1 de jul. de 2009

86) VUVUZELAS DA PICARETAGEM






Como grande apreciador de futebol, o presidente Lula não deixaria de acompanhar as partidas da Copa das Confederações ocorrida nos últimos dias na África do Sul e da qual o Brasil saiu-se muito bem. Vencemos todas e assim trouxemos mais um caneco para casa. Parabéns aos nossos briosos artistas do ludopédio!

Desde o primeiro jogo, reações diferentes foram manifestadas quanto ao domínio extra campo dos novos craques do evento: aquelas cornetas de plástico que os alegres africanos assopravam com um fôlego aparentemente inesgotável. As vuvuzelas foram assim apresentadas ao mundo, todavia - se não me falha a memória futebolística - há algo parecido aqui no Brasil, porém sem tanto sucesso como as congêneres da terra de Mandela.

Pode-se acusar Lula de tudo, menos de que lhe falta senso de oportunidade. É o mestre dos mestres na arte de sacar aquilo que pode agradar ao povão e a partir daí desenvolver seu discurso - mas não necessariamente suas ações - para explorar em proveito de suas quase-teses socialistas quaisquer artifícios que sustentem sua obsessão pelo ordinal do número 3.

“Dilma minha companheira”, exclamou com grande alegria. “Inclui aí no PAC um novo programa social que acabo de criar. Vamos fazer o Bolsa Vuvuzela para garantir que cada brasileiro possa tocar sua corneta após tomar café da manhã, almoçar e jantar. Essas três refeições básicas nós já garantimos para todos, daí essa felicidade geral. Temos agora que fazer dessa alegria do povo um momento de grande êxtase nacional. O som das vuvuzelas será ininterrupto, pois os brasileiros nunca comeram tanto na história deste país como agora no meu governo. E tal foi feito! A propósito, parece ter sido esta a única meta do PAC que conseguiu ser integralmente realizada.

Nos primeiros dias o Brasil ficou parecendo uma casa de marimbondos. Aviões vindos da Europa já começavam a captar aquele ruído de vespídeos alvoroçados mal adentravam as 200 milhas de nosso mar territorial. Vizinhos, como os do cone sul, especialmente os exigentes portenhos, já não suportavam mais aquele zumbido ensurdecedor que vinha do norte e só se amenizava ao atingir os rincões da Patagônia. Lula não se continha em si mesmo. Os 84% de aceitação que indicavam as pesquisas eram coisa do passado. Faltava pouco para a unanimidade...

Mas não passou muito tempo e o zumbido verde-amarelo varonil reduziu-se aceleradamente à medida que a crise econômica chegava a ritmo mais rápido e mais intenso do que a marolinha anunciada. Os médicos otorrinos dos países limítrofes e mesmos os nacionais perderam suas clientelas; aviões da Air France se desorientavam ao adentrarem nossas 200 milhas, pois seus “pitots” já não captavam mais aquele ruído contínuo que passara a ser nossa marca registrada. O “zumbido Brasil” havia sido incorporado ao software que comandava o automatismo das modernas aeronaves. Sem ele, o piloto automático considerava que estava na rota errada, e, não raro, faziam meia-volta...

“Presidente Lula, certamente o senhor não está sabendo, pois viajava mundo afora na defesa de seu título de “O Cara”, mas devo informar-lhe de que as vuvuzelas pararam de soar no país. Para ser correta, senhor presidente - adicionou Dilma em nome de todos os ministros que foram recepcioná-lo depois de quase três meses fora do Brasil - só se ouve, ainda e por razões óbvias, alguns vuvuzeleiros convictos aqui em Brasília. No resto do país o silêncio é total”. “Ora minha cara Dilma, progenitora arretada do PAC, diga ao povo que voltei e que já pode tocar de novo. Não sabia – fico até emocionado - que o povo sentiria tanto a minha falta”...

“Mas senhor presidente - intercedeu Guido Mantega - o problema é que a crise chegou mais brava do que havíamos prometido e o povo ficou sem o que comer e assim deixou de tocar as vuvuzelas”. “Mas, ministros, vocês não conseguiram convencer o povo de que assoprar as vuvuzelas podia enganar o estomago e a fome? O importante é que o povo se mostre feliz. Comer é só um detalhe, é coisa “dazelites”. Na minha época de sindicalista no ABC quando não tinha comida mandávamos uma cangebrina e tudo bem “...

“Infelizmente, só o senhor poderia convencer o povo disto, mas o senhor não estava. O povo, para não morrer de fome, acabou até mesmo comendo as vuvuzelas”.

“Xi! - exclamou Lula – Então a coisa é braba. Por isso, tô fora, mas volto em 2014. Até lá o povo já esqueceu esse tsunami...


Edson Pinto
Julho’09

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