1 de mai. de 2008

19) SONHO COM LULA (maio'08)

Nunca me preocupei em estudar as ra-zões pelas quais sonhamos. Acho até mesmo que isto se deve ao fato de que não sou um sonhador assíduo no estrito e real sentido do termo. Claro que sei que Sigmund Freud elaborou profunda teoria sobre o inconsciente humano e suas manifestações através dos sonhos. O que me interessa é que, quando sonho, sempre encontro nos fatos recém ocorridos, mais notadamente os do dia anterior, as ligações que levaram meu subconsciente a se manifestar enquanto dormia o sono dos justos.

Em noite passada, por exemplo, tive um sonho um tanto curioso. Conclui, na manhã seguinte, que ele se relacionava às notícias tragicômicas do nosso amável padre Adelir de Carli, o padre voador do Paraná, que por uma atitude certamente não referendada pelo Deus Pai, resolveu desafiar as mais cristãs de todas as básicas regras de segurança e que, pelo que tudo indica, se deu mal. Continuamos, ainda, torcendo para que ele apareça com saúde, cabeça com os parafusos apertados e que cumpra a penitência a lhe ser imposta em decorrência do imprudente pecadilho.

Bem, mas não vem ao caso, exatamente, a história do padre Adelir. O que quero narrar é que no meu sonho a proeza de subir ao céu por meio de mil inocentes balões de festinha infantil era protagonizada pelo nosso presidente Lula. Logo o Lula, vejam só, que sempre manifestou medo de viajar de avião, agora, estava tomado da maior de todas as astúcias e decidira subir ao infinito sideral para mostrar que não havia cristão que o impedisse de chegar a qualquer lugar que quisesse; fosse o reconhecimento como o melhor presidente “nunca visto na história deste país”, fosse o terceiro mandato tão negado, mas tão acalentado por ele, fosse lá, até mesmo como ele dizia, somente para subir, subir, subir, até - se fosse o caso – para dialogar frente a frente com o Chefão lá de cima. A propósito, juro que no meu sonho ouvi Lula dizer: “Se Ele está eternamente lá no poder central, por que eu não posso ficar pelo menos mais quatro anos no comando daqui? Somos, ambos, perfeitos”, e piscou marotamente para o júbilo dos petistas que seguravam a corda dos balões.

__ Mas presidente Lula, ponderou o ministro Mantega, o senhor não deve levantar vôo com as condições atmosféricas tão desfavoráveis. Não seria melhor esperar momento mais adequado? __ Meu caro pinóquio genovês, você está me dizendo - respondeu com a irreverência de seus anos dourados de militante sindical - que o tempo não está a meu favor? Ledo engano. Para quem saiu de Garanhuns sem eira nem beira, não precisou enfrentar os bancos escolares, chega à presidência da república e ainda trata o Bush de “meu”, você acha, sinceramente, que uma nuvenzinha qualquer me vai por medo? Nem pensar... Lula dá um pulinho desavergonhado e se acomoda apertadamente na cadeirinha do fusquinha 63 que seu compadre Dario Morelli tinha preparado para a viagem.

__ Senhor presidente, brandiu o “simpático e sempre bem-humorado” assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, o senhor não quis tomar lições para o uso do aparelho de GPS que está na sua sacola de viagem. Pode ser que venha a lhe fazer falta no caso de o senhor se ver perdido lá no infinito. __ Ah! Ah! Marquinhos, meu marxista gaúcho de estimação, exclamou Lula com enorme intimidade. Não precisarei jamais dessa maquininha. Nunca freqüentei Universidade, você sabe. Sou formado na escola da vida, e na escola da vida aprende-se que quem deve saber onde se está é você mesmo, não é? Além do mais, quem sabe, como eu bem sei, onde os votos se encontram, não vai lá saber a que altura e em que rumo está se dirigindo? Ah! Ah! Ah! e ordenou que soltassem as amarras para iniciar a subida.

__ Presidente, meu amor, não vai levar nem um lanchinho para o caso de uma emergência? __ Como assim minha Barbie oriundi, minha remoçada esposa Marisa Letícia? Quem criou o “Fome Zero” vai lá precisar de uma bolsa sanduíche? Lula estava realmente impossível... Opa! Opa! Opa! Já estou subindo. Agora só quero ouvir os aplausos, discursou emocionadamente Lula, sentindo apenas a falta de Dilma, a ex-militante do Comando de Libertação Nacional, COLINA e atual mãe do PAC e que nos últimos tempos colou-se a ele como o grude que prende a taquara na pipa.

Boa viagem presidente, exclamou o vice Alencar, sem não antes apregoar em alto e bom som que, por mais que Lula subisse, dificilmente atingiria a altura dos juros impostos pela turma do Meirelles. No fundo, no fundo, Alencar - com a história de sugerir o terceiro mandato para Lula - estava na raiz daquela convicção do presidente de que nada poderia detê-lo no seu oculto propósito de vôos cada vez mais altos.

Em menos de 10 minutos Lula já tinha superado a grossa camada de nuvens que cobria o céu - parece – de todo o mundo. Ora, ora, pensou Lula enquanto seus balõezinhos inflados com o gás do Evo aparentemente davam conta do recado, o mundo está na pior: vejam quantas nuvens, mas o Brasil de meu governo – “como nunca na história deste país”, reprisou eufórico – por meu mérito, pela minha competência, sabedoria, astúcia, carisma, beleza e sei lá mais o que, está a salvo. O nosso céu é de brigadeiro general Heleno, desabafou com a arrogância dos vencedores. Vai para a Raposa Serra do Sol, meu comandado, que eu vou subir, subir, subir, disse gargalhando de tanta alegria.

__ Espera aí... Não posso acreditar: um bando de urubus vindo na minha direção? E o que trazem escrito naquela faixa? O que? Será que não estou entendendo bem? MUSB: Movimento dos Urubus sem Balões? Seria isto mesmo, meu Deus? Não! Não!. Não posso deixar que aquele urubu com cara do Stedilli fure os meus balões. E aquele outro com cara do Delúbio? Não, meu Deus, mais outro com a cara do Renan, outro ali com cara de Severino, o Genoino, Dirceu, Valério... Não, não, Hugo Chaves, Fidel e agora o Bispo Fernando Lugo do Paraguai? Não vou suportar...

Pluft, pluft, pluft, e os balões foram estourando que nem bombinhas nas festas juninas de Garanhuns. __ Não sei usar o GPS, meu Deus! Nem um lanchinho eu trouxe para uma emergência. E meu terceiro mandato? Por que esse bando de urubus para os qual eu fui tão bondoso furou meus balões, isto é, meus planos? E o povo, será que vai me segurar lá em baixo? E eram tantos os plufts de balões estourando que até mesmo os tubarões que espreitavam das águas oleosas da Bacia de Santos junto aos factóides de Tupi e Carioca abriram suas bocarras para o céu.

O que aconteceu? Juro que não sei... Quando acordei, apenas fiquei com a impressão, pela primeira vez na história de meus sonhos, que havia algo para ser interpretado. Por isso, prometi a mim mesmo, tão logo possível dar uma passadinha na biblioteca mais próxima para ler Sigmund Freud. Não que tenha interesse em estudar o complexo de Édipo, o Id, o Ego, o Superego ou a Libido, mas para buscar luzes em uma de suas grandes obras científicas que tem o título “A Interpretação dos Sonhos”.

Edson Pinto
01/05/08

Nenhum comentário: