Confesso, prazerosamente, que gosto de mexer no jardim de casa. Às vezes sozinho. Normalmente, porém, com o suporte do polivalente Ivo, nosso caseiro, mais hábil, mais jovem, mais rápido e mais entendido na matéria que eu.
No pré-sono, não raro, devaneios me assolam: “Amanhã farei isso e aquilo no jardim”. Lembro-me do cantinho das flores que segue desprestigiado; do gramado com ervas daninhas insistentes. Lembro-me também daquela arvorezinha que agora começa a tomar corpo e já se faz merecedora de um escoramento; da premência de algumas podas, há muito, absolutamente necessárias; da manutenção de alguns canteiros. Planejo até mesmo rasteladas pontuais, pois, as gerais e o corte da grama, eu as deixo para o Ivo; Ufa!
Para quem anda verdadeiramente procurando trabalho, o jardim - asseguro com absoluto conhecimento de causa - é um enorme demandante de mão de obra. Habilite-se, principalmente se você for do tipo meio filosofo, como eu. Aos benefícios próprios dos exercícios físicos tão comprovadamente eficazes para se mitigar os males da vida provecta, tem-se a oportunidade de uma satisfação de ordem espiritual. O trabalho com as mãos em direto contato com a natureza, magicamente, nos cria facilidades para reflexões metafísicas.
Acreditam?
Pois
saiba que a vida é como um jardim. Cada pequena intervenção do bem vai melhorando
as suas condições de sobrevivência. É como a nossa própria vida. Cada ato útil
praticado nos melhora a existência como um todo. O jardim fica mais viçoso, a
vida também; as flores aparecem com mais frequência, atrai pássaros,
borboletas, abelhas... Um jardim, tal qual a nossa própria vida, ao receber os
cuidados essenciais resplandece e chama a atenção. Que bom, não?
O vizinho,
transeunte eventual, passa, alheio - penso - ao requerido rigor do trabalho e dos
cuidados dedicados à vida e ao jardim. Só tem a passiva percepção estética do que
lhe salta aos olhos. Gentilmente me cumprimenta emendando questão objetiva
sobre o segredo existente por detrás - na percepção dele - do meu bem cuidado
vergel. Apoio-me no rastelo, dou um sorriso inocente e digo: “Vou te contar o
segredo. Eu também só o descobri recentemente”:
Madrugada
dessas, tendo perdido o sono, calhou-me ouvir sussurros que vinham deste
jardim. Furtivamente fiquei atrás da cortina daquela janela (apontei a janela)
e por uma fresta vi e ouvi o que ocorria neste espaço. Custei a acreditar, mas
prossegui na espreita. Eram sete anões que,
com enorme agilidade, faziam todas as tarefas que o seu líder, entendi
chamar-se Mestre, determinava: Limpe aquele canteiro ali, Feliz! Não durma
Soneca, temos pressa! Atchim recolha as folhas! Zangado e Dunga cortem logo
essa grama! Dengoso, regue as plantas! Agora vamos! Recolham as ferramentas, pois ainda temos de
fazer o jardim de Branca de Neve!
Assim
é, pois, tanto a vida como o jardim... Às vezes real. Às vezes pura lenda. Tudo
depende - é claro - do quanto nós nos damos conta - ou não - de que a vida e o
jardim somos nós mesmos que fazemos. O resto é lenda...
Pensem nisso!
Edson
Pinto
Novembro’
2017
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