7 de abr. de 2009

74) MENINOS EU VI!

“Um velho Timbira coberto de glória,
Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente: “Meninos, eu vi!””



 
Na obra-prima de Gonçalves Dias, o poema indianista I-Juca Pirama (aquele que deve morrer), o nobre e valente índio tupi ao cair prisioneiro da tribo timbira renuncia ao seu ímpeto de lutar até a morte para, pedindo clemência, solto, poder cuidar de seu velho pai, cego e doente.

Para sua surpresa, o pai ao recebê-lo de volta considera aquela atitude do filho um ato de covardia e indignado determina que ele retorne aos timbiras, sozinho, para lutar com coragem e valentia. E ele o faz com tamanha bravura que ao ser novamente aprisionado, os timbiras resolvem sacrificá-lo. Isto só não acontece porque o chefe timbira reconhece sua coragem compensando-lhe com a liberdade. A resposta fora dada e o pai recupera, enfim, o orgulho que tinha do filho tupi.

Essa história de bravura do índio tupi passa a ser contada com respeito pelo velho chefe timbira, à noite nas tabas de sua tribo. Quando algum jovem índio timbira duvidava daquela narrativa, ele sempre dizia: “Meninos eu vi”.

Meninos, eu também vi!... Vi, não um bravo índio tupi, sozinho, enfrentando toda uma tribo timbira, mas vi o Lulinha de uma bolsa de 600 reais do zoológico de São Paulo ir à luta e, sem nenhum tráfico de influência ou escuso interesse neoliberal, faturar 10 milhões da Telemar, meio estatal, para que a sua Gamecorp produzisse filminho de celular. Estes eu não vi, assim como também não vi o seu papai mandá-lo devolver regalo tão vil.

E vi também o Marcos Valério, em conluio com o amigo Delúbio, levantar milhões para os fundos do mensalão, os dólares da famosa cueca, as reservas do José Dirceu, bonachão, Genoíno, cabra macho, Roberto Jeferson, falastrão e de tantos outros políticos, desses, eu nem falo não. Até mesmo o PT de milhões encheu a mão. Mas, juro, meninos, punição pra cambada, ainda não vi.

Não queria, mas vi. Vi os cartões corporativos tão fartamente distribuídos comprar tapiocas, pagar farras de ministra, sacar dinheiro vivo para fins que não se registra e tantas outras maçarocas. Justificam daqui, justificam dali, promessas de punições, novos controles e a coisa mais se complica. Passam-se os anos, e sabe o que agora eu juro que vi? Os gastos, então exorbitantes, crescem com mais frenesi. Juro, juro mil vezes, que isto eu também vi...

Operações espetaculosas da Polícia Federal com o beneplácito da nova ABIN, ex-CNI, grampeando telefones que nem folhas de papel; e tem o Protógenes, nefelibata ou psicopata, voando livre qual bem-te-vi; Cesare Battisti inocentado pelo ministro nada tenro, esse tal de Tarso Genro. Juro mesmo que eu vi. Vi muito mais, muito mais do que o que narrei aqui. Precisaria mil páginas para contar tudo o que vi e outras tantas para as respostas necessárias e valentes seguindo o molde das trazidas pelo nobre e bravo índio tupi.

Edson Pinto
Abril’2009

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