21 de jun. de 2012

206) GROSSERIAS DO FAUSTÃO

Há tempos venho ensaiando escrever uma crônica sobre uma das figuras de maior visibilidade da televisão brasileira desde que Chacrinha se foi. Fausto Correia da Silva, mais conhecido como Faustão, detém o privilégio de apresentar seu programa na TV Globo, emissora de maior audiência do País, bem ao longo das nossas doces tardes de domingo. O Papa Gregório III na famosa reforma do calendário de 1582 consagrou o domingo como “Dies Dominica” (Dia do Senhor). É, portanto, esse dia, desde há muito, dedicado a reflexão espiritual e ao descanso, justificadamente nestes tempos modernos de tantos afazeres. Salvo condições especiais de cada um, é nele, em geral, que nos recolhemos ao aconchego do lar, até mesmo como concentração e preparação para a semana de trabalho que começa logo no dia seguinte.

É no domingo que a família tende a se reunir. Na tradição italiana, para a famosa macarronada da “mamma”. Com os parentes e amigos para o churrasquinho descontraído, o futebol, jogado ou mesmo assistido pela TV. Para os católicos, a ida à missa, a visita aos parentes e amigos e - como ninguém é de ferro - para entregar-se, ao final das tarde e início da noite, ao relax merecido em frente à TV. A televisão tem lá suas muitas vantagens e desvantagens. Uma delas que pode servir tanto ao bem como ao mal, dependendo da intensidade, momento ou conveniências pessoais, é a de poupar o uso de nossos neurônios. Sabemos que assistir TV não requer o esforço intelectual de uma boa leitura, por exemplo, mas, como o cérebro exige pausas para descanso, apresenta-se assim como uma alternativa muitíssimo adequada.

Nos dias de hoje, são dezenas de canais disponíveis até mesmo na TV aberta. Há, portanto, alternativas em abundância para quem não gosta de determinados programas. O controle remoto libertou-nos do incômodo “senta levanta” dos primórdios da TV e - não raro - mais de um televisor em casa nos dá a alternativa de satisfazer, em simultâneo, interesses pessoais dos vários membros da família. Em que pese isto, é curiosa a tendência das famílias se reunirem em frente ao mesmo aparelho de TV. Deve ser, imagino, para o exercício da nobre e necessária socialização dos seus membros.

Pensava que a birra que tenho para com o apresentador Faustão fosse uma chatice exclusivamente minha. Por que não troco de canal ou vou para outro aparelho enquanto minha família fica assistindo o Domingo do Faustão? Antes, é preciso esclarecer que tenho respondido a mim mesmo com outra pergunta: “Se não assisto ao programa como poderei criticá-lo?” Não quero ser como uma querida tia que detesta arroz sem nunca ter provado um grão sequer. Quando digo que não gosto de algo, procuro fazê-lo com base na experiência negativa que tive com aquilo. Depois, assisto, às vezes, o programa, porque ele tem atrações interessantes, reportagens bem produzidas e até mesmo novidades e emoções. O que continua sendo criticável, e muito me incomoda, é a postura do seu apresentador.

Antes de iniciar esta crônica fui ao Google e fiz pesquisa com o título que escolhi para ela, isto é, “grosserias do Faustão”. Encontrei exatos 50.300 resultados que tratam do mesmo tema, o que me dá a certeza de que a questão não é exclusivamente pessoal. Muitos brasileiros compartilham comigo da mesma critica. Faustão pode ser uma boa pessoa, aparentemente um homem generoso com seus amigos mais próximos, porém demonstra um primitivismo e certa arrogância típica de quem se julga superior aos semelhantes. É desrespeitoso, falastrão, usa palavras chulas chegando às raias da malcriadez.

O incrível é que o chamado padrão global da grande emissora é completamente ignorado quando Faustão intervém, sempre de forma jocosa e cínica, atropelando os comentários dos seus entrevistados. Dificilmente um entrevistado consegue concluir o seu pensamento sem que o apresentador interceda com uma observação despropositada. As piadinhas de duplo sentido, principalmente relacionadas a sexo, são de uma vulgaridade incompatível com o perfil de famílias que assistem ao programa. As desrespeitosas brincadeiras que faz com seus colegas da área técnica, colaboradores profissionais dedicados e sérios, por exemplo, já estão tão manjadas que perderam, desde há muito, todo o sentido de diversão que ele imagina ter.

Aí que saudades de Chacrinha! Pelo menos o velho guerreiro não só fazia suas palhaçadas como se caracterizava para tal.

Vocês querem bacalhau?

Edson Pinto
Junho’2012

3 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

Os que dão contribuições positivas para o progresso cultural de um povo tornam-se, por razões óbvias, personalidades eminentes.

A cultura de um país é feita dessas contribuições acumuladas ao longo do tempo. Os comunicadores de massa deveriam, pois, pensar muito sobre isto. Afinal, o seu poder de influenciar e moldar - tanto para o bem como para o mal - a cultura de uma sociedade é muito grande.

Nesta semana, resolvi falar sobre a contribuição que o apresentador Faustão tem dado à nossa cultura. Leiam, portanto, a minha crônica “GROSSERIAS DO FAUSTÃO” e vejam se concordam comigo.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto

Blog do Edson Pinto disse...

De: Eugenio Attizani
Para: Edson Pinto

Bom dia Amigo Edson

Seus comentários tem sido sempre de extrema inteligência.
Entretanto, gostaria de manifestar nossa aprovação e parabenizá-lo pelo comentários, que todos gostariam de fazê-lo, mas por algum motivo não têm a disposição.

Mais uma vez quero dizer-lhe que tenho muito orgulho e satisfação em tê-lo como meu amigo, mesmo que a distância nos separe.

Parabéns e seria muito importante que este texto chegasse ao conhecimento da Rede Globo.

Abraços.

Eugenio e familia
Eugenio Attizani Neto

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Eugênio Attizani

Caro Eugênio:

Grato pela manifestação!

É sempre bom - mesmo que de forma esporádica - ter notícias dos amigos. Vejo que está tudo bem com você e família. Fico feliz.

A régua da Globo, bem como de outras emissoras, é, infelizmente, o IBOPE. Se está dando audiência elevada, o que lhes permite boa receita publicitária, então, o resto que se dane...

O que é doloroso constatar é que a massa entorpecida criou dependência da emissora devido ao efeito da chamada “venda casada” e também devido ao fato de ela ter o sinal analógico de maior abrangência e de melhor qualidade, bem como contar com uma enorme rede de afiliadas Brasil afora.

Explico melhor essa história de venda casada: Ela se dá pelo empurrar de programas inferiores vinculado ao fornecimento das boas produções da emissora.

Inconscientemente, as pessoas se fecham com um lado e lá permanecem com forte fidelidade chegando ao ponto de desdenharem os erros que dele vem.

O mesmo ocorre com os admiradores do ex-presidente Lula. Gostou dele pelas boas coisas que fez ou meramente por identificação ideológica, agora continua gostando e defendendo-o mesmo sabedor das lambanças que anda fazendo no cenário político nacional. O nome disso é “fidelização cega”!

Há, por detrás desse envolvimento psicológico, uma escravização da audiência. Embora não estejam impedidas de, a qualquer momento, mudarem de canal, o fato é que devido a essa dependência psíquica e à submissão à lei do menor esforço, as pessoas ficam na Globo quase sempre. Só as pessoas que têm espírito critico se dispõem a zapear a TV na busca de coisas, naquele momento, melhores.

De qualquer forma, é, como disse no meu e-mail de introdução da crônica desta semana, uma questão cultural que se define lentamente. Seremos um país melhor ou pior na direta dependência à nossa opção por seguir esse ou aquele formador de opinião. Se ele for bom, melhor para nós. Caso contrário, pobre de nós...

Forte abraço!

Edson