12 de fev. de 2011

152) DA NATUREZA DAS COISAS - parte 2

... continuação
O Terceiro Alguém do momento era um jovem recém chegado ao lugarejo. Não era lá grandes coisas em termos de beleza, mas era a novidade do local. O jovem engenheiro da mina calçava botas cano longo, usava óculos escuros e calça jeans. Todas as solteiras do lugar o queriam, é óbvio, mas a Mulher do Marido, embora mais velha que o mancebo, por instinto puro pôs-se a despertar-lhe a admiração. Com o dinheiro do Marido, refez-se o visual e dispensou o Terceiro Alguém anterior para embarcar numa nova e excitante aventura. Dizem que o grande barato da Mulher do Marido não era necessariamente e tão somente o deleite puro de uma aventura carnal na expressão mais pura do termo, nem mesmo o desfrute de uma companhia a lhe preencher o vazio d’alma ou a ânsia que despertava seus mais recônditos instintos. No fundo o que lhe aprazia em abundância era o risco da aventura.

Se pudesse – dizia às amigas – pularia de pára-quedas, nadaria em rio de piranhas, montaria cavalo bravo e sairia seminua em Escola de Samba, lá do Rio de Janeiro só para se exibir. Desde pequena gostava de se colocar no centro das atenções. Dançava, cantava e acontecia. Foi rainha da primavera, a musa da escola, cantou no coral da Igreja, recitou poesia na festa de final de ano e namorou o quanto pôde. Até que o Marido se fez presente e a vida lhe indicou que seus sonhos mais ousados só haveria de se concretizar dentro de sua mente, enquanto cuidasse de filhos e protegida pelo Marido de quem ouviu juras de amor eterno.

Mas vá saber como a razão lida com essas coisas de instinto. Eu mesmo não saberia dizer de como a Mulher do Marido poderia ter virado uma chavinha em sua alma para deixar de ser a exibida que sempre foi para então se tornar em uma comportada dona de casa, esposa fiel e mãe exemplar. Creio, no fundo, não ser possível mexer com essas coisas inatas. Nasceu assim, há, portanto, de continuar assim. Disto mesmo, a Mulher do Marido se convenceu depois de confabular noites adentro com seu travesseiro em infindas madrugadas solitárias. A essência de sua alma era o que era e nada mais. Estabeleceu-se, desta forma, sua irrevogável decisão de ter sempre um Terceiro Alguém que pudesse lhe suportar o instinto já cristalizado.

continua na semana que vem...


Edson Pinto
Fevereiro'2011

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos


Caros amigos:

Conforme prometido na semana passada, vai aqui a parte 2 do meu conto DA NATUREZA DAS COISAS. Na semana que vem completo-o, certamente

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto