12 de dez. de 2014

283) NÃO VAI FAZER FALTA?


½  galeto americano = R$29,00    ½ galeto brasileiro = R$49,00


Em recente viagem aos Estados Unidos e encontrando-me então com o senso critico mais aguçado, fiz observações pessoais várias sobre diferenças existentes entre a forma como se dá o pensamento e a ação na cultura de negócios dos americanos e na nossa brasileira. O que chama a atenção é o fato de sermos ambos capitalistas e, por isso, imaginava haver de se esperar muita semelhança e poucas especificidades que as tornassem em certos aspectos muitíssimo diferentes. Quero nesta crônica citar um exemplo trivial que faz parte do dia a dia que qualquer cidadão demandante de serviços de restaurantes:

Qual brasileiro que em viagem aos Estados Unidos não se surpreende com a grande quantidade de alimentos que é servida em qualquer prato que se peça em um restaurante? A comida é farta a ponto de ser exagerada. A bebida normalmente é servida no sistema de “free refill” aquele em que se pode, pelo mesmo preço, renovar o seu copão de Coca Cola ou outras bebidas quantas vezes quiser e suportar. Gastronomicamente falando, não deixa de ser uma aberração, porém a análise aqui é de cunho mercadológico e não sobre hábitos alimentares. Tudo é generosamente servido e com o propósito explicito de encantar o freguês. Este é o ponto...

No Brasil, e para não ficar numa generalização inconsequente, pois há exceções, cito o caso de uma cadeia de restaurantes cuja especialidade é servir “galetos”, mas eu poderia citar dezenas de outros que conheço e que procedem da mesma maneira. Sou teimoso e esquecido, por isso, vez por outra, vou até esse restaurante e, confesso, sempre saio de lá com o mesmo desprazer. Pede-se um meio galeto que custa quase o dobro de pratos similares em restaurantes americanos e recebe dois minúsculos pedaços do frangote, pressupostamente oriundos de um galetinho muito mal nutrido. Não que comer menos do que o estomago pede não seja até recomendável, mas a quantidade é desrespeitosa de tão pequena. E olha que estamos no país onde a avicultura é considerada uma das maiores do mundo. 
  
Por que, então, os restaurantes americanos servem em abundância e a preços menores do que a maioria dos restaurantes aqui do Brasil? Fiz algumas investigações empíricas, sem o recomendável respeito ao método cientifico, é claro, mas suficiente o bastante para alcançar uma hipótese plausível e estarrecedora quanto à falta de visão de negócios de nossos empresários do ramo de alimentação:

Perguntem a qualquer dono de restaurante que saiba bem administrar o seu negócio, quanto em percentual a matéria prima, isto é, os alimentos propriamente ditos, representam do custo total de seu negócio. Eu fiz essa pergunta e descobri que esta parcela do custo, também chamada de variável, pois oscila diretamente com a quantidade de refeições vendidas, quando muito, fica sempre abaixo de 20% dos custos totais do restaurante. Os custos com aluguel, pessoal, energia, taxas e outros que tem caráter de fixos, isto é, independem do volume de refeições servidas, representa os demais 80%. Guardem bem estes números!

Como pensa o americano: “Se aumento em 25% a quantidade de alimentos nos pratos dos clientes proporcionando-lhes uma quantidade generosa e encantadora eles não só ficam satisfeitos como se sentem estimulados a voltar. Esse 25% a mais no custo da matéria prima acresce no máximo 5% dos meus custos, mas, com isso, atraio muito mais clientes e ao contrário de meu custo total relativo ao faturamento aumentar, ele diminui, pois tenho mais margem sobre os custos fixos que são a maior parte do custo total da operação”. Bingo! Os restaurantes americanos ficam lotados, os preços são menores e a clientela volta com assiduidade.

Como pensa o brasileiro em geral e, em especifico, esses do restaurante do galeto mirrado que às vezes frequento: “Tenho que reduzir meus custos, então coloco menos comida nos pratos dos clientes. Além disso, servindo pouco eles podem pedir mais pratos e assim eu faturo mais”. Infelizmente não se dão conta que a consequência disso é exatamente oposta ao obtido pelo americano. O cliente não fica satisfeito e não volta, ou volta com menos assiduidade ou por esquecimento como tem sido o meu caso; o restaurante tem menos faturamento e consequentemente redução de sua margem, pois os custos fixos permanecem inalterados; para compensar a redução da margem aumenta o valor dos pratos e o circulo vicioso de aumento de preço, redução de negócios se instala até que tenham que fechar as portas e amargando prejuízos vultosos.

É claro que temos empresários brasileiros que já percebem isto e se dão muito bem com seus restaurantes cheios e lucros apetitosos, mas falta à grande maioria essa dose de capitalismo que os americanos dominam com maestria. Penso que ainda pagamos um preço elevado pela falta de cultura de livre mercado no Brasil. Nossa república sempre primou pelo excesso de intervenção na atividade privada o que leva à criação de um empresariado arisco, voltado para o lucro imediato e cheio de espertezas. Ou nunca se dão conta, ou esquecem a sagrada lei maior da economia: Aquela que correlaciona para a maioria dos produtos e serviços o preço com o nível da oferta e da demanda. Menores os preços, maiores as vendas. Maiores os preços, menores as vendas.

Para não ser indelicado com o garçom que nada tem a ver com a falta de visão estratégica do seu patrão, uso sempre de uma inocente e delicada ironia quando ele me traz essas porções desrespeitosamente diminutas. Pergunto: Será que não vai fazer falta?

Edson Pinto
Dezembro’2014 

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos (as):

Nesta semana, deixo de lado os excitantes temas políticos da nossa realidade, pois isso em excesso também cansa.

Resolvi, então, falar de coisa mais amena, mas nem por isso menos interessante ao dia a dia de um cidadão comum.

Na minha crônica desta semana reflito sobre o “como” e o “porquê” de haver diferença entre a estratégia de negócio de um restaurante americano e a de um brasileiro.

Pode parecer uma abordagem muito singela, concordo... Mas, se tomado o tema com profundidade, podemos descobrir parte das razões de nossa falta de competitividade.

Leiam o meu texto NÃO VAI FAZER FALTA? e vejam se concordam comigo!

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto