6 de ago. de 2011

175) ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA










O mundo animal é pródigo em exemplos de estratégias que são adotadas pelas várias espécies face ao repleto cardápio de infortúnios que a vida lhes apresenta. As despreparadas para o enfrentamento das mutantes adversidades do meio ambiente tendem a desaparecer. Há, como todos sabem, inúmeras espécies que já sucumbiram ou que caminham celeremente para a sua extinção. Não vem ao caso citá-las aqui, pois a crítica é curta e se assenta exclusivamente sobre uma espécie bem identificada, conforme citarei mais adiante nesta minha crônica.

Há, contudo, espécies que adotam a mais singular das estratégias para que não sejam extintas. Enquanto muitas outras lutam contra seus predadores, mimetizam, se escondem, inoculam veneno nos inimigos, atacam ou hibernam, há as que simplesmente optam pela rápida reprodução e em quantidade. Assim, aceitam que muitos de seus membros serão eliminados precocemente na batalha da vida, mas mesmo assim sempre existirão outros para substituí-los e desta forma garantir a sobrevivência da espécie.

Além da voracidade e do modo assemelhado de agir para a apropriação do que pertence aos outros, e mais ainda por essa estratégia da vasta reprodução, é que o rato simboliza tão bem a figura dos corruptos que assaltam o erário público, tal como fazem os seus homólogos ao devorarem o estoque de grãos do celeiro. Um ladrão, um corrupto e um rato são, na essência, a mesma coisa.

Em algumas espécies de roedores, as fêmeas ficam prontas para a reprodução com apenas seis semanas de vida e chegam a gerar até setenta filhotes ao longo de um único ano. Quando em algumas situações especificas não são combatidas, a população cresce de forma assustadora. Fosse a falta de predadores - hipoteticamente - um padrão de muito longo prazo, provavelmente esse roedor repensaria sua estratégia de sobrevivência e começaria a reduzir o incômodo e exagerado tamanho da prole. Também podemos especular sobre o contrário: dado um padrão de maior predação, maior seria o tamanho da prole. Mera conjetura sem base científica, porém verossímil!

Com os corruptos do Brasil parece que este segundo movimento está permanentemente em curso. Quanto mais se descobre e mais se tenta eliminar os corruptos, mais eles se reproduzem. Com toda a certeza, essa espécie social é regida por alguma inteligência genética que orienta o seu instinto de sobrevivência. Como está se tornando difícil mimetizar, se esconder, inocular veneno no inimigo, atacar ou mesmo hibernar só lhe resta a estratégia da acelerada e abundante reprodução.

Vejam o que nos demonstram os incontáveis casos de corrupção que têm sido detectados nos últimos anos. Fiquemos apenas nos mais recentes para não congestionar a nossa pobre memória que não tem espaço para tantos registros nesta área de preocupações: caso Celso Daniel, caso Roseana Sarney, escândalo dos bingos do Waldomiro Diniz, escândalo dos Correios do Mauricio Marinho, Mensalão, escândalo das ambulâncias, Renangate, escândalo dos cartões corporativos, operação Boi Barrica do filho do Sarney, mutretas da Erenice Guerra, lodaçal do DNIT. Ufa! E veja que são apenas 11 casos que pincei de uma lista de quase 70 registrados desde o ano 2000.

Em matéria de corrupção e de escândalos, parece não haver remédio que elimine o mal. A metástase é evidente... Não há desinfetante, por mais poderoso que seja, capaz de curar essa ferida escancaradamente aberta. No tal do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) começou com um, mas rapidamente chegou-se a quase trinta e serão muitos mais se a desinfecção puder progredir. E mesmo quando terminar, porque na vida tudo tem que terminar um dia, ainda ficarão outros exemplares de roedores que voltarão a saquear o celeiro ao mesmo tempo em que se reproduzirão de forma acelerada.

No dizer simples do velho sambista Bezerra da Silva, a síntese de toda essa problemática que torna a nossa democracia uma ficção, uma solução imperfeita, uma utopia para manter os espíritos crédulos ainda vivos:

Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão...”

Edson Pinto

Agosto’ 2011



3 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos


Caros amigos:

Vocês acham que já pegaram todos os ratos dos DNIT’s da nossa “Res publica”?

Eu tenho certeza que não e especulo sobre o porquê desta desilusão na crônica de hoje:

ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto

Blog do Edson Pinto disse...

De: Ibrahim
Para: Edson Pinto

Edson você é admirável.Conseguiu sintetizar tudo nesta crônica.

Parabéns meu caro amigo.

Abraços calorosos “para matar o frio”.

Ibrahim

Carlos Tobias de Paiva disse...

Meu caro Edson,
Realmente a corrupção já ultrapassou todos os limites da tolerância. E humanamente impossível conviver com este descalabro. Hoje o que eu fico questionando é como acabar com estes malfeitores. Ações de não votar, não apoiar, denunciar e muitas outras mais não funcionam porque os corruptos estão enraizados em todos os locais. Eles agem corporativamente e não estão nem um pouco preocupados com a opinião publica. Outro dia ouvi um comentário da Band News quando o Ricardo Boechat fez a seguinte reflexão: Da mesma forma que quando um jogador perde um pênalti ou um time perde um campeonato, muitas das vezes os torcedores destroem campos de futebol, faz pressão em cima dos jogadores e técnicos, quebram carro dos atletas, enfim reagem com tanta raiva e violência que às vezes chegam a nos apavorar. Mas eu acho que infelizmente nós temos que nos preparar para isto e assim agir com os corruptos de todo nosso país.
Um grande abraço,
Carlos Tobias de Paiva