15 de jul. de 2009

88) O CINQUENTENÁRIO



Dentre todos os artifícios que o ser humano desenvolveu para marcar os períodos importantes da vida, creio que a referência ao número 50 seja uma das mais significativas. Não que, falar de século, 100 anos, ou de milênio, 1000 anos, seja alusão a marcos temporais que não nos mereçam maior apreço. Há, tal como eles, muitas outras divisões de tempo igualmente meritórias:

Na tradição civil e religiosa mundo afora se consolidou a comemoração das bodas, isto é, o aniversário do casamento ou de outro evento dando-lhes nomes para bem marcar a efeméride. Assim, temos para os numerais de 1 a 100 uma representação material para cada ano. De bodas de papel para o primeiro ano de uma união a bodas de jequitibá para comemorar 100 anos. Tudo isso, passando, por exemplo, por bodas de turmalina quando se comemora 16 anos, bodas de seda aos 41 e a bem sugestiva bodas de bronze quando se comemora 51 anos de casamento.

Mas, por que 50 anos, qüinquagésimo ou cinqüentenário passaram - pelo menos ao que a mim me parece – a ser um marco importante? Imagino que, na época em que vivíamos bem menos, esse marco fosse, por razões óbvias, desprezado. Fugia ao nosso limitado horizonte temporal. Poucos viviam para comemorar os próprios 50 anos de vida ou 50 anos de casamento ou 50 anos de carreira profissional ou 50 anos de amizade. A vida se circunscrevia a um tempo de duração bem menor.

Aí veio o progresso das ciências médicas e as melhorias das condições de vida em geral. Uma mulher de 50 não é mais a vovozinha da metade do século passado. Pode ser tão bonita, atraente, cheia de charme e ainda detentora de grande experiência de vida, que - não raro - deixa mancebas púberes a inalar-lhe as poeiras. Se Honoré de Balzac voltasse ao nosso tempo, certamente não mais endeusaria a mulher de 30. Adicionar-lhes-ia uns 20 ou mais anos. Não só ficaria politicamente bem com as mulheres que sabem tudo das coisas e vivem com sabedoria como ainda nada teria a exigir-lhes mais em matéria de sensualidade.

O rei da música pop, Michael Jackson, despede-se prematuramente aos 50 anos e no nosso próprio rei, Roberto Carlos, enche o maracanã para marcar os seus qüinquagésimo ano de carreira musical. Em 50 anos, Roberto Carlos gravou cerca de 50 discos enaltecendo, como ninguém, a força do amor. Michael Jackson vendeu mais de 100 milhões, fez dezenas de cirurgia plásticas, desenvolveu mil esquisitices e, por descuido, fez à beira do abismo da eternidade o seu derradeiro “moonwalk”, aquele passo em que se desliza de costas.

Se você ainda não chegou aos 50 ou se já passou deles reflita sobre o quanto se pode fazer com tal tempo. Para aqueles que, como eu, acham a vida um delicioso festim só se pode desejar-lhe ainda mais longa. Se for o contrário, revise seus critérios de avaliação e, por favor, jamais considere ensaiar o próprio “moonwalk”.

Edson Pinto
Julho’09

Nenhum comentário: