16 de abr. de 2015

290) QUASE UMA SANTA



Decidimos e vivemos muito mais em função de fatores psicológicos do que de circunstâncias objetivas. Quem gosta, acompanha e entende um pouco de futebol, essa paixão popular, sabe bem do que estou falando: O elenco é de alto nível, os salários dos jogadores estão sendo pagos rigorosamente em dia, a torcida é fiel, vibrante e apoiadora, mas o time, misteriosamente, insiste em não vencer, até mesmo desafios considerados fáceis.

Observem que, em geral, não se atribui o fracasso do time a um ou a poucos de seus jogadores, mesmo quando eles não andam na melhor de suas formas físicas e técnicas.  A responsabilidade é na maioria das vezes atribuída ao técnico. Como forma de se contornar esse problemão, o técnico invariavelmente é trocado. Tanto faz o quão convincente e admirável seja o seu currículo profissional.

Como visto, o que prevaleceram não foram exatamente os fatores objetivos da realidade, mas sim os psicológicos. Quando algo precisa mudar, nossas mentes se condicionam a achar que as coisas só podem tomar outro rumo se removido o líder. Fica difícil para a mente humana acreditar que quem está errando no que faz tenha condições de admitir isso e assim assumir uma mudança substancial em suas ações.

Ações, como sabemos, decorrem dos pensamentos e das condições intuitivas e das crenças arraigadas que temos.  Isto é psicológico e, portanto, elemento determinador de grande parte de nossos atos. O técnico que tenha consciência disso e sabedor de que a sua permanência pode mais prejudicar do que ajudar o time, não raro toma a iniciativa de acertar com a direção do clube a sua saída. Nessas circunstâncias sair com espontaneidade adquire até um caráter de grandeza espiritual.

Transportada essa situação para a política o que vimos hoje é uma presidente que anda errando muito na condução de seu time. Mesmo que apontem fatores objetivos que viessem a sustentar a sua permanência, o psicológico da questão já se sobressai a tudo o mais. Até mesmo aqueles mais crédulos que alimentavam a esperança de uma reviravolta na forma como a nossa presidente vem conduzido o país já se renderam às evidencias de que é necessário trocar o técnico do time. Infelizmente, a encrenca em que nos metemos requer, agora, muito mais desprendimento e espírito cívico elevado do que se possa imaginar.

Quando o humor das massas entra em desequilíbrio como tem ocorrido presentemente tornam-se pouquíssimas as esperanças de que o mal possa ser corrigido com a técnica que foi responsável por ele. Assim como um clube que não pode prolongar em excesso a sua trajetória de insucesso, um país também não pode seguir sangrando por mais quatro anos só porque tem que sustentar a decisão infeliz de ter reconduzido a líder que não vai nada bem. Mais do que uma questão de honra e de defesa de interesses políticos o que se faz de maior relevância é a necessidade de que não deixemos o país ficar pior a cada dia.

Penso que o processo de impeachment mesmo sendo legal é uma “via crucis” que submete a toda a nação a um sofrimento de grandes proporções. Penso mais ainda que tudo isso seria evitado para o bem de todos se a presidente, fortalecida de sua civilidade e patriotismo, apresentasse a sua renúncia. Mostraria, no mínimo, a nobreza de espírito que caracteriza os grandes líderes. Passaria para a história como a presidente que abriu mão de suas vaidades e não a imagem da teimosa que conduziu o País ao descalabro.

Como Pedro Stédile, líder dos MST, recentemente definiu Dilma Rousseff como praticamente uma “santa”, bem faria a ela se acatasse de pronto essa designação e tal qual Santa Maria Madalena, na foto que ilustra este texto, também renunciasse de suas posses e passasse para a história santificada e não amaldiçoada. Deixaria de ser “quase” para ser uma verdadeira santa...

Edson Pinto

Abril’2015 

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos (as):

E esse imbróglio sobre o governo Dilma? Impeachment, renúncia, terceirização do governo?

Pedro Stédile do MST considera Dilma como “quase uma santa”. Eu me atrevo a imaginá-la uma santa. Vejam se concordam comigo!

Se tiverem paciência, leiam este texto que acabo de escrever.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto