9 de set. de 2011

179) PODAS NECESSÁRIAS

Não precisa ser um competente jardineiro para saber que após a poda dos galhos secos, dos excessivos ou dos contaminados pelas pragas, as árvores ressurgem fortes e viçosas para o encanto de todos e júbilo do Criador.

Estamos cheios de galhos inúteis que nos impedem o aperfeiçoamento contínuo dos inatos ou adquiridos fundamentos psicológicos, mentais e espirituais que suportam o nosso caminhar pela vida. Poder-se-ia dizer que somos como árvores sem jardineiros e que compete, em grande parte e a cada um de nós, a jardinagem da própria vida. Isto se faz através da autoconsciência facultada pelo dom divino do livre-arbítrio.

Se tivermos paciência para uma pequena reflexão, conseguiremos facilmente listar algumas dezenas de deficiências que, infelizmente, identificamos mais nos outros do que em nós mesmos. Quem, contudo, consegue percebê-las dentro de si naturalmente apresenta a maior probabilidade de sucesso no seu combate substituindo-as pelos seus antídotos de virtudes:

À vaidade deveríamos opor com a prática da modéstia. O egoísmo haveria de ser confrontado com o desprendimento. A intolerância pugnada com a prática exaustiva da tolerância. À petulância combater-se-ia com a cordura. A indolência com a autodeterminação. A timidez com a resolução. A soberba com a humildade, a presunção com a modéstia, o intrometimento com a circunspecção, a aspereza com a afabilidade, a brusquidão com a suavidade, o rancor com a bondade e a veemência com a serenidade.

E para não cometer o erro da prática de outra deficiência, a verborragia, a ser combatida com a concisão, cito apenas mais uma de tantas outras que comporiam esta lista, a hipocrisia, cujo antídoto é a veracidade. É sobre esta deficiência que me toca o ânimo para brevemente discorrer nesta crônica hebdomática:

A hipocrisia define o caráter de quem se conduz na vida com o mau propósito de esconder a sua verdadeira face. Seus atos têm aparência falsa, pois atua de maneira diversa ao que sente e pensa, não é sincero. Normalmente envolve os de boa-fé enganando-os para lograr com seus intentos escusos. O hipócrita convicto fica tão controlado por esta deficiência que dificilmente saberia agir de outra forma e acredita piamente que está correto em suas atitudes embusteiras. Se há algo que lhes aplaca a maldade é o fato de serem sinceramente insinceros. Alguns são hipócritas por conveniência momentânea e podem, mais adiante, abandonar a sua prática. Outros são convictos e não percebem o mal que fazem aos outros. Com sinceridade acreditam agir de forma correta...

Exemplos de hipocrisias explícitas são encontrados a todo o momento e em todos os lugares. Há hipocrisias nos relacionamentos amorosos, nas relações de negócios, nos vínculos sociais, nas adesões religiosas e em tudo o que se possa imaginar. O mundo seria obviamente melhor sem elas, porém ilusório contar com o seu fim. Mas, se há um campo da vida social em que a hipocrisia se faz muitíssimo presente, ninguém erraria se dissesse ser a política.

Valha-nos Deus o quanto de hipocrisia forma os galhos inúteis da árvore da política! A deputada que, filmada embolsando o dinheiro escuso que a fez vencedora na eleição, não tem o seu mandato cassado pelos seus pares hipócritas. Por quê? No voto secreto demonstraram o quanto eles próprios se encontram envolvidos em embustes semelhantes e que por conveniência seria melhor evitar essa via de combate à hipocrisia que, com certeza, os colheria mais à frente.

Os mesmos políticos que fingem nunca terem visto isto ou aquilo de errado apenas para enganar seus eleitores com a falsa imagem de honestos. A Situação que já foi Oposição agora defende exatamente o que antes combatia. Quem amaldiçoou o Plano Real e dele fez a razão de seu sucesso em oito anos de governo e mesmo assim descarada e hipocritamente rotulou o legado do antecessor como “herança maldita”, o fez de forma hipócrita simplesmente porque sabe que a massa ignara acredita na sua soberba. Esta, a propósito, é outra deficiência das mais horrorosas que domina certos espíritos do mal.

É ilusório - convenhamos - imaginar o ser humano livre de todos os galhos malsãos que carrega pela vida, mas, no caso de uma poda, mesmo que parcial, ao menos, teríamos árvores mais viçosas no jardim de nossas vidas.


Edson Pinto

Setembro’ 2011

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos


Caros amigos:

Semana passada nada publiquei no meu blog. Dei-me ao prazer de uma breve viagem à Vitória, ES, para festejar o casamento de uma sobrinha querida e ao mesmo tempo rever toda a família ali presente. São eventos como este que tornam a vida uma aventura prazerosa e compensadora...

Publico nesta semana uma crônica sobre as deficiências morais, psicológicas e espirituais desta que é considerada a “espécie privilegiada” pelo Criador.

Prometo mais adiante falar especificamente de outras, mas, nesta semana, enfatizo a hipocrisia como um dos galhos inúteis que deveríamos extirpar das nossas vidas, especialmente das relações políticas tão necessárias para a nossa curta trajetória terrena.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto