21 de mar. de 2010

113) MINOTAUROS DA VIDA


O rei Minos de Creta castigado por não ter atendido a um pedido de Poseidon, deus olímpico e senhor dos mares, vê sua esposa Pasifae conceber o minotauro, metade homem, metade touro e garras de leão.

Sob o palácio de Cnossos, Dédalo constrói por ordem de Minos, um labirinto onde o minotauro é aprisionado. De lá ninguém conseguia escapar. Nem da voracidade do monstro, muito menos do intrincado e indecifrável labirinto criado pelo notável arquiteto mitológico.

E como desgraça pouca é bobagem, o rei Minos tem ainda o seu filho, Androceu, assassinado por atenienses invejosos por suas vitórias no festival panatinaico. Como castigo, sete varões e sete donzelas atenienses eram jogados anualmente no labirinto do minotauro, claro, de onde jamais poderiam escapar.

Mas chega o dia em que Teseu, filho do rei de Atenas, apresenta-se como voluntário a enfrentar o minotauro. Pela sua coragem, logo de cara ganha o amor de Ariadne, filha do rei Minos, e esta, em segredo, entrega-lhe uma espada mágica e um novelo de linha. Teseu adentra o labirinto desenrolando o novelo, encontra o minotauro e o elimina com a espada mágica e de lá consegue escapar seguindo a linha que havia desenrolado.

Bela história, não só de valentia, de paixão e amor incondicional, mas acima de tudo de engenhosidade. Mais do que a espada mágica que ajudou Teseu eliminar o monstro, foi o prosaico novelo de linha que lhe criou condições de escapar do labirinto.

Esta lição lendária e milenar nem sempre é aplicada nos nossos desafios atuais. Entramos, não raro, em labirintos, desarmados e desprovidos de um simples novelinho de linha que pudesse nos dar condições de voltar sãos e salvos. Não voltamos como voltou Teseu, ficamos por lá espetados nos chifres dos minotauros da vida. Pior, na maioria das vezes nem ousamos entrar e ficamos do lado de fora esperando que o sacrifício de outros nos redima do pecado da omissão.

A vida é, por analogia, um suceder de desafios labirínticos. Mal saímos de um, se é que saímos, e logo encontramos outro. Podemos vencer um minotauro e em seguida nos perder nos labirintos da volta. É como não conseguir escapar das vielas da Alfama ou dos becos da Mouraria, pois esses, tal qual a vida e a obra prima de Dédalo, são igualmente labirínticas.

Acontece que a vida só bonifica a quem enfrenta seus minotauros e logra escapar de seus labirintos. De fora, passivos, omissos e concordes até podemos nos manter livres dos arranhões ardidos de suas garras. O problema é que, sem adentrar os labirintos não há como superar o desafio e nos colocarmos prontos para os próximos e assim seguir de cabeça erguida a senda estreita e árdua que nos leva ao lado de lá.

Portanto, se lhe falta coragem para enfrentar uma causa labiríntica lembre-se de que além de uma espada mágica que uma Ariadne inspiradora pode lhe emprestar, haverá sempre a possibilidade de se ter um novelinho de linha à mão. Com este, você certamente não perderá o caminho de volta.


Edson Pinto
Março’2010

3 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

Já vai prá mais de mês que não publicava um novo texto no meu blog pessoal. Preguiça? Falta de assunto? Não, nada disso!

Preguiça, eu nunca tive! E, vivendo no Brasil, como todos sabem, torna-se impossível não se ter assuntos novos, velhos ou mesmo requentados sobre os quais qualquer um poderia muito bem se inspirar para a produção de um texto. Nisto me incluo. Busco, portanto, em Pero Vaz de Caminha a assertiva de que nesta “terra em se plantando tudo dá”. Por que não daria também infindos temas para saciar o cronista e contista do cotidiano?

Acontece que, de propósito, decidi espaçar a publicação de novos textos no meu blog tendo em visto tanto o descanso de meus leitores, como para que eu tivesse mais tempo para outras tarefas com as quais me encontro atualmente bastante envolvido. Alguns poucos leitores assíduos, de fato, reclamaram da falta de atualização do blog. A maioria, contudo, quedou-se silente, o que me indica ter sido adequada a decisão de reduzir a frequência das publicações.

Nesta retomada, busquei na rica mitologia grega um paralelo com as atitudes que tomamos no dia a dia quando nos confrontamos com desafios. No meu novo texto MINOTAUROS DA VIDA busco filosofar sobre nossas atitudes cotidianas. Trata-se de um tema paradoxalmente tão antigo quanto atual. Lula, mais filósofo do que eu, por certo condenaria não o minotauro, nem a valentia e astúcia de Teseu, mas sim o desejo de se deixar morrer por uma idiota greve de fome como a que ele diz ter, também, feito no seu passado de sindicalista.

Uma boa semana a todos!

Edson Pinto

Blog do Edson Pinto disse...

De: Líbio V. S. Carmo
Para: Edson Pinto

Legal, Edson, muito bom o texto.

Abs.

Líbio

Blog do Edson Pinto disse...

De: Ibrahim Tahtouh
Para: Edson Pinto

Bom dia Edson.Voltou inspirado.Belo texto para reflexões. Abraços, Ibrahim