12 de mar. de 2009

70) REALIDADE OU PESADELO

Como as empresas vinham demitindo seus empregados aos milhares, milhões, estes correram aos bancos e - por absoluta necessidade - sacaram suas poupanças e zeraram suas contas correntes. Poupadores que tinham dinheiro aplicado, ao vislumbrar mais encrencas pela frente, se apressaram a sacar seus investimentos e dar-lhes destinos outros que, inocentes, imaginavam mais seguros. Por isso, os bancos ficaram sem lastro e assim começaram a aumentar as tarifas, suspender os financiamentos, provocar, marotamente, o trancamento das portas giratórias para clientes com cara de que iriam sacar, demitir e – como num dominó – cerrarem, um após outro, as suas portas.

Os supermercados e o varejo em geral deixaram de dar crédito, pois a inadimplência atingira níveis insuportáveis. Os desempregados, novamente aos milhões, deixaram de comer em restaurantes, de ir a cinemas, comprar roupas e calçados e até mesmo deixaram de adquirir o básico para a sua alimentação. Dessa forma, os restaurantes fecharam; também os cinemas, os açougues, as padarias. Vídeo locadoras, discotecas, salões de belezas e outras atividades não essenciais, essas, nem se fala...

A Indústria, o setor mineral extrativista, a Pesca e segmentos vários da economia desandaram a suspender investimento e, “demitir”, passou a ser a principal regra do jogo. E o pior, nenhum patrão tinha recursos financeiros para honrar as indenizações. As empresas aéreas, por pouco tempo, ficaram ainda transportando somente os deputados, os ministros e aquela gente graúda de Brasília, pois lá - diferentemente do resto do mundo - a crise ainda não havia se instalado inteiramente. Não que a arrecadação astronômica de impostos não tivesse caído. Caíra, sim, e de forma absurda. Porém, o governo seguia emitindo moeda e o fez abundantemente para que, pelo menos no Planalto Central, o clima de festa se mantivesse incólume.

Mas, quando os agricultores pararam de produzir por falta de financiamento e principalmente por falta de consumidores, aí o caldo entornou de vez. Ninguém tinha dinheiro para pagar a conta de luz, nem a da água, nem o condomínio do apartamento, nem a escola dos filhos, nem a passagem de ônibus, nem os alimentos dos supermercados, nada. Também, nem precisa, pois as empresas de eletricidade faliram, as de saneamento básico deixaram de tratar a água, as escolas fecharam, os ônibus pararam de circular por falta de combustível e os supermercados cerraram suas portas porque não tinham mais recursos para repor estoques e, o pouco que tinham, vinha sendo saqueado por hordas de famintos.

Foi quando Brasília se deu conta de que alguma coisa poderia estar indo para o lado errado. Mas, aí a crise chegou lá, também. Dona Marisa perde a criadagem e ela mesma começa a limpar (claro que mais ou menos, pois tinha perdido a prática) as vidraças do Alvorada. Deputados não conseguiam mais embarcar em aviões de carreira, custeado pelo erário, pois as empresas aéreas já tinham recolhido suas aeronaves. Embora fossem muitos os políticos e funcionários públicos que zanzavam de Brasília para o Brasil, não o era em quantidade suficiente para sustentar todas as empresas. O sistema aéreo, tal qual o transporte público terrestre, fluvial, marítimo e lacustre tinha falido.

Lula, então, grita para Dilma que o PAC já deveria ter resolvido todos os problemas da economia brasileira. Esta, “lisinha” pelo último botox aplicado, esclarece ao presidente que já de há muito o PAC tinha interrompido todas as obras. Faltou dinheiro, e o pior, as obras tinham perdido totalmente a razão de ser. Não tinha mais demanda para as ferrovias, nem carros para circular nas novas estradas, nem consumidores para a energia elétrica a ser produzida pelas usinas, nem motores suficientes para o etanol e o petróleo a serem colocados no mercado.

__ Mas, e o povo, o que está fazendo? Gritou, irritadiço, o presidente. __ Quem não morreu de fome, presidente, pontuou Dilma, está agora comendo a grama do próprio jardim, se tem a sorte de ter alguma. As pessoas estão consumindo as árvores de nossas florestas e de nossas ruas. Voltaram, os que puderam é claro, para a zona rural e tentam tirar da terra o possível para comer. __ Nossa vibrante economia, presidente, escafedeu-se! O PIB virou um "pibinho" e quer saber de uma coisa, gritou exasperada a mãe do PAC: __ Fui! E saiu apressada sem nem mesmo se lembrar de retocar a maquiagem, pois, convenhamos, isso também já não fazia mais sentido. 2010 tinha sido riscado de seu calendário.

Lula salta da cama, não só por ter-se despertado daquele tenebroso pesadelo, mas pelo fato de que um vento gelado (coisa rara em Brasília) entrava pela janela quebrada e sem manutenção, por falta de verba, despertando-lhe os mecanismos mais primitivos de defesa. Pura adrenalina...

Vaidoso como sempre, exclama para os bobs de dona Marisa, pois esta se encontrava totalmente entregue aos cuidados de Orfeu, o seu discurso mântrico por excelência: __ “Nunca na história deste país um presidente sofreu tanto em um só pesadelo, mas acordou feliz por saber que as coisas estão realmente ruins, mas que podem piorar ainda muito mais. Isto - concluiu em êxtase - me dá tempo de voltar para Garanhuns, são e salvo”.

__ Levanta Marisa! Arruma a tralha que aquele pau-de-arara que me trouxe para o Sudeste, em 1952, vai voltar para Garanhuns e não podemos perdê-lo.

Edson Pinto
Março’2009

Nenhum comentário: