13 de dez. de 2013

253) REFLEXÃO SOBRE O PAÍS DAS CAÇAMBAS

O novo prédio acaba de ser finalizado. Opa! Agora, todo aquele transtorno provocado pelo vai e vem de caminhões, montanhas de materiais de construção, fluxo de trabalhadores, guindastes e outras imposições que uma grande obra provoca está terminado. O trânsito fluirá célere e o que incomodava não nos incomodará mais. Certo? Errado! Agora que está tudo pronto começa um novo martírio: A rua é tomada por caçambas. É isto mesmo, caçambas, aqueles recipientes de aço, normalmente com o número do telefone do proprietário estampado em letras garrafais que são colocados nos lugares onde deveriam estacionar os veículos e que já se tornaram verdadeira instituição nacional. Por que isso acontece?

Bem, meus amigos! São essas caçambas que sugerem uma reflexão sobre como o ser humano, especialmente nós os brasileiros, conduzimos nossas vidas: O prédio foi planejado; os compradores visitaram os stands de vendas e tiveram acesso ao modelo decorado; a compra foi efetuada, às vezes com certo sacrifício financeiro, pois os juros de financiamento – como sabemos – são escorchantes neste país de economia nunca estabilizada e tudo parece ter chegado a um final feliz. Não! A felicidade completa parece que está em dar aquele toque pessoal e exclusivo na nova habitação, mesmo que signifique derrubar algumas paredes, trocar os azulejos da cozinha, o piso da sala, o desenho do gesso do corredor ou qualquer outra coisa que diga para quem o fez algo como: É assim que eu gosto e quero! E lá se vão toneladas de entulho de materiais recentemente instalados. Outras toneladas adentrarão ao prédio ou à casa para substituir as primeiras.

Há algo errado com essa liberdade das pessoas em quererem personalizar o próprio lar? Claro que não! A vida só é plena quando nos sentimos bem com as coisas que temos; com as pessoas que nos rodeiam; e, obviamente, também como o lugar que consideramos nosso teto. Mas, apesar disso, penso que deve existir algo de muito peculiar aqui na nossa terrinha. Minha experiência pessoal, incluindo a de ter vivido fora do país por algum tempo, não me registrou pelos lugares que freqüentei e vivi tanta sanha para reformar as habitações como vejo aqui no Brasil. Visitem qualquer país europeu e verifique se há tantas caçambas nas ruas como temos por estas bandas... Fica aqui o desafio!

Seria essa sanha de reformar o imóvel algo relacionado com a ascensão social de parte da nossa sociedade que, além de recursos financeiros agora disponíveis, também começa a ter gostos mais refinados? Será que em outros países as habitações já não são mais definitivas de tal modo que as reformas que se fazem são mais leves ou utilizam materiais que geram menos entulhos ou, por último, mas não menos importante, será que as demandas e preferências pessoais de sociedade mais evoluídas, como um todo, não são mais equânimes, parecidas, e por isso exigem menos reformas?

Se fossemos um país comunista, o que graças a Deus não somos, talvez as casas, sendo todas de propriedade social, fossem - por razões obvias - padronizadas e os gostos individuais já teriam sido, há muito, massacrados pelo estúpido principio da igualdade forçada. Sermos capitalistas nos dá essa liberdade, mas também deveria nos sinalizar para medidas que possam contribuir para a redução do desperdiço. Por que não planejar melhor? Será que as construtoras não poderiam adotar tecnologias que minimizassem os transtornos das eternas reformas? Será que individualmente não poderíamos ser menos “inovadores” neste sentido de mudar por mudar, reformar por reformar? Será que há certa dose de mimetismo a levar as pessoas a seguirem uma determinada moda? Tudo é possível, tudo é justificável, nada é em vão...

E por usar a expressão “em vão” fica aqui uma lição que podemos depreender dessa “filosofia de caçamba” tão peculiar ao nosso cotidiano. Quem sabe não passemos a distribuir caçambas metafóricas para remover o entulho da política brasileira; os azulejos envelhecidos da corrupção; o gesso podre do nepotismo; o piso rachado do gosto pelo eterno poder por parte dos mesmos mandatários de sempre? Esse, sim, seria o entulho maior que não nos aborreceria com tantas caçambas quantas fossem necessárias para removê-lo e depositá-lo no mais longínquo e profundo depósito de rejeitos que se possa conceber.

Edson Pinto

Novembro’2013 

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos (as):

Olhar para uma prosaica caçamba dessas que infestam nossas vias públicas e disso encadear uma reflexão qualquer deve ser coisa de velho...

Foi o que fiz nesta semana ao escrever a crônica que já se encontra postada aqui no meu blog: “REFLEXÃO SOBRE O PAÍS DAS CAÇAMBAS”.

Abraço e bom final de semana a todos!

Edson Pinto