6 de abr. de 2025

O ESTRANHO SONHO DE ÉRICO


Érico sonhou que fora preso. Não sabia ao certo se seria por semanas, meses ou anos. A cela era fria, úmida, como se chorasse sua própria existência. Havia uma cama de solteiro com um colchão ralo, um vaso sanitário manchado pelo tempo, e uma estante de ferro com apenas um objeto: um volume grosso, encadernado em couro gasto, com a letra "E" gravada em dourado na lombada.

Era um volume de uma conhecida Enciclopédia, letra E, apenas isso. Nenhum outro livro, nenhum outro escape. No início, Érico ignorou o tomo. Passava os dias deitado, os olhos fixos nas rachaduras do teto, ouvindo os ruídos longínquos do exílio como uma trilha sonora de condenação.

Mas ao passar os dias, a curiosidade o venceu. Abriu o livro como quem abre uma porta secreta.

"Ebulição", dizia o primeiro verbete. Ele leu, releu, aprendeu tudo sobre o ponto em que a matéria líquida se transforma em gás. Pensou no corpo fervendo de raiva, na mente em ebulição diante das injustiças e desagradáveis momentos da vida...

Depois veio "Eclipse" e ele se lembrou da última vez que viu o céu. Leu sobre a dança dos astros e sombras. Imaginou-se como sendo a Lua ocultando a luz do próprio ser apenas à espera de se mostrar de novo.

Havia também "Epifania", e foi ali que ele teve a sua: aquele volume seria sua liberdade. Não a liberdade física, mas uma fuga mais sutil e talvez mais poderosa.

Por semanas, ele devorou tudo e a fundo de cada verbete. "Entropia", "Estalactite", "Esfinge", "Exílio" - palavra que doía como ferida aberta. Com cada nova entrada, Érico via o mundo se expandir dentro das paredes cinzentas. Aprendia termos científicos, mitológicos, filosóficos. Começou a criar histórias com as palavras, a imaginar mundos inteiros a partir de "Eneida" e "Etéreo".

Logo, os guardas começaram a notar algo estranho. O preso da cela 22 falava de forma diferente, usava palavras incomuns, fazia perguntas estranhas: "Você já ouviu falar em ergástulo?", "Sabia que espermatófitas são plantas com sementes?"

Quando, alguns anos depois, Érico foi finalmente libertado - erro judicial, disseram -, ele saiu com um caderno cheio de anotações e ideias, todas começando com a mesma letra. E, ao ser abordado por um amigo curioso por essa fixação com o “E”, ele respondeu:

—  A prisão me deu a oportunidade de saber tudo sobre mim, até mesmo sobre como ser poderoso comigo mesmo e para sempre ...

Edson Pinto

5/4/2025

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Ideia original, concepção, desenvolvimento do roteiro e finalização do texto por Edson Pinto, com o apoio do processador Word da Microsoft e IA ChatGPT da OpenAI.

7 comentários:

Francisco de Assis Morais!! disse...

Muito bom!! Gostei demais!!

Anônimo disse...

Excelente! Super criativo ! Ótima reflexão da vida !!

Anônimo disse...

Alcione Ângelo Faoro

Anônimo disse...

Ótima reflexão.

Edson Taurizano disse...

Excelente, Edson. Parabéns! Além de criativo no conteúdo, impecável na forma. Um abraço.

Anônimo disse...

Ôpa, Edson, parabéns por retomar à prática de anos atrás em que você produziu uma excelente coletânea de textos que culminaram na edição de um livro. Que venham novas crônicas para deleite de seus amigos.

Anônimo disse...

Muito bom ! Ótimo recomeço …