséria do povo para conquistar seus objetivos escusos, estaremos dispostos a fazer o que for preciso para que isso de fato aconteça. Do coração de mãe da presidenta Dilma, só podemos esperar bondade e carinho de tal sensatez e magnitude. Dará certo?

Mal a presidenta terminara sua fala recheada de carinho com o Brasil, o programa Fantástico, da Rede Globo, em mais uma reportagem já não mais tão fantástica devido à habitualidade com que frequentam a nossa realidade, apresenta-nos a fala igualmente carinhosa com a qual a Sra. Carla Ubarana Leal, funcionária do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, demonstra em minúcias o desfalque de 20 milhões de reais praticado por ela e por dois desembargadores do estoque de precatórios que ao Tribunal cabia entregar a quem de direito: Viagens nababescas, imóveis e veículos caríssimos encheram de alegria os três filhos potiguares de Dilma por um longo período enquanto crianças famélicas lutavam pela sobrevivência minimamente digna.

Claro que esses filhos safados, Dilma não gostaria de ter. Nem nós. É óbvio! O problema é que o “Brasil Carinhoso” da presidenta e mesmo o “Brasil Justo” que todos queremos é democrático e para todos.

Para todos?

Sim! Até mesmo para aqueles que se servem da desonestidade para benefício pessoal, de grupelhos e partidos políticos. E olha que - como a palmeira do deserto - essa turma é forte, arraigada e tem raízes profundas. Passará o tempo que for e ela não deixará de existir, a menos que ao invés de simplesmente cortar-lhes os galhos e o tronco aprendamos a salgar suas raízes.

Edson Pinto
Maio’ 2012