17 de jun. de 2009

84) CUZCUZ FILOSÓFICO

A intelectualidade brasileira, por mais que sejamos otimistas, já perdeu a batalha pela redução do apedeutismo, isto é, do despreparo funcional e intelectual de tanta gente que teria a nobre tarefa de conduzir, com liderança exemplar, o destino de nosso país. Disso não tenho a menor dúvida...

Não bastasse o presidente com suas quase-lógicas que não respeitam a inteligência das pessoas minimamente esclarecidas, dilacera a cada uma de suas inúmeras performances discursivas o nosso já tão sofrido idioma pátrio, somos, ainda, forçados a conviver com mil outras afrontas intelectuais no dia-a-dia. Senão vejamos:

Em recente avaliação dos professores do primeiro grau em São Paulo, de 100 mil avaliados, 1.500 tiraram nota zero. Outros 40 mil tiraram notas inferiores à média. Deveriam ser imediatamente eliminados do sistema público de ensino, no entanto, por força de liminares obtidas da Justiça, continuam fingindo que ensinam e recebendo seus salários. Isto explica a horrorosa classificação que nossos estudantes obtêm nas avaliações internacionais. Quem paga essa brincadeira? Nós! Porque seremos forçados a levar nossos filhos para as caras escolas particulares ou nossos filhos não terão formação adequada e ficarão à margem dos bons empregos que exigem capacitação de melhor nível.

Dos candidatos a cerca de 5,5 mil prefeituras no último pleito de 2008, mais de 300 sofreram processos de impugnação por motivos vários, incluindo o de serem considerados funcionalmente analfabetos. Não dá para imaginar que num mundo de tantas informações e avançadas tecnologias alguém que careça da formação escolar mínima possa bem conduzir uma comunidade, seu orçamento e liderar aglomerados humanos. Se não ligamos para a política por que nos preocupar com isso? Maus administradores malversam os recursos públicos e deixam de construir boas escolas, boas estradas, bons hospitais. Entende?

A Rede Globo que domina o sistema televisivo do país há anos é capaz de pagar um salário (pasmem!) de R$5 milhões por mês ao mais pernóstico de todos os apresentadores que a TV brasileira já produziu. Faustão que é maldosamente irônico, culturalmente limitado, repetitivo, chato e que mais se adequaria ao seu passado de repórter de campo do futebol, trabalhará, segundo o contrato recentemente renovado, 3 horas por semana durante o domingo sagrado dos brasileiros falando besteiras sem limite e ainda faturando R$5 milhões a cada mês. Pode? Pode sim, infelizmente! Os anúncios aumentarão seus preços, os anunciantes repassarão esse custo para os preços dos produtos e serviços que vendem e nós, que os compramos, financiaremos as baboseiras do Faustão.

Nesse tenebroso contexto tudo pode acontecer e ser assimilado com a mais absoluta tranqüilidade pelo povão. Uma besteira, desde que dita por um uma figura de projeção midiática, logo passa a ter valor. Pobre de nossa gente e triste o futuro de nossas próximas gerações!

No colóquio político filosófico recentemente ocorrido na casa de Marta, ex-Suplicy, tanto ela como nossa possível futura presidente, Dilma Rousseff, as eruditas Adriana Galisteu e Ana Maria Braga parecem deslumbradas com a profundidade das idéias sociopolíticas da genial Luciana Gimenez, como se vê na foto que ilustra este texto.

Ah! Notícias posteriores nos dão conta de que Luciana Gimenez conseguia, naquele momento registrado para a posteridade, prender com tamanha destreza a atenção de tão ilustres próceres da vanguarda feminina brasileira para externar que o “cuzcuz estava muito gostoso”.

Oh tempora! Oh mores! (Oh tempos! Oh costumes!)


Edson Pinto
Junho’09

2 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: André
Para: Edson Pinto


CARO EDSON,

NÃO, EU NÃO SOU "SAUDOSISTA" MAS ESTE EMAIL ME FAZ LEMBRAR "MINHA INFÂNCIA QUERIDA...." E REFORÇA SUA MATERIA DO ÚLTIMO BLOG.

ABRAÇOS

ANDRÉ

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: André

Caro André:

Grato pelas boas lembranças! Recordar é viver!...

E veja! Você nem falou das professorinhas meigas e encantadoras daquelas épocas douradas, que, não raro, propiciavam-nos as primeiras sensações daquilo que seria para os anos futuros de nossas mocidades o significado de uma paixão por uma mulher. Quem não amou, mesmo que platonicamente, aquela gracinha de professorinha do Grupo Escolar ou do Ginásio?

Infelizmente - agora falando sério - a Educação brasileira virou ou uma farsa nas escolas públicas e gratuitas ou uma atividade mercantil nas escolas particulares. O que é deverás chocante, e até mesmo contraditório, é que o mundo fica cada vez mais complexo com tantas novas tecnologias e outros avanços das ciências, enquanto os jovens do nosso país ficam cada vez mais analfabetos funcionais. E olha que, tão importante quanto bem dominar as regras básicas do idioma pátrio, é a necessidade que o cidadão moderno tem para interpretar corretamente um texto, ou mesmo saber expressar seus pensamentos e pontos de vista de forma clara e concisa. Só uma boa educação escolar pode ajudar nisso...

Como não faz bem perdermos a esperança, só nos resta acreditar que um dia – não sabemos quando – as coisas ficarão melhores.

Um grande abraço e bom final de semana!

Edson Pinto