Não faz meu
gênero recorrer ao saudosismo para subsidiar pontos de vista pessoais. Sei que
não é fácil, mas pratico um esforço consciente para adaptar-me aos novos tempos,
às circunstâncias do momento e também à realidade. A vida é como uma corrida de obstáculos que devem
ser superados para se chegar bem ao final.
Muitos, como eu,
são do tempo em que a escola pública, além de ser a principal opção para a
formação educacional, era também a que apresentava a melhor qualidade de
ensino. Adentrávamos a ela aos sete anos de idade e isso não significava atraso
de vida. Boa parte da intelectualidade brasileira fez-se nesse padrão. Não me consta
que Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Castro Alves, José de Alencar
e outros tantos de áreas variadas do conhecimento humano precisaram de
Maternal, de Jardim de Infância e de outras facilidades para se tornarem os
grandes intelectuais que foram em vida. Ao final do primeiro ano da escola, já
se dava boa conta das letras e dos números. Hoje, – até pelas circunstâncias da
vida moderna – nossos bebês já vão para as creches, para os ciclos infantis e para
a pré-escola. Nada contra! Os tempos são outros. Os pais trabalham fora de casa
e assim há de se ter alguém para cuidar dos rebentos. Se isso é bom ou não,
confesso-me incompetente aqui para opinar de forma colaborativa.
O que guardo na
mente é que saíamos de casa com nossas lancheiras (na minha terra chamava-se
merendeiras) preparadas pela mãe. As escolas davam professores competentes e
ambientes adequados para o ensino. A questão da alimentação, porém, era
assumida pelos pais. Havia certo
consenso de que cada um fazia a sua parte: pagamos impostos que serviam para
custear as escolas; os professores ensinavam; e os pais, além de acompanhar o
desenvolvimento dos filhos, também os alimentavam. A eventual compra de nova
lancheira era o ponto alto da temporada preparatória para o retorno às aulas. Ali,
seria colocado o lanche preparado com carinho pela mamãe. Mesmo para os mais
pobres havia sempre uma maneira de se garantir a alimentação básica na própria
escola. Em ambientes de pobreza, isso sim era e ainda é uma obrigação do governo,
pois não se obtém sucesso no ensino deixando crianças de barriga vazia.
Passou o tempo
e ficamos mais e mais dependentes do Leviatã. Um segmento considerável da
população tomou gosto pelo populismo de governantes recentes. Se não tem casa, há um organismo ao qual se
recorrer, o MTST. O governo tem planos mirabolantes para construir casas e
entregá-las a custos subsidiados. Não tem terra? Há o MST que vai dar uma gleba
que você usará ou não. Pode até vendê-la, pois não há controle efetivo sobre
isso. Quer estudar no exterior, legal! O governo vai colocar nossos jovens no
programa Ciências sem Fronteiras. Vão passar uns tempos em um país do primeiro
mundo e depois, voltam, ou não, para aplicar seus conhecimentos. Também não tem
controle rígido sobre isso.
Quer fazer uma
peça de teatro, um filme, uma turnê de shows, lançar um DVD? Isso não é
problema. Tem a Lei Rouanet que dá um jeitinho ao jorrar milhões na sua
produção através de mecanismos de renúncia na arrecadação do Imposto de Renda.
Continua pobrezinho e não é bem chegado ao trabalho? Também não é problema. Que
tal um Bolsa Família, um Minha Casa Minha Vida, um Minha Casa Melhor para
comprar móveis e eletrodomésticos? Não conseguiu entrar na Faculdade Pública
que somente em poucos países, como no Brasil, é de graça? Não se preocupe, pois
o tal o PROUNI financiará, a juros subsidiados, os seus estudos, tanto faz se
você realmente precisa dessa ajuda ou se você é rico, porém bem apadrinhado?
Embora pudesse
listar bem mais benesses populistas que objetivam a conquista de votos nas
eleições, ficarei com apenas mais uma: Quer uma escola grátis para a sua
formação técnico/profissional? O ente
estadual abre suas portas sem quaisquer custos para uma ETEC. Legal? Agora você
estuda de graça, tem certamente maior chance de adentrar ao mercado de
trabalho, mas se recusa a ir às aulas porque a escola não dá a refeição na
qualidade que você exige. Aí você se junta à meia dúzia de filhinhos de papai
invade escolas, o poder legislativo e bate o pé: Sem comida, nada feito, não
estudo! É claro que se a razão do movimento for a sabida malversação das verbas
públicas (cancro da nossa atual realidade), tudo bem, o protesto não é só
válido como até mesmo oportuno. Mas, – perdoem-me os amigos – o meu enfoque
neste texto é sobre aspecto mais transcendente da mesma questão. Falo de
ensinar a pescar ou dar o peixe, entende?
Vejam como a
coisa funciona: O governo, para não perder esses votos faz mais essa e outras
tantas concessões que se lhe pedirem. Para isso, aumenta os impostos. Aquele
outro segmento da sociedade que sustenta o paraíso vai se enervando, enervando
até que ocorre uma ruptura, mesmo porque, fazer cortesia com o chapéu dos
outros é algo que um dia acaba. E isso não é o pior. Para mim, o que mais
incomoda é o fato de estarmos construindo uma nação com um significativo
segmento de pidões; uma nação de acomodados que acham que tudo tem que vir do
governo. Nunca percebem que o governo não tem dinheiro próprio, não gera
riqueza, e sim que o dinheiro que ele distribui, e geralmente distribui mal,
vem dos impostos que tira em volume abusivamente crescente da sociedade.
Respeitada as
devidas proporção e condicionalidade, é como se os pais criassem mal seus
filhos não lhes dando desafios e sacrifícios ao oferecer-lhes, de graça e
prontamente, tudo o que querem na vida. Filhos assim criados não gostam de
trabalhar, odeiam receber “nãos” e sempre acham que deve existir alguém para
atender-lhes os desejos. Só se constrói uma sociedade verdadeiramente justa
quando os seus membros têm consciência de que é necessário dar o que têm de
melhor, incluindo trabalho, criatividade, empenho e seriedade. Aos que, por
razões justas e humanitárias, não são capazes de - temporária ou mesmo
definitivamente - contribuírem, aí, sim, a sociedade, via seu governo e/ou
ações não governamentais, há de criar os mecanismos necessários ao nobre ato da
solidariedade. Essa ideia de ganhar tudo do governo é comunismo e, conforme
amplamente provado, não funcionou, não funciona e jamais funcionará...
Edson
Pinto
Maio’2016
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Se você, como eu, é daqueles que prestigia as conquistas sólidas que a sociedade produz com enorme e lento esforço e que ao mesmo tempo tem a preocupação de que elas podem ser facilmente ignoradas e destruídas pelas ações irresponsáveis de progressistas revolucionários, então podemos orgulhosamente nos rotular de Conservadores. No bom sentido social, é claro...
Refleti sobre isso analisando o caráter ainda dominante do pensamento político dos governos populistas que ditaram nosso modo de vida nos últimos anos e escrevi este texto SEGMENTO MAL-ACOSTUMADO.
Edson Pinto
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