2 de nov. de 2010

143) QUEM VOTA É O BOLSO, SEU ESTÚPIDO!


Ficou famosa a frase de James Carville, assessor de Bill Clinton, quando questionado sobre o mote da campanha Democrata para aquelas eleições do início dos anos 90: “É a economia, estúpido!” Tinha tanta razão, que Clinton elegeu-se e reelegeu-se com base na expectativa dos americanos de recuperação da sua economia, à época, fortemente abalada pelo elevado gasto militar e pelo desequilíbrio fiscal da era Bush, o pai. No Brasil de hoje, algo muito semelhante ocorreu só que para garantir a manutenção do governo petista no poder e não para substituí-lo como no caso de Clinton em relação à Bush. O povão que sabe muito bem o que é ter o bolso vazio desde há muito, respondeu com a essência do mesmo mote e pôs Dilma Rousseff à frente dos destinos da pátria amada.

Não me atreveria dizer que Lula processou conscientemente esse fato histórico tão importante, mas, certamente, intuiu-o e, mesmo sem lançar mão do mesmo slogan, soube tirar proveito da boa fase da economia brasileira e assim fazer a sua sucessão na presidência da republica. Não foi só isso: Há de se dar o devido valor à excepcional fase “Forest Gump” do mais famoso filho de Garanhuns. Tiremos o chapéu para a estrela guia de Lula! Ela o tem colocado no lugar certo, sempre e caprichosamente, na hora certa. Perdeu eleições quando as circunstâncias econômicas recomendavam não se envolver com elas e ganhou quando o céu tornou-se de brigadeiro, azulzinho para o Brasil, mesmo que carrancudo para outros países.

Não tenho igualmente a intenção de colocar aqui e agora em confronto as características de Dilma Rousseff com as de José Serra. Isso já foi feito sobejamente durante a campanha eleitoral. Ele, Serra, dizia: Fui deputado, ministro, prefeito, governador e o escambau. Ela, Dilma, nunca havia se submetido ao teste das urnas. Nasceu e foi criada em Minas; fez peripécias revolucionárias no Rio e em São Paulo; casou-se 2 vezes e lá no Rio Grande do Sul deu início a sua carreira pública como burocrata sem nunca ter disputado uma eleiçãozinha sequer. Mas, mesmo assim, venceu o governador Serra, escolado e tarimbado nas batalhas políticas. Dizem uns, que Serra é fraco nos debates. Outros, que é teimoso e, devido à soberba que lhe parece própria, não soube ou não quis tirar proveito do legado da era FHC, como dos inquestionáveis avanços propiciados pela privatização do sistema Telebrás; da EMBRAER e da Vale do Rio Doce, só para citar alguns exemplos de privatizações muito bem sucedidas. Também, não conseguiu explorar politicamente os escândalos da era Lula. Nem tampouco foi agressivo e enfático o suficiente, sequer, diria, minimamente contundente.

Do outro lado, Dilma também não tem lá toda essa eloqüência que a fizesse muito superior ao Serra nos debates. Ela tropeça no encadeamento de seu discurso. Começa a falar uma coisa e logo vai para outra, tenta retomar e se perde um pouco. Coisas do noviciado em matéria de palanque. Tampouco, tinha uma história política atraente para ser contada. Foi secretária disso, secretária daquilo, ministra, vovó pela primeira vez e um PAC meio enjambrado para servir-lhe de atributos a contrapor-se à propalada competência do governador José Serra. Até mesmo o seu passado burguês, filha de homem abastado, razão mais do que suficiente para opô-la ideologicamente ao discurso populista do petismo, não lhe provocou perdas de votos perante Serra, este de origem humilde, filho de imigrante pobre e que estudou em escola pública. Convenhamos, a história de Serra nesse particular correspondia melhor ao perfil operário de Lula e à ideologia esquerdista do PT do que a de Dilma. Não colou a repetição, à exaustão, da jornada de pobre moço de Serra.

No início da campanha, quando Dilma não passava de um poste a ser ungido por Lula, os números favoráveis à Dilma eram, de fato, de dar dó. Acreditava-se que Lula do alto de seus 80 e tantos pontos de boa avaliação no máximo conseguiria transferir uns 20% de votos para Dilma e nada mais do que isso. Colocados os dados de ambos naquele supercomputador chinês, o mais rápido do mundo, Tianhe-1, com 2.507 trilhões de operações de pontos flutuantes por segundo, podendo atingir 4,7 petaflops no mesmo tempo, a resposta seria: Serra é o melhor e será o nosso presidente!

__ Mas, então, por que mesmo com a oportunidade propiciado por Marina Silva para que José Serra tivesse outra chance no segundo turno isso não deu certo?

Lula já atingira a estratosfera nas asneiras que vinha falando em palanques mil por esse Brasil afora. Da tal de Erenice Guerra não paramos de ouvir sobre as espertezas de seus filhinhos acobertadas por ela, Erenice, e quem sabe, até mesmo pela “tia Dilma” que então buscava votos para o Palácio do Planalto. Toda a corja do mensalão foi ressuscitada para mostrar as impurezas inquestionáveis do modo petista de ser. E nada! Serra não conseguiu tirar os 6 pontos de Dilma que, colocados na sua própria caixinha, lhe daria para matar pelo menos os 12 pontos de diferença que as urnas revelaram neste último dia 31.

“É o bolso que vota, seu estúpido!” Exatamente desta forma veio nos dizer a razão. Novidade? Claro que não! Clinton sabia disso e ganhou de George Bush, mas muito mais gente sabia disso também e desde há muito mais tempo. Fui, por isso, buscar em meus livros antigos a base dessa afirmativa. E não é que encontrei:

Abraham Maslow, psicólogo americano que viveu no século XX, legou-nos o seu famoso estudo da “hierarquia das necessidades” no qual demonstra, de forma cabal, que o ser humano prioriza suas necessidades partindo das fisiológicas, depois, e sempre que a anterior esteja satisfeita, as necessidades de segurança, sociais, estima e finalmente auto-realização. Isso significa que, enquanto alguém não satisfaz suas necessidades por alimentação, abrigo, sono e água, por exemplo, (necessidades básicas, no pé da pirâmide), não almeja coisas como proteção para a saúde, sociabilização, estima e prestígio. Quanto mais larga a base da pirâmide mais necessidades primárias prevalecem sobre o todo.

Está aí meus amigos a matéria prima da Economia: A geração de riqueza a partir de recursos escassos e a sua distribuição para a melhoria de vida da sociedade como um todo. Quando a economia vai mal, a base da pirâmide se alarga. Ao contrário, quando vai bem, ela se estreita e a satisfação das necessidades de ordens superiores passa a ser almejada. Pela teoria de Maslow, o ser humano não está nem aí para a moralidade quando ele sequer tem o que comer. É nesse contexto que a Economia atua de forma tão importante. O bolso vazio simboliza a prevalência das necessidades básicas a serem atendidas. Quando começam a sobrar alguns trocados nesses mesmos bolsos aí o até então “ser inferior” começa a se sentir liberto da ignomínia que caracteriza a miséria. Enquanto não se sente seguro de que tempos bicudos ficaram definitivamente para trás, tenderá a priorizar a manutenção de seus bolsos com algum lastro, por menor que seja.

É, portanto, isso o que vem ocorrendo desde que a economia brasileira começou a ser colocada nos eixos por Itamar Franco. Se a famosa fábula de La Fontaine pudesse ser reescrita, diria que foi Itamar que se dispôs a colocar o guizo no pescoço do gato da inflação. Teve coragem e bom senso para dar-lhe um basta e estabilizar outros fundamentos que passaram a dar sustentação a uma economia saudável. Fernando Henrique Cardoso lançou o Plano Real e Lula, com a estrela guia que só ele tem, sacou que era por aí o caminho a ser seguido para a busca do sucesso. Manteve todos os pilares da economia e contou com a sorte.

O mundo, com raras exceções, foi para o buraco no rastro das trapalhadas da bolha imobiliária da economia americana e o Brasil começou a colher a safra de bons frutos plantados alguns anos antes por Itamar e FHC. Na hora certa e no lugar certo, Lula lança a até então desconhecida Dilma Rousseff como candidata a sua sucessão e, com a artimanha que lhe é inata, relaciona-a ao mar de rosas econômico que seu governo encontrou e soube preservar. O povo – sabia muito bem Clinton como Lula - não quer outra coisa senão cuidar de seu próprio bolso. Mesmo Serra prometendo fazer tudo igualzinho e ainda um pouco melhor, por que o povo iria arriscar na sua escolha? Com uma mão no bolso protegendo os seus poucos mais bem-vindos tostões usou a outra para digitar o “13” na urna eletrônica. Elegeu Dilma...

Democraticamente, devemos aceitar que a maioria de nossa população ainda se encontra na base da pirâmide de Maslow e que suas necessidades básicas começam a ser atendidas. A ser feito, até mesmo por aqueles que se opõem ao lulismo, é contribuir para que a economia continue sólida por um tempo suficientemente longo até quando a maioria de nosso povo venha a ter legitimas aspirações pelas necessidades mais nobres da vida. A partir daí, a ideologia marxista ultrapassada do PT se mostrará incapaz de satisfazer nossos anseios legítimos por maior qualidade de vida.

Que Dilma seja feliz e nos faça igualmente felizes!

Edson Pinto
Novembro’2010

2 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

Passada a eleição do último domingo, está na hora de voltarmos o melhor de nossas atenções para aquilo que o futuro nos reserva. Espero que seja tudo, no mínimo, parecido ao que nos foi exaustivamente prometido durante a campanha eleitoral.

Antes, porém, de entrar na fase em que faremos críticas ao novo governo a se instalar a partir de janeiro do próximo ano, julguei interessante refletir sobre o que levou 56% dos eleitores brasileiros votantes a escolher Dilma Rousseff e não José Serra. No ensaio intitulado QUEM VOTA É O BOLSO, SEU ESTÚPIDO!, reflito sobre a razão que me pareceu preponderante para o fato de termos agora a primeira mulher a comandar o País.

Ao que nos deu parecer em seu primeiro discurso oficial como eleita, acende-nos a esperança de termos uma líder séria e competente à frente do mega transatlântico Brasil a singrar, por ora, mares calmos, mas que não está isento de encontrar, mais à frente, vagas impiedosas e revoltas.

Daqui para frente só torcida para que Dilma Rousseff surpreenda-nos com um bom governo. Que Deus a ilumine!

Edson Pinto

Blog do Edson Pinto disse...

De: André
Para: Edson Pinto

Caro Edson,

O texto desta semana é perfeito. Retrata o que todos nós ja sabiamos, porém acreditavamos que poderia haver uma "virada" nas urnas e dar Serra para Presidente.
O que seria bom enfatizar é que a eleição do sucessor de Lulla foi alinhavado(a) ha 8 anos, quando ele foi eleito Presidente e começou a trabalhar o projeto do PT de "20 anos no poder".
É lamentavel que a oposição não tenha combatido e também procurado trabalhar passo-a-passo para de fato poder concorrer. As picuinhas internas do PSDB envolvendo Serra, Aécio, Sergio Guerra e demais membros acabou enfraquecendo a disputa.
Meu receio é que ao termos uma ex-terrorista no poder tenhamos represálias de toda sorte. Claro que elas serão veladas e feitas, como é habito do PT, na surdina e sem que ninguem perceba.

Abraços

André