12 de set. de 2008

47) ÊTA MUNDO NOVO!









Bem recentemente acompanhei de soslaio meu filho caçula, 19 anos, na Internet, trabalhando um tema para uma tarefa de sua Faculdade a ser entregue no dia seguinte.

Em menos de 30 minutos, tempo em que eu, ao seu lado, lia os editoriais do meu jornal preferido, ele já imprimia um opúsculo de 12 páginas contendo textos, gráficos, fotos e a indispensável referência bibliográfica.

Embora seja eu, também, um amante e como tal apaixonado pela Internet e por todas essas modernidades que nos assombram a cada momento, acabei traído pela responsável desconfiança de pai zeloso e, com certo ar de suspeita, pedi para ver o que a impressora produzia com tamanha velocidade.

Com o olhar mais de professor do que de pai me dei conta de que o trabalho era bom. As pesquisas fundamentaram bem o conteúdo, havia material enciclopédico clássico, um artigo bem recente publicado por uma revista especializada e várias fotos. Essas, então, enriqueciam de maneira fantástica o tema abordado. Fiz-lhe algumas perguntas e constatei, para minha agradável surpresa, que ele não só se conduzira bem nas diversas e rápidas etapas do trabalho, como ainda retivera em sua mente o essencial do conhecimento que se espera de um jovem em formação.

__ Parabéns, disse eu. E completei: __ Como vocês jovens de hoje são felizardos por contarem com recursos tão fantásticos como a Internet, um bom processador de texto, impressão de qualidade e veloz e a rápida possibilidade de divulgação. Ele acabara de encaminhar por e-mail o novinho trabalho para seus colegas de classe que também estavam envolvidos com a matéria.

__ Por que você dá tanta ênfase a esse assunto que para mim é tão corriqueiro, pai? __ Desde que entrei para o segundo grau e quando você me deu aquele primeiro computador, tenho feito quase tudo desta forma. Não é assim que todo mundo faz? Perguntou-me um tanto curioso...

__ Ainda não todas as pessoas que precisam desenvolver pesquisas ou trabalhos intelectuais, penso. __ Mas, certamente as próximas gerações, mais do que a sua, não conhecerão outra forma de trabalho senão essa que você já domina tão bem. __ Todos aqueles que, como eu têm mais de 50 anos, tiveram a experiência de um mundo menos favorável para a ampliação do nosso conhecimento. __ Sabe, esse trabalho que você acaba de fazer em 30 minutos? Nos anos 60 e 70 quando eu estava na Faculdade teria sido feito, também. Só que demandaria, no mínimo, umas duas semanas até concluí-lo:

__ Veja! Falei:

__ Teríamos que reunir a turma num final de semana; depois dividiríamos as tarefas; uns iriam à biblioteca da Faculdade ou a uma biblioteca pública e implorariam para a bibliotecária lhes indicar referências e ajudar na localização dos textos; tirar cópias nem pensar, pois os recursos eram escassos e caros; depois alguém com mais habilidade desenharia os gráficos; fotos só as recortadas de revistas, se disponível; datilografar, então, era a parte mais crucial e ficava normalmente para as garotas mais habilidosas do grupo. Duas semanas depois, talvez, estaria pronto o trabalho, com erros ortográficos, rasuras e estética pobre.

__ Incrível que haja ainda saudosistas desse tempo, quis completar meu raciocínio. __ Eu mesmo acreditava que o árduo processo de garimpar textos em uma biblioteca dava-nos conhecimento mais sólido do que usar o serviço de busca de meu computador. __ Bobagem pura! O efeito é – conclui – exatamente o contrário: quanto mais fácil encontramos respostas para nossas dúvidas mais nos sentimos estimulados a procurar mais e mais informações. No final, ampliamos o conhecimento de forma mais intensa e em tempo bem mais curto.

__ Você quer saber o porquê do progresso vir de forma tão acelerada nos últimos tempos? Perguntei-lhe, antes que ele apressadamente deixasse o computador que agora tocava música e não mais pesquisava matérias escolares:

__ A base de tudo é sem dúvida a estonteante velocidade com a qual o conhecimento vem sendo disponibilizado de forma democrática. Hoje, e mais ainda no futuro, o conhecimento forma a base da revolução silenciosa que tem tornado o mundo mais igual. Nem as guerras, nem o poder econômico que ainda se concentra nas mãos de poucos, muito menos as ditaduras impedirão o avanço do conhecimento. __ Você está, meu filho, devidamente alojado na cápsula dessa espaçonave que já decolou para um mundo melhor.

__ Fico pensando o quanto meu pai, seu avô, sofreu quando, depois de tantos anos de duro trabalho recolheu-se aposentado, pelo peso da idade, aos pequenos afazeres domésticos. Teria vivido mais 20 anos além do que viveu se pudesse, como podemos hoje, ter acesso ao mundo da Internet; pesquisar assuntos que sempre quisemos no passado e que a dura vida não nos permitia; ler as últimas notícias desse mundo cada vez mais agitado porém muito interessante; ver fotos de gente bonita; trocar e-mails com amigos; cumprir tarefas que outrora requeriam nossa presença física e mil outras coisas que esse universo de informatização e telecomunicação nos propicia.

__ Eu já mudei! Falei-lhe com tom de quem já estava por dar por encerrada uma conversa que começou despretensiosa e escambara para uma reflexão de cunho tecnológico tão saudosista quanto futurista, típica de quem, como eu, não tem mais a obrigação de marcar presença diária num worksite qualquer.

__ Só admito espanar meus livros cheios de traças e lubrificar a velha Remington Rand, anos 50, porque eles fazem parte de minha memória nostálgica, formam o meu relicário, meu baú de ossos, minhas referências contraditórias, antípoda de mim mesmo.

__ Tá bom, pai! Entendi “tudinho”. Agora, dá um "logoff" nessa sua Remington e "deleta" esses arquivos obsoletos do seu HD, isto é, da sua memória...

Fui!

Edson Pinto
11/09/08


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