Heráclito de Éfeso, filósofo
grego, (535 a.C. – 475 a.C.) foi quem disse: “Não se pode percorrer duas vezes
o mesmo rio”.
Faz sentido?
Sim, faz! Principalmente se
considerarmos que a água que flui e faz o rio no exato momento em que nele nos
adentramos não será a mesma nos momentos seguintes, nem também seria a mesma
dos momentos anteriores. Ela flui para seu destino e é renovada, substituída permanentemente.
Já percebeu que a vida também é
assim?
Cada momento se faz diferente. As
oportunidades surgem e desaparecem à medida que também ficamos menos iguais ao
que éramos. A Biologia nos ensina que renovamos nossas células com razoável
frequência. Enquanto os neurônios nos acompanham por toda a vida, as hemácias
se renovam a cada quatro meses. Outras, em tempos ainda menores. De qualquer
forma, tal qual o rio, não somos hoje exatamente o que éramos há meses, nem seremos
iguais nos seguintes.
O que quero dizer com isso?
Tudo muda à medida que nossas vidas
caminham para o fim. É inexorável que isso aconteça. Nem o rio, nem nós, somos
mais os mesmos. Felizes aqueles que mesmo mudando conseguem uma existência longeva,
produtiva, alegre e com saúde. Quem envelhece desta forma não pensa em outra
coisa a não ser como tirar de sua própria vida o máximo do melhor que ela pode
lhe dar.
Como nunca saberemos exatamente
como é e o que nos reserva o misterioso “lado de lá”, só nos resta filosofar
sobre a própria condição humana. Se nós temos consciência de que a vida é bela,
boa, instigante e real, por que não nos permitir colocar ao menos um pé na água
agradável desse rio que flui ininterruptamente?
Existem pessoas que, ainda com
muito tempo de vida pela frente, podem ser colhidas por doenças incapacitantes ou
impedimentos de natureza diversa que as privem de gozar as mesmas prerrogativas
dos idosos saudáveis e bem resolvidos. Infelizmente, a vida não é igual para
todos.
É de se compadecer, contudo e por
essa razão, daqueles que, mesmo aquinhoados com essas vantagens, se entregam a
mais triste das atitudes que é a da renúncia ao sagrado direito de gozo pleno
da fase derradeira da sua merecida e bem sucedida jornada que celeremente se
aproxima do fim.
Dói ver semelhantes, saudáveis
física e mentalmente, a vegetar enquanto aguardam - como disse Raul Seixas em
sua celebre canção Ouro de Tolo - “com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando
a morte chegar”...
Agora, se - sem que se esperasse
- a vida lhe desse de presente alguns recursos extraordinários e te encontrasse
com saúde boa, filhos bem encaminhados, boa intuição para controle das finanças
pessoais, gosto por ser dono do próprio nariz e achando que vale muito a pena
manter sua independência moral, emocional e financeira, o que faria?
Não sei da vida de cada um, mas,
no meu caso, colocaria logo, não um, e sim os dois pés no rio que ora flui.
Afinal, minha alegria de viver depende da preservação da minha independência
para praticar os atos que quiser, quando quiser, como quiser, até quando Deus
quiser...
Podemos mudar e envelhecer, mas
não necessariamente perder o domínio do próprio destino. Cada momento da vida é
diferente, apresentam-se desafios e obstáculos novos, mas também oferecerem-nos
oportunidades que nem imaginávamos.
É pra pensar!
“Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio”.
Edson Pinto
Agosto’ 2017
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