3 de dez. de 2010

147) LIVRE-ARBÍTRIO OU A ÚLTIMA CHANCE


“__ O senhor crê - disse Cândido - que os homens sempre tenham se massacrado, com fazem hoje? Que sempre tenham sido mentirosos, velhacos, pérfidos, ingratos, bandidos, fracos, levianos, invejosos, gulosos, beberrões, avarentos, ambiciosos, sanguinários, caluniadores, debochados, fanáticos, hipócritas e tolos?

__ O senhor crê - replicou Martinho - que os falcões sempre tenham comido os pombos ao encontrá-los?

__ Sim, decerto - disse Cândido.

__ Pois então! - disse Martinho - Se os falcões sempre tiveram o mesmo caráter, por que o senhor quer que os homens tenham mudado o deles?”

Este diálogo encontra-se em uma passagem do livro Cândido, de Voltaire, quando dois personagens filosofam sobre caráter e moral. O curioso é que desde sempre o ser humano guarda em sua índole - uns mais que outros - essa imperfeição sem nem mesmo, com o passar do tempo e com a evolução das sociedades, ter mostrado melhorias. Sendo realista, diria que, pela competitividade que se estabeleceu no mundo de hoje, isso até piorou.

Eu já estava ficando intrigado com a recuperação de caráter que Silvio de Abreu havia traçado para Chiara. Mas, ontem, ela voltou a ser o que sempre foi: uma figura abjeta, falsa e capaz da prática de gestos os mais horrendos. Totó, pobre coitado, que encarna o papel do crédulo, inocente e bondoso há de ter nova e forte decepção. Esperemos que seja a última.

O bandido sai da prisão onde deveria se re-socializar, mas delinqüe repetidamente. O político malversa, mente, é perdoado, mas volta de forma doentia às práticas malsãs. O egoísta finge arrependimento, promete melhorar a conduta, mas depois persiste nas mesma e deplorável conduta. Acreditar naquilo que contraria a natureza humana é uma temeridade. Se no âmbito das relações próximas já observamos tanta dissonância, imaginem quantas mais há quando nos transportamos à esfera das ações econômicas, sociais e políticas?

Vivemos, infelizmente, a era da dissimulação. Encobrem-se intenções, finge-se que não entende ou que não sabe e disfarça-se para atingir objetivos escusos. Aos incautos, qualquer vã e infundada justificativa é suficiente para continuarem candidamente acreditando nos falcões. O jogo político está eivado de espertezas. Vive-se de falsas aparências e de falsos propósitos.

O fim de cada ano é tradicionalmente um momento adequado para reflexões sobre a nossa vida, quer a do exíguo espaço do mundo particular de cada um, quer o das relações sociais a que nos encontramos submetidos. Esperança, portanto, é a palavra de ordem. Quem não conseguiu ver um ser humano melhor em 2010 deve continuar acreditando que o conseguirá no próximo ano. O importante é não deixarmos de acreditar na máxima de que “nem tudo está perdido”.

Se nos resta, ainda, alguma chance de que as coisas podem e devem ser melhores, isso depende única e exclusivamente de cada um de nós.

“__ Oh! – disse Cândido - Há muita diferença, temos o livre arbítrio...”


Edson Pinto
Dezembro’2010

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos:

Caros amigos:

Mudança de caráter - do mal para o bem - lhe parece possível? Temos, todos, certa dúvida sobre isto. Só existe uma esperança e ela se chama “livre-arbítrio”. Pensando nisto, escrevi o texto LIVRE- ARBÍTRIO OU A ÚLTIMA CHANCE. Agarremo-nos a ele!

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto