5 de fev. de 2011

151) DA NATUREZA DAS COISAS - parte 1

O "Marido", a "Mulher do Marido" e o "Terceiro Alguém" são os três personagens do delicioso conto, “À Beira do Abismo”, de Rudyard Kipling. A encrenca toda se passa na Índia, onde o grande contista, escritor e poeta Inglês nasceu e passou boa parte de sua vida. Lá, então, ele formula a aventura de uma linda mulher faceira, exibida e leviana, verdadeira coquete em pleno exercício do seu insaciável pendor pelas aventuras extramurais. Como o próprio título sugere a peripécia inconseqüente da Mulher do Marido com o Terceiro Alguém termina em abismo real, mas poderia ser também interpretado ainda como um abismo moral.

Há, hoje, certamente, mais do que nos tempos de Kipling, essa categoria de personagens com o perfil da Mulher do Marido. Ora, pois, se há! E as há em tamanha profusão que os Terceiros Alguém não só pululam nos grandes centros urbanos onde em tese Mulheres de Maridos vicejam com mais esplendor, como também nos lugarejos, nos grotões, nos povoados de todas as dimensões mesmo os bem pequeninos. Dá até para se concluir que o tema é da alçada mais das Ciências Exatas, da Genética, do que da fluída Antropologia Social.

Portanto, neste conto que eu conto, acredite se quiser. Posso tê-lo ouvido de alguém como pode ser fruto da minha imaginação. Por que não das duas fontes? Fique livre para conceder algum desconto para desbastar os floreios e amenizar a beleza estonteante da coquete tupiniquim. Afinal, quem conta um conto, aumenta um ponto. E quem inventa um conto, já de principio, passa da conta...

Ela era, de fato, a Mulher do Marido. Ele, trabalhador e família até o pescoço. Não faltavam, por certo, palavras mais generosas à sogra do Marido quando tentava descrever a elegância, a dedicação e o amor de homem bom que a filha já há alguns anos levara ao altar. Era o Marido simplesmente, dispensava sobrenome. Fruto do trabalho árduo feito como escravo em viagens longas pelo interior, deixava quase toda a renda à Mulher sem nunca se esquecer de afetuosa recomendação para que ela não poupasse com os seus caprichos pessoais: Um novo vestido, perfumes e sapato alto. Isto, e tudo o mais, que ele sabia ser a fonte mais elevada de seu prazer, a vaidade, que ele tolerava e, por amor, até incentivava.

continua na semana que vem...

Edson Pinto
Fevereiro’2011

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos:

Caros amigos:

Aprendi nestes últimos 4 anos de publicação do meu blog que os textos curtinhos são os mais apreciados pelo leitor internauta. Passou de 30 linhas e o nível de desistência pela sua leitura se acelera exponencialmente. Isto explica o recente sucesso do Twitter. São, no máximo, 140 caracteres. Para o bem ou para o mal, parece ser este o tamanho da paciência do leitor cibernético. Para quem gosta de escrever, contudo, soa frustrante ter que comprimir uma idea como uma prensa industrial faz com a matéria-prima que processa. Vivemos tempos de altíssima velocidade. Paciência!

Nesta semana, começo a publicar um conto um tanto maledicente e vou experimentar fazê-lo em três pequenos capítulos, cada qual com um pouco mais de 30 linhas de uma folha A4. Assim, fico, nessa questão da linguagem cibernética, um pouco mais moderno, mas ainda longe do padrão Twitter. Nas duas próximas semanas publico as partes restantes, prometo. Dei ao conto o título de DA NATUREZA DAS COISAS. Pega um carona nos nomes de três personagens de um conto de Rudyard Kipling, mas aplica-se à uma história bem tupiniquim. Espero que gostem.

Boa semana a todos!

Edson Pinto