14 de ago. de 2014

272) CONHEÇA A SI MESMO


Organizando os meus livros antigos, encontrei um que me chamou a atenção não apenas pelo seu sugestivo título, “Deficiências e Propensões do Ser Humano”, mas pela imediata lembrança que me fez suscitar. O livro é de autoria do pensador argentino Carlos Bernardo González Pecotche (1901 – 1963), fundador da doutrina ético-filosófica mundialmente conhecida como “Logosofia”. Importante e atemporal como são todas as coisas que formam o alicerce de trajetória humana, revisitá-lo teve para mim o sabor agridoce das lições que nunca perecem. Comprei o livro na Fundação Logosófica que no meu tempo de Belo Horizonte ficava lá na Rua Piauí, no Bairro dos Funcionários. Sei que a Fundação ainda está lá e em mais um par de outros endereços demonstrando que a doutrina de Pecotche - com razão – mantém-se de forma sólida.

Curiosamente encontrei dentro de livro, já amarelado, o recibo de sua compra. Paguei exatos NCR$ 15,00 (quinze cruzeiros novos) em 26/3/1972, portanto há 42 anos. Movido pela sede de desvendar mistérios, busquei converter o valor original da compra, em Cruzeiros Novos, agora para Reais que é o nosso padrão monetário em vigor. A cifra correspondente apurada foi abaixo de zero. Isto demonstra o quanto a nossa moeda perdeu valor em quatro décadas. A moeda virou pó, todos nós já sabemos disto, mas, felizmente, o conteúdo do livro nunca perdeu um centavo de sua enorme importância. Arrisco-me até a dizer que nos dias que correm, com tantos desacertos individuais e políticos, deve até estar sobrevalorizado...

Andei frequentando a Fundação Logosófica por cerca de um ano até que me transferi para São Paulo e nunca mais tive oportunidade de retomar o estudo que ministravam. Com 20 e poucos anos de idade é de se admitir que, na época, a cabeça também não se mostrava muito interessada no entendimento de si mesma, principio básico e razão de ser da Logosofia. A doutrina estruturada por Pecotche deu corpo ao que pensadores gregos como Sócrates e Platão conjecturaram sobre a necessidade do autoconhecimento no papel de pré-requisito a evolução humana consciente. A ideia é a de que é necessário se autoconhecer para assim poder diagnosticar as deficiências e as propensões negativas que delineiam o nosso comportamento. Só a partir daí, metódica e insistentemente, iniciar e manter a prática de suas antideficiências.
   
Sempre achei muito difícil uma pessoa mudar a sua essência. A Psicologia, as religiões, a Filosofia e genericamente a Educação não cansam de buscar meios para que tal transformação ocorra. Atrevo-me, contudo, a dizer que se trata de uma empreitada muitíssimo árdua, embora não totalmente impossível. De qualquer modo, entendo que só há um meio de se operar uma mudança no comportamento e na maneira de ser das pessoas dominadas por características ruins e prejudiciais à suas respectivas vidas sociais. Este meio é o do autoconhecimento, sem dúvida...

O mérito da doutrina logosófica é - a principio - a identificação de 44 deficiências e de 22 propensões nefastas que, se dominadas adequadamente, levariam as pessoas a desfrutarem de um patamar qualitativo mais elevado em suas próprias existências. Enquanto as deficiências dominam efetivamente o psicológico da pessoa, as propensões são mais brandas, porém mesmo assim tendentes a interferir nas decisões e no modo de ser e de reagir das pessoas por elas afetadas. Para cada uma das 44 deficiências o método logosófico propõe a prática de uma atitude oposta benéfica e restauradora.

Alguns exemplos:

À deficiência da Aspereza contrapõe-se a Afabilidade; à Credulidade, o Saber; ao Egoísmo, o Desprendimento; à Impaciência, a Paciência Inteligente; à Indiferença, o Interesse; à Intolerância, a Tolerância; ao Rancor, a Bondade; à Soberba, a Humildade; à Vaidade, a Modéstia e à Veemência, a Serenidade. Citei apenas 10 deficiências para não me alongar, mas são 44 ao todo.

Das 22 propensões, para as quais não há a explícita nomeação de antipropensões, poderia também citar 10, tais como: a propensão a Adular, que significa bajular, lisonjear de forma servil; à Dissimulação ou fingimento; à Discussão, por quaisquer e tolos motivos; ao Desespero, também por quaisquer razões, mesmo as mais simples; à Desatenção; ao Pessimismo; à Licenciosidade; à Frivolidade, que é o interesse por coisas fúteis, comportamento leviano e volúvel; a Prometer, mesmo sabendo da impossibilidade de cumprimento; ao Abandono e ao Exagero, quando a pessoa dá asas a sua imaginação muito além do que recomendaria a sua própria inteligência e à dos outros.

Se o amigo acha que dessas deficiências e propensões nenhuma lhes cabe, tudo bem. Se sim, ou mesmo se pode ser de alguma utilidade para proveito de seus orientados, então sugiro a leitura do mencionado livro. O título e o autor são aqueles aos quais já fiz menção ao longo do texto. A publicação é da Editora Logosófica. Dentro do possível, voltarei ao tema para analisar pontualmente algumas dessas deficiências e propensões. Não me esquivarei, por certo, nem mesmo daquelas a que me considero também acometido.

Edson Pinto
Agosto’2014 

2 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos (as):

Você, meu amigo, pode dizer que se conhece plenamente?

Refleti sobre isto e escrevi nesta semana o texto CONHEÇA A SI MESMO.

Já se encontra postado aqui no meu blog.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto

Anônimo disse...

Edson,
Concordo plenamente com a necessidade,
(nem sempre fácil,) de reconhecer nossas deficiências.
O complicado é praticar e vivenciar a atitude oposta.
Texto muito interessante e verdadeiro.
Importante para chamar nossa atenção. Aguardo o próximo ...

Abraço
Cristina Taurizano