5 de abr. de 2012

199) LIGEIRAMENTE GRÁVIDA

Pessoalmente, ainda tenho duvidas se a economia brasileira está de fato em franca expansão. O consumo das famílias cresceu 10,5% em 2011 e estima-se nova elevação da ordem de 13,5% para 2012. Estamos no patamar do chamado pleno emprego, taxa que tecnicamente assegura que toda a força laboral da sociedade tem condições de encontrar trabalho, excluídos, obviamente, os desprovidos de qualificação adequada.

Nesta semana, tomamos conhecimento de que dezenas de milhares de estrangeiros estão sendo atraídos pelas oportunidades de encontrar ocupação profissional no Brasil. Brasileiros que migraram para outros países estão de volta, o que é muito bom sob vários aspectos. As reservas monetárias estão elevadas como nunca e a inflação depois de certo susto parece mais comportada.

Por outro lado, o pibinho roscofe de 2,7% de 2011 e o desmantelamento da Indústria nacional que já não consegue competir com os concorrentes estrangeiros devido ao elevado custo Brasil e à supervalorização do Real contradiz tudo o mais. E para desespero de todos nós, a carga tributária cresce no mesmo ritmo da roubalheira que os gatunos de todas as categorias fazem nos cofres públicos.

Fica, portanto, a questão que ainda não encontra resposta satisfatória. Estaríamos naquela situação ambígua e improvável de estar a nossa economia ligeiramente grávida, como na música dos roqueiros do Espírito da Coisa. “Mamãe eu acho que estou ligeiramente grávida/ Mamãe não fique pálida/ A coisa não é ruim/ Se lembre, um dia você já ficou assim...”

Na alegoria dos roqueiros a estrofe jocosa pode até encontrar uma aplicação bacana para os propósitos da canção, porém na economia assim como na maioria dos aspectos da vida isso não é possível. Ou se está de fato grávida, ou não. Esse meio termo não existe. A economia ou está sólida e crescente ou não está. Ou os bons indicadores são simplesmente reflexos de momentos peculiares que mais adiante não encontram sustentação ou a nossa percepção dos fatos está incompleta, defasada e, portanto, requer muito mais análises do que as tantas que têm sido feitas pelos economistas e políticos do País.

O lado bom da questão é que se, de fato, a economia estiver grávida ainda veremos, neste ano, o nascimento de um rebento saudável e muito desejado por todos nós que seria um PIB de verdade. O Brasil precisa disso por período de tempo longo o suficiente para que haja melhor distribuição de renda e para que a nova classe média se consolide não apenas com dinheiro no bolso, mas com nível educacional que lhe garanta enfrentar todas as situações adversas futuras.

Na semana passada tivemos a perda do grande humorista Chico Anysio. Que Deus o tenha! Os noticiários trouxeram retrospectiva da vida do grande artista, mas, por ironia do destino, ao nos mostrar o seu casamento com a ex-ministra Zélia Cardoso de Melo, reavivou-nos a memória da lambança em que o País se meteu quando da implantação do Plano Collor em 1990. Já faz 22 anos que aquela astúcia sem precedentes mexeu com a vida de todos nós e deu no que deu. Estávamos ligeiramente grávidos naquela época. Como não tinha nada gestado que valesse à pena parir o resultado foi o que todos que viveram na época devem se lembrar para nunca mais admitir a repetição do erro.

Edson Pinto
Abril’ 2012

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

Recentemente falei sobre o modesto PIB que a economia brasileira registrou em 2011. Chamei-o de “Pibinho Roscofe” (vide meu texto 195 de março último).

Com a crônica desta semana, volto a tema para abordar o mesmo assunto agora sob outro prisma. LIGEIRAMENTE GRÁVIDA.

Boa Páscoa a todos!

Edson Pinto