4 de dez. de 2008

61) CRENÇA E CONHECIMENTO


Pergunta 1: Quem é a única prima da sobrinha do pai do irmão de sua mãe?

Se você não conseguir responder rápido a essa pergunta, não tem problema. Poucas pessoas conseguiriam dar uma resposta imediata. A maioria, desde que pegue papel, lápis e tenha paciência e algum método investigativo chegará à conclusão correta de que a tal mulher só pode ser a sua própria mãe.

Outra pergunta: Por que os espelhos invertem nossa imagem da direita para a esquerda, da esquerda para a direita, mas nunca de cima para baixo ou de baixo para cima?

Novamente, difícil de se obter uma resposta imediata. Talvez, com a ajuda da Ciência, você consiga alguma explicação mesmo que parcial para esse enigma que desde Platão, o grande filósofo grego, tem se colocado no rol das especulações metafísicas. Não quero ser leviano nem pretensioso a ponto de oferecer aqui e agora uma resposta para o enigma. Deixemo-lo, pois e pelo momento, para a investigação de mentes sofisticadas e bem iluminadas.

O que penso ser interessante considerar dos dois questionamentos é o fato de a vida nos colocar, em geral, situações prontas para as quais raramente nos sentimos motivados a questioná-las. Tomamos todas como verdades inquestionáveis e assim poupamos a necessidade de pormos em funcionamento os bilhões de neurônios com os quais a Natureza nos presenteou.

Sendo mais confortável aceitar que no espelho meu braço direito vira o esquerdo e vice versa porque sempre foi assim, por que, então, deveria eu especular a fundo sobre a razão disso, jogando fora, desse modo, o meu precioso tempo? Sabendo, como sei, que sua mãe é prima de Maria por que deveria eu passar pela intrincada análise da relação de irmão, pai comum, tio e filha do tio?

Mas, e a vida como um todo? Não é muito diferente: Por comodismo, obediência servil, falta de motivação para agir, fraqueza moral e outras razões, temos a tendência a nos encaixar no que filosoficamente chamamos de zona de conforto, onde nada pode nos incomodar. Ficamos ali quietinhos, torcendo para que ninguém nos veja e assim vamos assistindo, incólumes, o marasmo do passar do tempo. Tal qual a figura do aluno obediente que se esconde nas fileiras do meio e nunca se atreve nem para bagunçar, nem para questionar, muito menos para apresentar as suas idéias, se é que as tem. Termina o curso, pega seu diploma e se torna um número na série da infinita mediocridade.

Em boa medida o que deveríamos cultivar seria certo grau de ceticismo em relação à realidade que percebemos, especialmente quanto às crenças que consolidamos ao longo de nossa experiência terrena. Não é sem razão que os grandes filósofos sempre argumentaram em favor da distinção clara entre conhecimento verdadeiro e crença.

Por exemplo: O cidadão americano pode pensar que Barack Obama representa a esperança na política de seu país apenas por causa do inusitado histórico de ser - pelo que já foi dito - a novidade na política de seu país. A crença de que Obama trará progresso pode ser, de fato, verdadeira. Mas, o fato de ser "a novidade" não é a irrefutável evidência de sua condição de arauto da esperança e promotor do progresso. Neste exemplo é improvável que sua crença seja conhecimento, mesmo considerando que ela seja verdadeira. O que confirmará a esperança depositada no fenômeno Obama será a forma e efetividade como ele ajudará os EUA, e a reboque o resto do mundo, a adentrar-se a uma nova fase de progresso econômico e social que, como infelizmente tudo indica na atual situação, parecer estar rapidamente se esgotando.

A minha crença nessa possibilidade é verdadeira, afirmo. Só não posso afirmar se ela se sustenta em base sólida de conhecimento real. Resta-me esperar...

Edson Pinto
Dezembro’08

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