3 de jul. de 2015

298) O CUSTO DA BURRICE

Qualquer pessoa minimamente observadora, especialmente aquelas que já visitaram outros países ou que já adotam o salutar hábito de pesquisar preços na internet, sabe muito bem que tudo aqui na nossa terrinha, com raríssimas exceções, custa mais do que alhures. E não é só a questão do valor relativo entre moedas, pois o nosso cada vez mais pobre Real vem sofrendo desvalorização considerável nos últimos meses e mesmo assim nossos preços continuam exorbitantes.

Os economistas referem-se a isso como sendo o “Custo Brasil”. Ele é formado, entre outros fatores, pela nossa elevada carga tributária; pela precariedade da nossa infraestrutura que nos impõe custos elevados de transporte, armazenamento e logística em geral; pelo protecionismo tarifário de certos segmentos de bens e serviços; pelas elevadas taxas de juros; pela corrupção; pela excessiva burocracia que herdamos do período colonial e, acrescento, por minha própria conta; pelo despreparo de nossos profissionais e pela nossa arraigada falta de educação, ambos estes fatores geradores do que popularmente conhecemos como “burrice”.

Qualquer um poderia listar exemplos que não se esgotam de casos em que o custo Brasil, com base nos diversos fatores que citei, fica bem evidente. Hoje, contudo, quero falar apenas desse último bloco que denominei “burrice”:

Este substantivo pode ser encontrado em qualquer dicionário sempre com a definição de que se refere à falta de inteligência, parvoíce, idiotice e outros termos não menos depreciativos. A característica comum da burrice é que ela, em geral, impede uma pessoa de agir racionalmente e de forma produtiva. Sintetizo meu pensamento com a menção ao que disse o economista e historiador italiano Carlo Cipolla: “Uma pessoa burra é aquela que causa algum dano à outra pessoa ou a um grupo de pessoas sem obter nenhuma vantagem para si mesmo – ou até mesmo se prejudicando”

Claro que existe burrice decorrente da formação escolar falha, insuficiente, inadequada. Mas, há burrice oriunda do egoísmo, da preguiça ou da visão destorcida de mundo que uma pessoa tenha desenvolvido ao longo de sua existência. E olha que Roberto Campos já tinha alertado que a “burrice não respeita fronteiras ideológicas”... O problema é quando burrice se junta a outros interesses, outros fatores e engorda o Custo Brasil...

Experiência desta semana que comprova a existência irrefutável da burrice:

Estando este modesto escriba no balcão de uma farmácia, observa que um senhor bem mais idoso do que ele, agravado pelo fato de demonstrar certa dificuldade de caminhar, chega esbaforido com uma receita na mão e a entrega ao balconista que cuida da chamada Farmácia Popular, esse justo programa social pelo qual o governo devolve uma ínfima parte dos impostos que pagamos na forma de entrega “grátis” de certos medicamentos notadamente os ligados ao combate da hipertensão arterial.

O velhinho diz: “Voltei ao médico e agora ele colocou o carimbo e a assinatura também no anverso da receita”. O quê?  - Interferi dirigindo-me diretamente ao balconista. “É que são três medicamentos – tenta me explicar - os de números 1 e 2 estão no anverso da receita e o de número 3 está no verso onde se encontra o carimbo e a assinatura do médico. Tive que pedir que ele, (o velhinho coxo, lembrem-se!) que voltasse ao seu médico para que ele repetisse o carimbo e assinatura no anverso da receita, se não, como saberia que ele está pedindo os 3 remédios? Além disso – completou com a singeleza de um asno manso - quando eu tirar uma cópia da receita, na primeira parte, não terá o carimbo e assinatura do médico”...

Se isso não é algum truque comercial para levar a uma transação mais lucrativa, ou se não é uma espécie doentia de sadismos que lhe dá prazer em ver um velhinho com dificuldade de locomoção ter que voltar ao médico, enfrentar novas filas só para pegar um carimbo que já estava no devido lugar, isto é no final do receituário, ou qualquer outro enigma que um ser humano normal não consegue captar, então concluo:

Só pode ser burrice...

Para tirar essa dúvida, aproveito uma visita posterior à outra farmácia onde conheço de longa data balconistas bem mais preparados e questiono sobre o fato que acabo de narrar. O que ele me explica é de estarrecer a um marciano, mas não a um brasileiro calejado como eu: Nada disso é necessário, me asseverou. Não temos essa exigência aqui na nossa Farmácia Popular. Pelo contrário, até facilitamos ao máximo o atendimento ao programa, pois o governo nos reembolsa pelo valor de tabela do medicamento enquanto aos clientes avulsos concedemos até 30% de desconto.

Bingo!

A farmácia popular é lucrativa. O patrão que não deve ser nem bobo nem burro certamente quer vender por ela. O funcionário que cria dificuldades para que isso aconteça é porque não gosta do patrão, nem do próprio emprego ou é realmente mais um detentor da burrice que assola e aumenta o Custo Brasil.

Pobre País!

Edson Pinto

Julho’ 2015

4 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos (as):

Todos nós já ouvimos falar de “Custo Brasil”, o conjunto de fatores que torna nossos bens e serviços, em geral, mais caros do que em outros países.

Nesta semana, a partir de um caso que presenciei, refleti sobre a existência de um fator que, mesmo não sendo o principal, contribui também para a elevação desse custo.

Abraço e bom final de semana a todos!

Edson Pinto

Ibrahim Georges Tahtouh disse...

Boa Edson, essa tal BURRICE em que tropeçamos todos os dias em vários locais, é uma das coisas mais onerosas tanto fiduciária como psicologicamente, além de profundamente irritante.
Outro ponto é que pobre tem prazer em estrupiar outro pobre.
Você já sentiu o tratamento que se recebe em Supermercados mais populares,em que muitas vezes acaba-se pagando igual ou mais caro?O Atendimento é horroroso e desrespeitoso com o cliente e com as mercadorias que está adquirindo.
A preguiça de raciocinar o mais elementar, é de doer e nos deixar mais preocupados ainda com o futuro deste Brasil.
Não podemos abandonar essa corrente e eu faço parte desde 2006 do projeto TODOS PELA EDUCAÇÃO que pretende que em 2022, Ano do nosso Bicentenário da Independência, todo brasileiro para ser livre, saiba ler e escrever corretamente.Já se passaram 9 anos e lutamos contra as mazelas Petistas tratando a Educação como lixo. Abraços

Unknown disse...

Edson bom dia
Artigo muito bem feito e tirado do nosso dia a dia. A Burrice merece cadeia , pois prejudica a todos. Isto levará décadas para se resolver.
Abraços,
José Roberto Mattoso

Blog do Edson Pinto disse...

De: José Antonio
Para: Edson Pinto

Caro Edson,

Realmente a burrice é algo que nos incomoda diariamente.
O exemplo que você menciona é estarrecedor.

Assim como esse, há inúmeros outros ...
Só para ilustrar: estive há alguns dias no Itaú Personalité, para pagar algumas contas (faço isso raramente, pois minha secretária o faz regularmente).

Veja só: depois de ter o valor das contas a pagar liberado após a leitura de minha digital, fui surpreendido com o pedido da jovem Caixa me pedir para assinar o comprovante de 'retirada'.

Estranhei e perguntei então se a leitura da digital não era suficiente; ao que ela respondeu: "É ordem da administração que também o correntista assine o recibo."
Evidentemente, entendi que a jovem Caixa cumpria ordens ...
Ou seja: nos caixas eletrônicos a leitura da digital é suficiente para saques e outras operações, mas, nos caixas físicos, exigem ainda a assinatura do correntista ...

Há também alguns exemplos dessa natureza no Judiciário; depois, em conversas informais, poderei comenta-las.

Bom final de semana!

Att,

Jose Antonio