13 de set. de 2012

215) A FALÁCIA DA UTILIDADE DOS JUROS ALTOS

O Estadão do último domingo, 9/9/12, nos brindou com um artigo altamente revelador do debate que se trava, há anos, sobre o uso da taxa básica de juros como instrumento maior do controle da inflação. (clique aqui para acesso ao artigo “Rumo a 5%”, do mestre em finanças públicas, Amir Khair)

Quem não acompanha com regularidade temas como esse talvez nunca tenha percebido que a gestão da taxa de juros é a razão maior da existência de um banco central como o nosso. Embora a matéria pareça, a princípio, árida e ao mesmo tempo envolta em muita tecnicidade, ela é de uma simplicidade franciscana. Explico a seguir:

Com base na famosa “Lei da Procura e da Oferta”, sabe-se que, do ponto de vista da “Procura”, quanto mais alto o preço de qualquer bem ou serviço (vide eixo do preço “P” no gráfico acima) menor é a sua procura (eixo de quantidade “Q” no mesmo gráfico). O inverso é igualmente verdadeiro: Quanto mais baixo o preço, maior será a procura. Do ponto de vista da “Oferta” ocorre exatamente o contrário (vide os mesmos efeitos de preços e quantidades ofertadas refletidos pela curva da Oferta sobre os eixos “P” e “Q”). O ponto “E” demonstra o equilíbrio entre as duas forças.

Como a inflação (aumento de preços) ocorre quando a procura é maior do que a oferta, a forma enraizada e erroneamente considerada como a única na política econômica tupiniquim para reequilibrá-las, tem sido a elevação das taxas de juros. Não é totalmente falso o efeito de que o preço mais elevado do dinheiro, no primeiro momento, leva à redução da demanda e com isso o controle da inflação. O que tem sido uma falácia é a argumentação de que não existem outros instrumentos ou outras oportunidades que se aplicadas corretamente poderiam dispensar o uso exclusivo da política de elevação da taxa de juros.

Redução do custo Brasil; redução da burocracia governamental que impõe custos elevados para as empresas e para os cidadãos; utilização das oportunidades momentâneas ofertadas pelo mercado mundial; estímulo ao empreendedorismo popular; aumento da eficiência dos governos e combate à corrupção. Essas são apenas algumas das boas alternativas disponíveis.

Se entendermos que o dinheiro que tomamos emprestado para financiar a compra de um produto ou serviço, incluindo os juros nele embutidos, como sendo também uma mercadoria qualquer, logo percebemos que em país de juros elevados, como no nosso, não existe melhor negócio do que vender dinheiro.

Funciona assim: Se mercadorias ou serviços são mais procurados do que ofertados, os produtores ou prestadores de serviços aproveitam para aumentar seus preços o quanto possível e com isso fazerem bons lucros. Para evitar que isto aconteça em detrimento dos consumidores, o Banco Central do Brasil, através da taxa SELIC, aumenta os juros que vão se refletir nos preços de tudo o que compramos. Aqui entra o sistema financeiro e apossa-se do benefício extra que os vendedores de mercadorias e serviços esperavam embolsar em função do desequilíbrio que lhes era favorável na balança oferta/procura.

Existem outras razões que melhor expliquem os enormes ganhos dos bancos brasileiros? Será que ganham muito por que são muito eficientes? Por que emprestam muito dinheiro a taxas honestas ou quaisquer outros motivos saudáveis? Claro que a razão primordial é a mamata propiciada pelas elevadas taxas de juros. Na verdade, os bancos nem precisam muito emprestar dinheiro às empresas e aos consumidores finais. Basta colocar as suas sobras de caixa em títulos púbicos que são os mais seguros e que remuneram com a, até recentemente, mais alta taxa de juros do mundo.

O governo se compromete a pagar aos investidores em títulos públicos, juros altíssimos. E de onde sai o dinheiro para pagar essa fortuna de juros? Dos impostos que pagamos, é claro. É por isso também que temos uma das maiores cargas tributárias do mundo. E o pior: o dinheiro que é destinado aos juros dos títulos do governo faz falta para a manutenção das nossas horrorosas estradas, ao nosso precário sistema de saúde, ao deficiente sistema educacional do País, entre outros.

O circulo virtuoso seria, então: Juros menores; menos pagamento aos investidores de títulos públicos forçando-os a investirem na economia real; mais recursos que ficariam disponíveis para investimentos em infraestrutura; menor custo Brasil; maior estímulo para que produtores e prestadores de serviços aumentassem a oferta; mais consumo; mais progresso...

E por que demorou tanto tempo para que as autoridades entendessem que só o sistema financeiro estava se beneficiando da política de juros altos?

Edson Pinto
Setembro’ 2012

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

Taxa de juros é que nem futebol: Suscita debates calorosos independendo de quem esteja ganhando ou perdendo...

Aqui no Brasil não é de hoje que o tema provoca frisson nas espinhas dos nossos fazedores de política econômica. Dá prá entender: O lobby do sistema financeiro tem logrado pautar os governos ao mesmo tempo em que se lixa para o já sacralizado conceito de distribuição de renda.

Há, finalmente, uma luz no final do túnel. Mas, como já aprendemos desde épocas antediluvianas, é bom desconfiar se essa luz não é a de um trem vindo em sentido contrário...

Leia o meu texto desta semana A FALÁCIA DA UTILIDADE DOS JUROS ALTOS e vejam se concordam comigo.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto