15 de abr. de 2011

161) HÁ BENS QUE VÊM PARA O MAL




Todos já ouvimos falar do contrário: Há males que vêm para o bem! Quando assim nos expressamos, é por termos constatado que certos acontecimentos em nossas vidas, embora ruins, podem significar um sofrimento no instante presente, mas têm o potencial de nos propiciar ganhos compensadores mais à frente. Diz-se, por exemplo: Fulano teve que perder o emprego devido a sua arrogância e dificuldade de relacionamento com os seus pares para aprender que respeitar os semelhantes e saber interagir proativamente era importante para a sua carreira profissional. Hoje, ele é o presidente da uma grande empresa e é considerado uma pessoa dinâmica e respeitosa. Por isso, cabe aqui perfeitamente a expressão “há males que vem para o bem” O mal de ter sofrido a experiência da demissão o tornou uma pessoa melhor. Derivam, ou se aproximam dessa máxima, outras igualmente bem populares, como “Deus escreve certo por linhas tortas” e “Aos astros por caminhos ásperos”.

Na crônica de hoje, me atrevo a provocar os meus poucos, porém fiéis leitores a refletirem sobre o reverso dessa assertiva. Há bens que vem para o mal! É o que proponho para pensarem a respeito. Por que não? Vejam três simples exemplos com os quais nos deparamos ou temos potencial de deparar no dia a dia:

Telefone celular: Há vinte e poucos anos ninguém tinha um e, portanto, ninguém sentia a sua falta. Fizeram os primeiros trambolhões, teclas grandes bem visíveis, operação muito simples. Bastava digitar os números do telefone a ser chamado, aguardar o atendimento e começar a falar. Simples, assim, desde que Alexander Graham Bell na Exposição Industrial de Filadélfia, em 1876, contou com a ajuda do nosso Imperador D. Pedro II que, também como jurado, propôs aos demais membros da comissão julgadora que experimentasse aquele invento que não tinha ainda despertado o interesse da comunidade científica ali presente. Mas, veja o que a modernidade nos trouxe: reduziram o tamanho dos aparelhos; incluíram agenda, caixa postal, mensagens de texto; puseram a Internet no aparelhinho cada vez menor e para desgraça suprema inventaram o “touch screen”, essa tecnologia que nos permite simplesmente tocar na tela para a geringonça nos fazer tudo sem que precisemos apertar botões. Lindo, estado da arte. É o que há - pelo menos por ora - de mais moderno, avançado e tecnologicamente inovador. Veio pra o bem? Não, pelo menos para mim.

__ Alô Edson, vejo aqui que você ligou para mim três vezes estou aqui no interior. Fiquei preocupado! Algum problema?

__ Desculpe-me, amigo, não quis ligar para você. É o maldito deste meu celular que só de um toque casual e involuntário dispara ligações.

Hoje pego no meu celular como se estivesse pegando uma taça de cristal Bohemia. Morro de medo de disparar uma ligação indesejável. As conseqüências podem vir na forma de “bens que vem para o mal” Pena, penso, que já não se vendem mais aqueles primeiros modelos da Motorola que parrecia o tampo de um vaso sanitário, o Star TAC. Já era pequeno o suficiente para justificar-se na categoria de telefone móvel, mas só funcionava se apertássemos conscientemente as suas teclas. Fazia ligações seguras e isto era o que interessava.

Creme Dental: Pegava-se o tubo em uma mão e a escova de dentes na outra. Uma pressãzinho leve no tubo e a pasta passava na quantidade desejada para as cerdas da escova. Modernizaram o sistema. Agora tem um módulo interno na saída do tubo que libera na forma de desenhos geométricos coloridos substancias que pressupostamente claream, combatem as cáries, liberam flúor, evitam a gengivite e incrementam o nosso sex appeal. Além disso, trocaram as antigas carcaças de alumínio por carcaças de plástico retrátil. Juro, meus amigos, que tenho a maior dificuldade em tirar a pasta do tubo usando somente uma das mãos, porque ela não sai na exata medida e momento em que eu o aperto. Hoje, coloco a escova equilibrando-se na extremidade do lavatório e como as duas mãos aperto e esfrego da cauda para o topo o tubo torcendo para que lá dentro ainda tenha alguma coisa. Neste caso, também, o bem veio para o mal, disso não tenho dúvidas.

Equipamento de Som: Quantos botões! Que maravilha! Aperto todos e não consigo fazer o CD que coloquei na gaveta 23 ser lido pelo player. Cutuco todos os botões novamente para ver se a maravilhosa máquina de produzir sons cristalinos me trás a alegria de ouvir um remake em CD de Elis Regina. Saudades do meu toca-discos que bastava colocar o vinil no eixo central e depositar lentamente a agulha. Era simples, mas funcionava. De que adianta tantos botões e tanta tecnologia se na hora H não nos dão aquilo que queremos.

Eu poderia citar uma infinidade de outros exemplos de situações em que o bem vem para o mal, tal qual sugere o título desta minha crônica, mas, por escassez de tempo, prefiro parar a esta altura do discurso saudosista.

Além disso, esta minha versão Ultimate do Windows 7 trás tantas novidades em múltiplos novos botões que tenho a impressão de me encontrar dentro do estoque de aviamentos de uma grande confecção de camisas. Já estou sentido saudades do XP. Logo dele que todos os amantes da informática sabem não haver razões justificáveis para se ter saudades.

Edson Pinto

Abril’2011












Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

Volto nesta semana com uma crônica do cotidiano.

Em passado não muito distante, a tecnologia chegava para tornar mais fáceis tarefas que já fazíamos de outro modo.

Normalmente, davam-nos o mesmo, só que de uma maneira mais rápida e eficiente.

Uma vez esgotada essa fase de tornar apenas melhores as mesmas coisas que já fazíamos, as novas tecnologias começam a nos impor soluções para problemas que decididamente não temos. Martelam, martelam, martelam até que passamos a considerá-las como tendo algum sentido. Mas, chegar até lá, dói. E como dói...

Bom fim de semana a todos!

Edson Pinto